A sociedade vive uma época conturbada durante o segundo turno das eleições presidenciais. Os reflexos existentes da antiga política, a incerteza e o medo do que pode vir a acontecer, a indecisão, as escolhas, tudo isso se faz presente no atual cenário político, gerando confusão, desentendimentos e brigas com conhecidos, amigos e familiares. São tempos de ódio e a psicologia classifica esse sentimento como um tipo que traz problemas psicossociais consideráveis.
Por que odiamos? Os motivos são complexos, mas a psicologia afirma que o ódio é uma emoção autodestrutiva, pois a pessoa pode sentir essa emoção através de irritação ou fúria causada por alguma indignação ou de sentir seus direitos violados diante de uma injustiça, por exemplo.
Acontece que o problema maior é quando o ódio é usado como uma defesa para o medo ou algo que a pessoa tenha feito de errado. Nesses casos, quando a indignação já não tem o objetivo de reagir diante de uma injustiça, torna-se uma simples manifestação de nossas crenças centrais, que demonstra a incapacidade de controlar e gerenciar adequadamente nossas emoções, conforme explica a psicóloga Carolini Monte Cavallini.
De acordo com a especialista, entender o que estimula tal emoção e quais são as nossas limitações, contribui para trabalhar a melhor maneira de lidar com os efeitos do ódio. “Dificilmente a pessoa que está vivenciando o ódio consegue discernir suas decisões de forma clara e coesa, pois age com impulsividade. Por isso é importante pensar antes de tomar qualquer atitude e avaliar as consequências delas”.
ACEITAR DIFERENÇAS
O que faz com que pessoas sintam o ódio é singular para cada indivíduo, no entanto, existem aqueles que usam do ódio como uma defesa para aquilo que possa ser diferente, pois consideram como uma ameaça à sua existência. “É importante ter consciência de que cada indivíduo possui características positivas e negativas. Por isso, aprender a respeitar as diferenças entre as pessoas é fundamental para um convívio saudável”, observa a psicóloga.
Segundo ela, as coisas que as pessoas odeiam sobre os outros não necessariamente são coisas que temem dentro de si mesmas. “Cada indivíduo possui crenças e pensamentos que influenciam naquilo que sente e como se comporta. Dessa forma, alguns pensamentos e crenças podem estar relacionados ao ódio no processo de identificação de sua própria personalidade, como por exemplo, a baixa autoestima, a insegurança, a imaturidade emocional, o egoísmo, a impaciência, a falta de tolerância ou a frustração”.
Sendo assim, atrás de uma pessoa excessiva e descontrolada, está sempre um indivíduo imaturo e imprudente e, para enfrentar tal sentimento de forma disfuncional, a pessoa se utiliza da indignação, da fúria e da violência destrutiva. A falta de habilidade para entender e refletir sobre as próprias emoções é um fator que impede muitas pessoas de se relacionar de maneira saudável. Por isso, é importante desenvolver a inteligência emocional de modo a compreender sua história de vida e começar a se relacionar da melhor maneira possível.
“Diante de todo esse extremismo político, a melhor maneira para lidar com o ódio das pessoas é não deixar que ela o ataque quando quiser, não desperdiçar o tempo contradizendo-a e, caso a situação fique fora do controle, pare, saia dela e faça uma reflexão conjunta quando tudo estiver mais calmo, principalmente para entender e respeitar as opiniões divergentes das suas”, norteia a psicóloga Carolini Monte Cavallini.
CASOS MOVIDOS POR DESEQUILÍBRIO EMOCIONAL
Um exemplo dos casos relacionados ao sentimento de ódio gerado durante o período eleitoral é o do barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana. Ele foi acusado, na dia 18 de outubro, de matar a facadas, o capoeirista Romualdo Rosário da Costa. A denúncia aponta que Santana atingiu Romualdo da Costa com 13 facadas por todo o corpo, após uma discussão sobre a eleição para presidente da República.
Outro exemplo, é o de uma jovem de 19 anos, moradora de Porto Alegre. Logo após o primeiro turno das eleições, a jovem registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil por lesão corporal, numa noite de segunda-feira, dia 8 de outubro. Segundo o relato feito aos policiais, ela teria sido abordada por três homens e agredida por possuir adesivos LGBT colados na mochila. Segundo a versão da jovem, após diversas ofensas e ameaças, um trio a rendeu e marcou seu corpo com o símbolo nazista.
Contudo, nesta quinta-feira (24), um laudo técnico da Polícia Civil conclui que os cortes eram “autolesão e a Polícia indiciará a jovem por falsa comunicação de crime.
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