Saúde

Em isolamento, idosos recorrem à tecnologia para diminuir a saudade e manter o equilíbrio emocional

Por meio de videochamadas e conversas em grupo, essas pessoas buscam encurtar a distância

Foto: TV Vitória
O casal Dorvil e Mariquinha Oliosa já estão há mais de um mês sem sair de casa, em Cariacica

A pandemia do novo coronavírus tem sido ainda mais difícil para os idosos, que estão no grupo de risco de ter mais complicações no caso de serem infectados com a covid-19. A maioria dessas pessoas com idade mais avançada precisou cortar o contato físico com netos, familiares e amigos. No entanto, a tecnologia, nessa nova rotina, tem ajudado a manter o equilíbrio emocional.

Um exemplo disso ocorre com a dona de casa Mariquinha Oliosa e com o marido dela, o aposentado Dorvil Oliosa. Eles moram em Campo Grande, no município de Cariacica, e há mais de um mês não saem de casa. “Dá saudade de sair e encontrar com os amigos, mas aí a gente só faz pelo vídeo”, disse dona Mariquinha à equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV.

Para garantir que os dois cumpram mesmo o isolamento social, a filha mais nova do casal, a socióloga Nina Oliosa, deixou a própria casa, em Vitória, para passar os dias cuidando dos pais, de 81 e 86 anos.

“Desde meados de março, quando eu passei a trabalhar em casa, eu tive essa disponibilidade também de estar com eles, preocupada com a proteção deles. Então eu estou aqui direto. Meu marido às vezes vem, mas ele também é super preocupado com isso. Então ele, se vai a um supermercado, faz uns 14 dias em casa de quarentena e aí depois a gente se vê”, contou.

Seu Dorvil agora passa o tempo preenchendo figuras do livro de colorir, enquanto dona Mariquinha capricha nas roupinhas que está costurando para os bisnetos, de quem fala com muito carinho. Ela conta que a saudade é grande.

“Às vezes eles passam ali embaixo e falam: ‘ei bisa’! Eu falo ‘e aí, tudo bem’? O pequenininho faz assim: ‘vou te dar um abraço, bisa’! É difícil, mas tem que levar né, fazer o que? Falei com ele: ‘olha aqui a camisinha que a bisa fez para você’. ‘Linda bisa! Depois eu vou aí buscar’, ele falou”, contou a dona de casa. “Ah, eu não me conformo de ficar dentro de casa não”, emendou o aposentado.

Os dois idosos não têm recebido mais visitas dos familiares e, para encurtar a distância, dona Mariquinha aprendeu a fazer chamadas de vídeo pelo celular. “É a forma de comunicar mais próxima possível, sem nenhum prejuízo para a saúde deles, mantendo um distanciamento social, que é tão importante neste momento. Então a gente não deixa o contato se perder, o carinho não deixa de ser passado, mesmo por videochamada”, contou a neta do casal, Carleandra Oliosa, que estava em uma chamada de vídeo com os avós.

“O digital é importante, especialmente neste período, para manter essa integração com as pessoas, o relacionamento, enfim. E acho que serve também para amenizar um pouco o coração, no sentido de que eles veem que a outra pessoa está bem”, acrescentou Nina.

Equilíbrio emocional

A psicóloga Letícia Santana destaca que ter com quem compartilhar as angústias, nesse período, é importante para o equilíbrio emocional dos idosos. Melhor ainda se der pra ver o rosto do outro durante as conversas.

“O ver, mesmo que seja pela tela, também traz um aconchego, traz uma alegria. Ele sabe o que está acontecendo, ele acompanha as informações. Então é muito bom que ele tenha alguém para dividir essas ideias, poder dividir as angústias, poder dividir as tristezas, as saudades. Isso vai fazer muito bem para a sua saúde emocional”, afirmou a psicóloga.

Manter o contato com familiares e amigos não só ajuda a espantar a solidão e a tristeza que o isolamento pode provocar, como, de acordo com especialistas, é também positivo para a saúde física dos idosos.

“O idoso está isolado, mas não quer dizer que ele tenha que estar solitário. Então fazer reuniões familiares pelo WhatsApp, participar dos grupos, que seja chamadas de vídeo. Você pode chamar mais do que uma pessoa no mesmo vídeo, mesmo à distância, em cidades diferentes. É importante que ele tenha esse contato, que ele se sinta amado, mesmo com o distanciamento”, ressaltou a médica geriatra Waleska Binda.

Quem também tem se valido da tecnologia para encurtar a distância com os entes queridos é a costureira Luzia Tesch Dummer, de 73 anos, que mora sozinha em uma casa do bairro Rosa da Penha, em Cariacica. Ela tem hipertensão e diabetes, e sabe que precisa manter os cuidados durante a quarentena. Ela conta que regularmente repete, na varanda de casa, os exercícios que fazia nas aulas de pilates, e também cuida das plantas no jardim.

Mesmo morando sozinha, ela conta que não se sente solitária, pois, por meio do celular, ela se comunica com as pessoas queridas e mata a saudade. “É uma forma da gente poder ter um contato mais próximo sem ter esse contato físico, que às vezes é meio complicado nessa situação de pandemia”, frisou Lucas Dummer, neto da idosa, por videochamada.

“Estamos perto, porque hoje tem a tecnologia que faz a gente estar junto, perto, olhando, fazendo chamada de vídeo. Isso está acontecendo aqui na nossa casa também, ela com a minha irmã, que está no Rio de Janeiro”, contou uma das filhas da costureira, a contadora Ana Lúcia Dummer Serpa.

Especialistas afirmam ainda que dedicar muito tempo em busca de informações sobre o novo coronavírus não faz bem. Além disso, tentar manter ao máximo a rotina e recorrer à espiritualidade são outras dicas valiosas aos idosos.

“Que possa fazer leituras, que possa ler para os netos, contar histórias. Que possa também fazer as suas pinturas, seus trabalhos manuais que eles já faziam, um crochê. Nesse momento, é importante que nós estejamos abertos a orações, rezas, meditações, que isso vai ajudar na ansiedade dos idosos, nas tristezas”, destacou Binda.

“É importante que agora essa rotina seja restabelecida o mais próximo da que ele tinha anteriormente. Eu acredito que hoje os recursos da internet são muito favoráveis para isso”, completou Santana.

Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV