Criada no Espírito Santo com foco na assistência de clientes a partir de 49 anos, a MedSênior atua hoje em mais cinco estados brasileiros, além do Distrito Federal, e assume a dianteira numa discussão relacionada ao envelhecimento populacional, à mudança na pirâmide etária, bem como aos desafios e oportunidades decorrentes da transformação.
A empresa mantém área de Inovação e Tecnologia com mais de 90 pessoas, o MilSênior, que desenvolve uma série de projetos que envolvem o conceito de bem envelhecer, contemplando dimensões como envelhecimento saudável, acesso à tecnologia, saúde financeira, relações sociais, mobilidade e transporte, entre outras. “É uma visão ampliada que vai além da nossa atuação como operadora de saúde. Temos trabalhado em diversas frentes, buscando aliados e investindo em projetos que contribuam na construção de um ecossistema voltado para o bem envelhecer”, afirma Julio Melo, diretor do Mil/MedSênior.
Para ele, essa é uma discussão que ganha cada vez mais espaço no mundo, mas ainda precisa avançar no Brasil. “A ONU considerou o período de 2020 a 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável nas Américas e vivemos hoje a mudança significativa na pirâmide etária do Brasil. Há uma demanda latente que nos desafia e motiva enquanto um player de saúde focado na pessoa idosa. Temos muitos projetos em andamento”, diz.
Mapeamento de startups
Entre eles, está o mapeamento das startups brasileiras focadas em atividades ou iniciativas que se encaixem dentro do conceito de bem envelhecer. De acordo com Fillipe Loures, líder de Novos Negócios do Mil/MedSênior, a pesquisa está sendo realizada em parceria com a Abstartups, entidade que reúne mais de 14 mil startups no Brasil, de quem a MedSênior hoje é mantenedora.
Depois de finalizado o trabalho, previsto para maio, a proposta é criar um comitê nacional, capitaneado pela empresa, para coordenar as discussões sobre a evolução do ecossistema de “agetechs” no Brasil.
Open Health via rede Blockchain
Outro projeto em andamento na MedSênior é a construção de uma rede blockchain, com contrato inteligente, inédita na área de saúde para permitir aos pacientes/beneficiários o acesso ou compartilhamento de todas as suas informações de saúde. Esta solução tem o conceito similar ao Open Finance, que permite o trânsito de dados de cunho financeiro (movimentação bancária, empréstimos, seguros e até de investimentos), abrindo caminhos para o Open Health, que reunirá, com a autorização do indivíduo, dados relacionados à saúde — históricos de consultas, diagnósticos, exames, laudos, receitas médicas, entre outras informações tão ou mais sensíveis e importantes que seus dados financeiros.
Para garantir os registros fiéis e seguros destas informações, foi desenvolvido uma rede Blockchain (“cadeia de blocos”, em tradução livre), contendo um sistema de registro coletivo, de todas as transações cadastradas em uma rede 100% segura, imutável e irrevogável. Isso significa que os dados não estão guardados em um lugar só, pois em vez de estarem armazenadas em um único servidor ou computador, as informações de uma rede blockchain são distribuídas entre os diversos computadores ou servidores ligados a ela.
“É um investimento de R$ 1,4 milhão que se diferencia pela segurança das informações e garantia do acesso as informações onde e quando os seus proprietários quiserem. Para desenvolvimento deste grande projeto, nosso parceiro é a maior referência do País no assunto, o Instituto CPQD, e o projeto piloto está em andamento. Ao final do trabalho, teremos o potencial de gerar uma patente, protegendo intelectualmente este desenvolvimento”, explica Cleber Neves, líder de Inovação Aberta do Mil/MedSênior.
Esta solução vem contribuir para atender uma demanda da área de saúde de registrar e agrupar todos os dados de saúde de um indivíduo, desde seu nascimento até a terceira idade, hoje descentralizados em diferentes entidades do setor privado e público.
“Os dados de saúde de um indivíduo começam em seu nascimento e seguem ao longo da vida. Durante o tempo em que viver, a pessoa tem muitos contatos em diferentes locais de uma cadeia de saúde (clínicas médicas, hospitais, laboratórios, farmácia etc…). Por inúmeros motivos, essas informações ficam muito pulverizadas e, muitas vezes, são perdidas”, afirma Cleber.
Para ele, uma solução como a que está sendo desenvolvida pela MedSênior, junto com o instituto CPQD, permitirá o registro único das informações de saúde de um paciente/beneficiário, gerando mais rápido o acesso a informações e compartilhamento, onde e quando ele precisar, possibilitando um rápido diagnóstico e desfecho clínico, como também economia para a cadeia de valor da saúde como um todo, pela redução do número excessivo de novas solicitações de exames e laudos médicos sobre patologias para apoiar o diagnóstico. “Além disso, facilita muito para os beneficiários no trânsito de informações em situações como na troca de plano de saúde e na integração das informações entre o setor público e privado”, ressalta.
Guia para avaliação de dispositivos eletrônicos na saúde
Outra iniciativa em andamento por meio do Mil/MedSênior é uma pesquisa que culminará na produção de um guia de melhores práticas para servir como referência no desenvolvimento, na aprovação, na avaliação e na reavaliação das tecnologias para uso na área de saúde, um trabalho que fica a cargo da Anvisa.
“Um exemplo que ilustra bem a importância desse manual é a utilização dos wearables, entendidos como os dispositivos eletrônicos de ‘vestir’, como no caso dos relógios inteligentes. Para utilização desses dispositivos em um hospital ou como instrumento efetivo na definição de condutas médicas e tratamentos, é preciso ter garantia da confiabilidade dos dados obtidos”, explica Thiago Bionde, líder de Fomento do Mil/MedSênior.
O MilSênior foi contemplado com recursos de um edital público do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com objetivo de elaborar esse guia, que será uma referência para o trabalho da própria Anvisa na hora de avaliar ou reavaliar um dispositivo, aprovando ou não seu uso para determinado fim. O projeto tem duração de 12 meses e deverá ser concluído no mês de agosto deste ano.
“O trabalho é feito com base nos conceitos da Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS), uma ciência que disponibiliza metodologia para esse processo de análise. Além da nossa equipe, selecionamos bolsistas da USP e da Universidade Estadual de Campina Grande para atuar conosco na compilação das boas práticas que se consolidarão no guia”, informa.
O CNPq destinou R$100 mil para o projeto que traz benefícios para diversos públicos. “Além de apoiar o processo de avaliação da equipe técnica, o guia de boas práticas poderá estimular a inovação e o empreendedorismo na área de tecnologia em saúde na medida em que apontará, com clareza, parâmetros de desenvolvimento e critérios de avaliação. Na outra ponta, o paciente ganha porque terá mais recursos para cuidar de sua saúde e bem-estar, dispondo de dados confiáveis e de mais conforto”, considera.