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Exames complementares em neurologia: saiba quando fazer

Veja quais exames complementares em neurologia ajudam no diagnóstico preciso e quando são realmente necessários

Foto: Freepik
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Quando os exames complementares em neurologia são necessários? Quando um paciente chega ao consultório com uma queixa neurológica, uma das primeiras perguntas que surgem é: “Preciso fazer algum exame?”.

É natural querer um diagnóstico rápido e certeiro, e os exames complementares podem ser grandes aliados nesse processo.

Exames complementares em neurologia não substituem avaliação clínica

Mas o nome já diz tudo: eles são complementares. Não substituem a avaliação clínica, nem servem como respostas prontas.

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A neurologia tem um desafio único: muitas doenças não aparecem claramente nos exames. Elas se manifestam através de sintomas e sinais que precisam ser interpretados com cuidado.

Por isso, a conversa e o exame físico continuam sendo fundamentais. A partir dessa avaliação, o médico decide quais exames são realmente necessários.

Quando bem indicados, eles ajudam a confirmar suspeitas, descartar diagnósticos e direcionar o tratamento de forma mais precisa.

Por outro lado, quando solicitados sem um critério claro, podem levar a achados sem relevância clínica e gerar preocupações desnecessárias.

Eletroneuromiografia: um mapa dos nervos e músculos

A eletroneuromiografia é um dos exames mais importantes na investigação de alterações nos nervos periféricos e músculos. É indicada para quem sente dormência, formigamento, fraqueza ou dor persistente nos braços e pernas.

Ela ajuda a identificar problemas como:

  • Neuropatias periféricas (lesões nos nervos);
  • Síndrome do túnel do carpo;
  • Doenças neuromusculares;
  • Radiculopatias, que são compressões nervosas na coluna cervical ou lombar, causando dor irradiada e perda de força nos membros;
  • Doenças do neurônio motor inferior, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA);
  • Alterações na junção neuromuscular, como na miastenia gravis.

Sim, é um exame que envolve pequenos estímulos elétricos e uma agulha fina para avaliar os músculos, mas é bem tolerado e traz informações objetivas que podem mudar a conduta do tratamento.

Se há suspeita de um problema nos nervos ou músculos, é um exame que realmente vale a pena fazer.

Eletroencefalograma: registrando a atividade cerebral

O eletroencefalograma (EEG) mede a atividade elétrica do cérebro e é muito útil no diagnóstico da epilepsia. Também pode ser solicitado para investigar desmaios e algumas alterações do comportamento.

O exame é simples: pequenos eletrodos são colocados no couro cabeludo para captar os impulsos elétricos cerebrais.

Mas aqui vale um alerta: um EEG alterado não significa necessariamente epilepsia, assim como um EEG normal não exclui completamente essa possibilidade.

Por isso, interpretar esse exame exige experiência e sempre deve ser feito no contexto da história clínica do paciente.

Exames de imagem: quando enxergamos o cérebro por dentro

Os exames de imagem são um marco na neurologia. Hoje, conseguimos ver a estrutura do cérebro com detalhes impressionantes.

Principais exames de imagem na neurologia:

  • Ressonância magnética: o exame mais completo para avaliar o cérebro e a medula espinhal, ajudando no diagnóstico de AVCs, inflamações, tumores e doenças degenerativas.
  • Tomografia computadorizada: usada principalmente em emergências, como suspeita de AVC ou traumatismo craniano.
  • Angiorressonância e angiotomografia: exames que analisam os vasos sanguíneos cerebrais, ajudando na investigação de aneurismas e outras doenças vasculares.

Por mais incríveis que sejam, os exames de imagem precisam ser solicitados com critério.

Pequenas alterações podem aparecer em qualquer pessoa, especialmente com o envelhecimento, e nem sempre indicam doença.

Esses achados incidentais, conhecidos como acidentalomas, podem gerar preocupação desnecessária e levar a investigações invasivas sem necessidade. O que importa é interpretar o exame dentro do quadro clínico de cada paciente.

Testes genéticos: vale a pena fazer?

Os testes genéticos se tornaram populares, e muitas pessoas querem descobrir se têm predisposição para doenças neurológicas. Mas será que isso realmente ajuda?

O que a ciência mostra sobre os testes genéticos:

  • Para algumas doenças neuromusculares e síndromes raras, os testes genéticos são fundamentais e podem definir o diagnóstico e até direcionar tratamentos específicos.
  • Já no caso da doença de Alzheimer, a situação é diferente. Existe um gene, o APOE4, que está associado a um risco maior da doença. Mas ter esse gene não significa que a pessoa desenvolverá Alzheimer – e não ter o gene também não garante proteção.
  • Não há tratamentos preventivos baseados nesse teste. Ou seja, ele pode acabar gerando mais ansiedade do que benefícios práticos.

Na neurologia, a genética é uma ferramenta poderosa, mas precisa ser usada com critério. Antes de buscar qualquer exame desse tipo, é essencial conversar com um médico para entender se ele realmente faz sentido para o seu caso.

Para fechar…

Os exames complementares são essenciais para um diagnóstico preciso, mas precisam ser usados na medida certa.

Eles ajudam a esclarecer dúvidas, confirmar suspeitas e guiar o melhor tratamento – desde que solicitados com um propósito bem definido.

A neurologia é um campo em constante evolução, e a tecnologia tem trazido ferramentas cada vez mais sofisticadas para investigar o sistema nervoso.

Mas no final das contas, o que faz a diferença de verdade é a combinação entre ciência, experiência e uma abordagem centrada no paciente.

Dra. Camila Resende Colunista
Colunista
Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) @dracamilaresende