Saúde

Fiocruz: células podem ser reprogramadas para combater câncer de mama; diz estudo

Segundo os cientistas responsáveis pela pesquisa, ainda são necessários implementar novos estudos, porém, trata-se de um passo muito importante. Entenda

Foto: Reprodução/Pexels

Um mecanismo descoberto por meio de um estudo realizado pela Fiocruz Minas pode ajudar na alteração de um tipo de células de defesa do organismo (perfil de macrófagos), que impede o crescimento de tumores malignos de mama. As descobertas foram publicadas no International Journal of Pharmaceutics.

Cerca de 50% da massa tumoral é composta exatamente dessas células, portanto, a atividade delas tem influencia direta no prognóstico da doença, segundo pesquisadores.

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É preciso entender que existem dois tipos de células macrófagas (células de defesa, em que a atuação se dá no sistema imunológico). A M2, possui características mais anti-inflamatórias e estaria relacionada a maior permissividade tumoral. A M1, são pró-inflamatórias e com maior eficácia na limitação da progressão do tumor.

Os pesquisadores, então, buscaram a reprogramação do perfil de macrófagos M2 no ambiente tumoral transformando-as em M1 com o objetivo de tentar inibir o desenvolvimento das células cancerígenas. Para isso, os cientistas utilizaram nanopartículas de óxido de ferro.

A pós-doutoranda do grupo de imunologia celular e molecular, que esteve à frente do projeto, Camila Sales Nascimento, explicou esse processo em entrevista ao portal de notícias R7. 

“Por meio de uma ampla revisão da literatura sobre o tema, vimos que as nanopartículas de óxido de ferro tinham potencial para atuar na reprogramação do fenótipo de macrófagos. Então, a ideia foi transformar M2 em M1, por meio de tratamento local, realizado diretamente no tumor, o que permitiu um controle maior em relação a intervenções sistêmicas”.

Essas nanopartículas de óxido de ferro usadas no estudo foram produzidas nos laboratórios da Fiocruz Minas, por meio de uma parceria com o Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco,  responsável por desenvolver originalmente, o composto magnético.

As nanopartículas são biocompatíveis, ou seja, têm baixa toxicidade para as células saudáveis, além de baixo custo e síntese rápida, o que facilita a produção em escala.

A partir daí, os cientistas fizeram três experimentos: in vitro em duas dimensões (2D); in vivo, com camundongos de laboratório; e in vitro em três dimensões (3D). Com os resultados em mãos, os especialistas passaram para o segundo experimento, realizado em camundongos.

No fim, eles notaram uma redução de quase 50% na massa tumoral dos camundongos expostos à nanopartícula em comparação aos animais que não receberam o tratamento.

Já para a terceira experiência, Camila passou um tempo na Universidade do Porto, em Portugal, que já fazia tais testes. Depois dos resultados, a tecnologia passou a ser implementada na Fiocruz Minas.

Para Carlos Eduardo Calzavara, líder do grupo de imunologia celular e molecular e coordenador do projeto, esses achados abrem as portas para novas pesquisas e, futuramente, poderão auxiliar no surgimento de estratégias para tratar câncer de mama.

“O estudo é um ponto de partida. Ainda são necessárias novas pesquisas voltadas para farmacodinâmica e farmacocinética para avaliar uma série de questões relevantes, como os efeitos fisiológicos, os mecanismos de ação, os efeitos colaterais, o tempo de absorção do fármaco, a biodistribuição no organismo, entre outros aspectos. Mas a prova de conceito nós já temos, o que é muito importante”, diz Calzavara.

*Com informações do Portal R7

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