A campanha “abril marrom” de combate à cegueira que este mês movimenta toda a comunidade oftalmológica do País esbarra em um grande obstáculo: o “teste do reflexo vermelho” popularmente conhecido como “teste do olhinho”, que só é obrigatório no Distrito Federal e em 16 dos 26 Estados brasileiros.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, o exame deve ser feito logo após o parto para checar a presença de catarata, glaucoma, retinoblastoma (tumor no olho) ou a retinopatia da prematuridade em bebês prematuros.
“Todas estas doenças são congênitas, ou seja, se manifestam desde o nascimento e respondem por 70% dos casos de perda da visão na infância” afirma. Por isso , o teste do olhinho é uma importante ferramenta de prevenção da cegueira infantil. O exame consiste em direcionar para a menina do olho do bebê um oftalmoscópio, equipamento semelhante a uma lanterna com lente refletora. Quando o reflexo é vermelho e contínuo indica que todas as estruturas oculares estão íntegras. “Se o reflexo for esbranquiçado ou descontínuo sinaliza que a criança deve ser encaminhada a um oftalmologista para que possa receber o tratamento correto”, ressalta.
O especialista afirma que o teste do olhinho tem baixo custo, mas diversos projetos de lei com a proposta de estender a obrigatoriedade do exame a todo o território nacional vêm encontrando dificuldade de aprovação no congresso nacional. Este foi o caso do projeto de lei 4090/2015 que em 28 de março deste ano foi devolvido sem manifestação pelo relator da CFT (Comissão de Finanças e Tributação) na Câmara dos deputados.
Como fotografar o bebê
A boa notícia é que famílias sem plano de saúde ou que moram em estados onde o exame não é obrigatório, os pais podem fotografar o olho do recém-nascido com o celular e encaminhar a um especialista do serviço oftalmológico mais próximo credenciados ao SUS (Sistema Único de Saúde). O médico explica que enquanto a mãe segura a cabeça do bebê e abre as pálpebras de um olho e depois do outro, a foto pode ser tirada com flash em um quarto escurecido, posicionando o celular a uma distância de 30 centímetros do olho. Se o reflexo da foto não for avermelhado ou apresentar algum desvio a criança deve ser levada o quanto antes para consulta oftalmológica.
Catarata
O oftalmologista afirma que a maior causa de perda da visão na infância é a catarata, opacificação do cristalino que precisa ser operada o quanto antes, principalmente quando atinge os dois olhos simultaneamente. Este foi o caso do filho de Ana Paulinho Mariana Rodrigues que passou por cirurgia de catarata congênita bilateral com Leôncio. Ela conta que viu o mundo desabar quando teve a notícia da doença e que o filho poderia perder definitivamente a visão .
“Felizmente a cirurgia foi um sucesso e hoje com 11 anos de idade meu filho tem uma vida completamente normal graças a esta cirurgiã”, comenta. O oftalmologista afirma que nem sempre a catarata congênita afeta os dois olhos. “Já fiz várias cirurgias em crianças que tiveram apenas um olho afetado. A doença, ressalta geralmente está relacionada a doenças infecciosas como toxoplasmose, rubéola ou outras contraídas pela mãe na gestação”.
Glaucoma infantil
O glaucoma na infância tem as mesmas características da doença entre adultos – aumento da pressão interna do olho e lesões no nervo óptico. O oftalmologista afirma que a maior diferença é a necessidade de operar praticamente todos os casos na infância. As causas podem ser hereditariedade e também infecções durante a gravidez.
Retinopatia da prematuridade
A doença está em ascensão na infância por causa das gestações precoces entre adolescentes. Segundo o oftalmologista atinge 30% dos bebês prematuros, é caracterizada pelo crescimento de vasos na retina que podem provocar seu deslocamento, é mais prevalente entre os nascidos com menos 1.500 gramas ou antes da 32ª semana de gestação. “O tratamento é feito com aplicação de laser de argônio ou diodo que coagula os vasos sob anistia local”, afirma Queiroz. As principais recomendações do especialista durante a gestação para evitar as doenças congênitas no bebê são: lavar bem verduras, frutas e legumes, manter as mãos limpas, conferir a carteira de vacinas, especialmente se tomou a segunda dose da vacina de rubéola antes de engravidar e evitar as aglomerações.