Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) constatou que os meninos adolescentes vão bem menos ao médico do que as meninas. Em média, eles vão 18 vezes menos ao médico do que elas. Em 2021, foram registrados 189.943 atendimentos femininos por ginecologistas na faixa etária de 12 a 18 anos contra 10.673 atendimentos masculinos por urologistas nessa mesma faixa etária.
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Moradora de Cariacica, a estudante Marcela Oliveira é mãe de dois jovens e duas adolescentes. Quando o assunto é saúde, ela orienta todos da mesma forma sobre a importância de ir ao médico regularmente, mas reconhece: as gêmeas Raquel e Rebeca, que têm 16 anos, se consultam com mais frequência do que os outros filhos quando tinham a mesma idade.
“Depois de uma certa idade, eles começam a caminhar sozinhos. Não é mais aquela questão da gente ficar tomando conta. E as meninas, por serem mais próximas da gente, por estarmos acompanhando mais de perto, vão com mais frequência ou então falam de sintomas típicos das mudanças hormonais da adolescência de maneira mais natural. Por isso, vão mais ao médico”, explica.
Raquel Oliveira, 16 anos, uma das filhas de Marcela, está no ensino médio. Ela também percebe que, entre os colegas, as meninas vão mais ao médico do que os meninos.
“Realmente, são as meninas que mais procuram atendimento médico. Apesar de os meninos não deixarem de ter menos doenças do que as meninas”, observa.
A pesquisa da SBU com dados do Ministério da Saúde mostra que o número de meninos de 12 a 18 que vão ao medico é 18 vezes menor do que o de meninas da mesma faixa etária.
Para o urologista pediátrico Rodrigo Lessa, os dados revelam o que já é percebido cotidianamente nos consultórios: um problema que começa na adolescência e pode impactar a saúde no futuro.
“Nesse período, entre a consulta do pediatra e uma consulta na idade adulta, esse adolescente fica muito tempo sem procurar o serviço de saúde. Isso vai se refletir não só numa fase onde um problema já esteja instalado ou em agravamento de quadros, mas até na cultura do homem em não procurar um atendimento médico. Isso vai se refletir depois”, alerta.
A ida ao médico na adolescência é importante para que os jovens possam entender as mudanças que ocorrem no corpo nessa fase e também para prevenção de doenças.
“A adolescência é a fase em que se inicia a atividade sexual. Então, há essas doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, o exame testicular é muito importante, pois é a faixa etária que vai marcar o período de transição para a vida adulta, o da puberdade”, aponta.
Para mudar essa realidade o especialista acredita que é preciso mais diálogo e conscientização.
“Os próprios adolescentes devem ter essa consciência e, a partir daí, entender essa necessidade de buscar apoio num consultório médico ou serviço de saúde para que isso possa ser realizado”, aconselha.
Com informações do repórter Rodrigo Schreder, da TV Vitória/RecordTV
Pesquisa mostra frequência de adolescentes nos serviços de saúde
Pesquisa inédita feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde revela que o número de consultas de meninos adolescentes, de 12 a 18 anos, ao urologista é 18 vezes menor que o de atendimentos de ginecologistas a meninas da mesma faixa etária.
Em 2021, foram registrados 189.943 atendimentos femininos por ginecologistas na faixa etária de 12 a 18 anos, contra 10.673 atendimentos masculinos por urologistas nessa mesma faixa etária. Em 2020, foram 165.925 atendimentos de meninas por ginecologistas e 7.358 atendimentos de meninos por urologistas.
Ampliando o levantamento para a busca por atendimento médico, as meninas entre os 12 e os 19 anos vão quase duas vezes e meia a mais ao médico do que os meninos da mesma idade. Números de 2020 do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), do Ministério da Saúde, revelam que o acesso das meninas entre 12 e 19 anos ao SUS foi quase 2,5 vezes maior do que o dos meninos: 10.096.778 de meninas, contra 4.066.710 de meninos.
Independentemente da faixa etária, o homem procura menos o médico para consultas de rotina, o que faz com que ele tenha uma expectativa de vida de menor. “As mulheres vivem, em média, sete a dez anos mais do que os homens. A gente percebeu que isso ocorre porque o homem não procura fazer os exames necessários, como as mulheres fazem”, disse o presidente da SBU, Alfredo Canalini, à Agência Brasil.
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Para os médicos, não adianta fazer campanha apenas para o homem adulto, já que esse comportamento é reflexo de toda uma história de vida que começa logo depois que o menino larga o pediatra.
Canalini afirma que, ao contrário das meninas, que as mães levam à ginecologista para serem avaliadas tão logo entram na adolescência e menstruam, os meninos “ficam meio à deriva”. “O adolescente do sexo masculino não vai ao médico”.
#VemProUro
Neste mês, a SBU realiza a quinta edição da campanha #VemProUro, que enfatiza a importância de o menino ir ao médico na adolescência. Este ano, a campanha aborda a relevância dos cuidados com a saúde genital e reprodutora e visa, principalmente, os pais, para que tenham consciência da necessidade de levar não só as filhas, mas também os filhos, a um atendimento médico preventivo – e não apenas quando ficam doentes.
A campanha se engaja ainda na luta contra os cânceres provocados pelo HPV, incentivando os responsáveis a levarem seus filhos adolescentes para serem vacinados.
O coordenador da campanha, Daniel Suslik Zylbersztejn, acredita que, com o passar do tempo, a campanha contribuirá decisivamente para uma mudança de cultura de cuidados à saúde dos meninos, equiparando ao que vemos hoje nos cuidados à saúde das meninas adolescentes.
Durante o mês, serão realizadas ações online de esclarecimento à população no perfil da SBU nas redes sociais (@portaldaurologia). No site, a SBU também terá conteúdos voltados para os adolescentes.
Na avaliação do presidente da entidade, é preciso uma mudança de comportamento social. Sem o hábito de ir ao urologista quando jovens, os pais acabam não levando seus filhos homens para exames de rotina. “Investimento em saúde não é tratar mais doença, mas evitar mais doenças. Tratar da saúde de uma pessoa não é só curar essa pessoa quando ela está doente, mas é também prevenir que a doença ocorra”, avalia Canalini.
Segundo o presidente da SBU, para cada R$ 1 gasto em medicina preventiva, economiza-se R$ 5 em tratamento de doenças avançadas. “Esse é um dado bom para a saúde pública porque significa economia do dinheiro público quando se faz um processo de prevenção de doenças e diagnóstico precoce”, alertou.
ISTs
De acordo com o coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente, José Murillo Bastos Netto, é cada vez mais comum o atendimento, em consultório ou no serviço público de saúde, adolescentes com infecções sexualmente transmissíveis.
Em 2020, pesquisa conduzida pela SBU com adolescentes constatou que 44% dos entrevistados não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam, ou usam raramente, o preservativo. Quatro em cada dez meninos (38,57%) disseram não saber sequer colocar o preservativo.
“O sexo seguro passa pelo aviso de que o preservativo deve ser usado em todas as relações sexuais”, afirmou Canalini.
Entre as ISTs mais comuns estão sífilis, herpes simples, cancro mole, HPV, linfogranuloma venéreo, gonorreia, tricomoníase, hepatite B e C e HIV.
Sondagem divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em julho deste ano, mostra que, no período de 2009 a 2019, o percentual de escolares que usaram camisinha na última relação sexual caiu de 72,5% para 59%. Entre as meninas, a queda foi de 69,1% para 53,5% enquanto, entre os meninos, foi de 74,1% para 62,8%.
HPV
Meninos (de 11 a 14 anos) e meninas (de 9 a 14 anos) podem se vacinar contra o papilomavírus humano (HPV), a infecção sexualmente transmissível mais comum. A imunização ajuda na prevenção contra o câncer de útero nas mulheres e contra o câncer de pênis nos homens.
Dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) revelam que apenas 36% dos meninos tomaram as duas doses da vacina, contra 56,2% das meninas. A vacina contra o HPV é ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Podem se vacinar também contra o HPV homens e mulheres imunossuprimidos, de 9 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos.
Além do câncer de colo de útero e de pênis, o HPV está associado a cânceres de ânus e de orofaringe. O vírus tem uma prevalência mundial estimada em 11,7% e a faixa etária de maior prevalência é nos menores de 25 anos. Por ser uma doença na maioria das vezes assintomática e com remissão espontânea em até dois anos, muitas pessoas ignoram ter o problema e o transmitem a seus parceiros.
Consulta
Educação sexual é um dos assuntos tratados na consulta de um adolescente do sexo masculino com o urologista.
De acordo com a SBU, a consulta ao médico na idade dos 12 aos 18 anos é importante para avaliação de vários quesitos, entre eles, o desenvolvimento físico e a nutrição, condições gerais de saúde, noções sobre a higiene correta do corpo e dos órgãos genitais, identificação e medidas preventivas para o desenvolvimento de doenças futuras como os fatores hereditários e comportamentais, exame testicular e orientações sobre o autoexame para detecção de anormalidades como varicocele (veias dilatadas nos testículos que podem levar à infertilidade), hérnias, testículos mal descidos e tumores no órgão (cuja idade de maior risco começa por volta dos 14 a 15 anos).
Além desses temas, são abordadas orientações sobre ISTs, paternidade responsável e prevenção de gravidez indesejada, uso correto do preservativo, fimose, excesso de pele no pênis, dúvidas sobre sexualidade e desenvolvimento genital, avaliação da caderneta de vacinação, orientações a respeito do início da vida sexual, entre outros assuntos.
(Agência Brasil)