Por mais que o assunto tenha ganhado “fama” na atualidade com o uso das redes sociais e da tecnologia, as fake news – ou notícias falsas – são um problema antigo na sociedade e que não atingem apenas jovens e adultos, pois mesmo quem ainda se encontra dentro do útero, pode se tornar uma vítima da desinformação.
Vale ressaltar que nem sempre as fake news na área da saúde estão encorpadas, de fato, como uma notícia ou reportagem. Às vezes elas podem vir através de uma simples transmissão de informações equivocadas e carregadas de um apelo mais cultural do que científico.
Uma restrição bastante conhecida a respeito dos cuidados a serem tomados por uma gestante é sobre a presença de animais de estimação dentro de casa, mais especificamente os gatos. A obstetra Aline Lima explica que a preocupação maior está com a higiene do animal, a qual deve ser redobrada caso haja gestantes no local.
“A gente solicita que a paciente não tenha contato com as fezes do gato e sempre lavar as mãos ao ter contato, pois as fezes desses animais podem conter o toxoplasma, um protozoário que pode causar má formação do feto, dependendo do momento da gestação”, disse.
Mesmo com os cuidados, caso a futura mamãe seja diagnosticada com a Toxoplasmose, doença transmitida pelo protozoário, a obstetra explica que deve ser feito um acompanhamento com essa gestante com o intuito de reduzir os impactos da infecção.
Gestantes devem comer em dobro?
Ditados como “comer em dobro” ou “comer para dois” são constantemente associada às gestantes. Vale ressaltar que, não necessariamente pelo fato de estar carregando um bebê, a alimentação deve aumentar absurdamente ou dobrar.
A obstetra aponta que o aumento demasiado na alimentação na gravidez, pode trazer sérios prejuízos. “Durante a gestação, a alimentação da mulher deve ganhar em média 400 kcal e o ganho de peso gira em torno de 9 a 12 kg, caso esse valor esteja em excesso, a gestante pode ter uma predisposição para quadros como eclâmpsia e diabetes”, salientou.
Também dentro da alimentação existe um alerta de suma importância. Desta vez não há indicação, redução ou cuidado. Quando o assunto é o consumo de álcool, a obstetra é enfática. “Está extremamente proibido”. Ela conta que mesmo a cerveja sem álcool deve ser retirada do cardápio de qualquer gestante, pois o consumo deste tipo de bebida pode acarretar em má formação fetal e até um crescimento restrito do feto, ou seja, quando ele não atinge o tamanho adequado e saudável.
Não é hora de virar musa fitness
A prática de atividades esportivas carrega consigo uma série de benefícios não só para gestantes, mas para qualquer pessoa. Tratando-se de saúde e corpo, é importante lembrar a importância de um acompanhamento especializado na hora de encarar uma rotina “quase atlética”.
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No caso da gravidez, os cuidados devem ser, literalmente, redobrados. A obstetra Aline conta que, apesar dos inúmeros pontos positivos de se praticar um esporte ou de qualquer outro exercício físico durante a gestação, é preciso se atentar à dosagem dessas atividades e, nessa situação, o acompanhamento profissional é ainda mais importante.
“O ideal é fazer exercícios desde o início e manter um nível saudável. A mulher não vai virar maratonista e nem se tornar fitness na gestação. A presença de um educador físico e um fisioterapeuta do lado é importante pois existem alguns exercícios que podem piorar a estética pélvica e prejudicar no momento do parto, como agachamentos, jump e abdominal”, apontou.
Na dose errada, um exercício pode deixar de trazer benefícios para a saúde e causar até mesmo uma lesão articular, dificultando e muito a gestação e a saúde da futura mãe.
Sexo! Mas e o bebê?
Ao contrário do que se pensa, a prática sexual não vai prejudicar em nada na saúde do bebê. Muito pelo contrário, Aline aponta que, em alguns casos, a relação sexual é até recomendada.
“Pode fazer sexo sim, inclusive é recomendado se não tiver nenhuma contraindicação como sangramento, placenta baixa ou um possível parto prematuro”, afirmou.
A obstetra explica que a prática sexual auxilia na indução natural do parto devido a uma substância que contém no esperma chamada prostaglandina que funciona como um preparador do colo do útero quando a paciente está próximo do trabalho de parto.
Amamentação: ato de carinho e cuidado
Quando o assunto é gestação, logo em seguida vem à mente a hora da amamentação. Um momento de carinho, afeto e proximidade entre a mãe e o bebê que acaba de chegar ao mundo. Assim como o período de gravidez, o aleitamento materno também é uma prática rodeada de questões culturais, que vão desde explicações à procedimentos que são passados de geração em geração, mas que não possuem eficácia comprovada cientificamente.
Porém, um outro problema também permeia o aleitamento materno: a indústria de alimentos e produtos para crianças. Esta, por sua vez, pode causar dúvidas para mães de primeira viagem ou qualquer outra pessoa que não esteja bem informada.
No Brasil, os produtos destinados ao público infantil são regidos pela Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL). Esta norma é a responsável pelo controle de propaganda e rotulagem de alimentos e produtos destinados a recém-nascidos e crianças com até três anos de idade.
De acordo com a pediatra e responsável técnica pelo banco de leite do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), Angélica Carvalho, mesmo com uma norma específica, ainda é possível encontrar propagandas que ferem a lei e acabam atingindo uma parcela mal informada da população.
A amamentação é uma prática indispensável nos primeiros momentos que o bebê nasce e deve ser mantida até os dois anos de idade ou mais. Porém, dentro do mercado de alimentos e produtos para crianças, existe uma prática bastante comum que é a venda de “benefícios”.
A pediatra aponta a indústria como uma das fontes para a desinformação. “Às vezes a mãe se sente tão sozinha e desinformada, mas quando chega no mercado e vê que, se ela oferecer tal leite para o bebê ele vai se acalmar, ela acaba comprando esse produto muitas vezes sem se atentar às recomendações”, explicou.
É neste momento que Angélica salienta os desvios de conduta por parte do comércio, quando passam a atrair o público para produtos e objetos sem levar em consideração as normas vigentes. Seja um alimento que tem como objetivo substituir o leite materno, ou até mesmo uma chupeta não adequada.
O caso da cerveja preta
Uma das dicas encontradas a respeito do aleitamento é o consumo de cerveja preta durante a amamentação que, supostamente, aumentaria a produção de leite. Como afirmado pela obstetra Aline Lima, o consumo de bebida alcoólica é extremamente proibido durante a gestação e isso deve se manter também durante o aleitamento materno. Qualquer tipo de bebida alcoólica deve ser completamente erradicada da vida das lactantes, inclusive a cerveja preta.
A pediatra Angélica explica que a ingestão de qualquer tipo de líquido resulta no aumento da produção de leite, mas no caso da cerveja preta, que possui ainda mais álcool do que o formato tradicional da bebida, uma parte deste álcool vai para o leite fazendo com que a criança fique alcoolizada e durma mais rápido. Por isso a ideia de que o consumo da bebida melhora a qualidade do sono do bebê, mas na verdade, está trazendo prejuízos à saúde dos pequeninos.
A fábrica não para!
Outro ponto que deve ser levado em consideração é o fato de que a mama não funciona como um armazém para o leite, ela funciona em produção constante. Inclusive, a maior parte da produção do leite acontece enquanto o neném está mamando.
Sobre esse processo, Angélica salienta a importância do descanso da mãe para um bom resultado na amamentação. “O descanso é um momento importante para a produção do leite, além de uma alimentação adequada e da ingestão de bastante líquido. A mãe não pode ficar com sede, pois se isso acontecer, a produção pode cair tendo em vista que ela acontece de maneira constante e não armazenada”, contou.
Inclusive, ao contrário do que dizem as pessoas mais antigas, a mãe pode sim se alimentar enquanto a criança mama. Essa prática é completamente indicada pois comer enquanto o bebê está mamando pode trazer saciedade para a mãe que precisa estar de prontidão para a produção de leite. E se esse alimento consumido pela lactante for um líquido, melhor ainda.
Leite “empedrado”
O nome técnico é ingurgitamento mamário, mas normalmente é chamado de “leite empedrado”. O problema consiste no acúmulo de leite nas mamas que ocorre devido a um desequilíbrio entre a produção do leite e a extração. Ao contrário do que o senso comum acredita, este tipo de problema não está relacionado ao leite da mãe.
Para solucionar esta questão existem inúmeras dicas que são passadas por gerações. Uma dessas indicações diz que, caso a mãe tome banho morno ou despeje água morna em cima do peito e passe um pente por cima das mamas, o leite voltaria a fluir normalmente. Mas a responsável técnica pelo banco de leite do Himaba aponta que, além de não trazer nenhum benefício, esse procedimento pode prejudicar a mãe e, posteriormente, o bebê.
“O ato de passar qualquer coisa no peito pode machucar a pele e abrir fissuras. Nestes casos, a massagem é a melhor indicação para a extração do leite. Caso o peito fique na água morna, os vasos dilatam, aumentando a produção de leite e a mama fica ainda mais dura”, explicou.