Saúde

Guia Alimentar recomenda leite de vaca integral para bebês e pediatras são contra

Especialistas afirmam que pesquisas comprovam que o leite de vaca integral está associado a maior índice de obesidade em crianças

Foto: Divulgação / Pexel

Uma orientação que consta do Guia de Alimentação do Ministério da Saúde, lançado em novembro de 2019, está sendo questionada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Na quinta-feira (21), a entidade que representa cerca de 35 mil especialistas encaminhou ofício ao ministro Luiz Henrique Mandetta no qual afirma que a introdução do leite de vaca na dieta de bebês a partir de quatro meses pode resultar em complicações, comprometendo o crescimento e o desenvolvimento dessas crianças. 

Também questiona a pasta sobre a falta de indicação para que as famílias busquem na consulta pediátrica a adequada orientação nutricional das crianças.

De acordo com a SBP, é consenso que o aleitamento materno deve ser a base da alimentação no período da vida entre o nascimento e os dois anos de idade da criança (1000 dias), devendo ser oferecida de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida e mantida pelo menos até o segundo ano ou mais, sempre que possível. Contudo, se não houver essa possibilidade, os pediatras afirmam que o leite de vaca não é adequado para consumo das crianças nessa fase da vida.

A recomendação se baseia em estudos internacionais, que têm sido adotados como referência por instituições como a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátricas (ESPGHAN) e Academia Americana de Pediatria (AAP). Os resultados apontam que o leite de vaca integral comprovadamente está associado a maior índice de obesidade e várias outras consequências.

POTÁSSIO 

Entre os problemas relatados, estão a presença excessiva no leite de vaca de proteína, sódio, potássio e cloro, além de falta de vitaminas, de ferro, e de ácidos graxos poliinsaturados de cadeias longas (L-PUFAS que são precursoras do ômega 3 e 6). Para os especialistas, o alto índice de proteína está associado a maior carga de soluto renal a alterações da microbiota intestinal e ao aumento da prevalência da obesidade nas crianças.

“As recomendações do Codex Alimentarius referentes às fórmulas infantis são reconhecidas nacional e internacionalmente e atualizadas, consecutivamente, com o decorrer do surgimento de novos conhecimentos acerca da temática. Nas últimas décadas, o conhecimento em nutrição infantil evoluiu consideravelmente e, com isto, a sedimentação dos benefícios do leite materno e da inadequação do leite de vaca integral”, ressaltou a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva.

Segundo a presidente, que também é gastroenterologista pediátrica e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na impossibilidade do aleitamento natural no primeiro ano de vida, quando foi estimulada a relactação e não houve sucesso, há indicação de uso de fórmulas lácteas infantis.

NUTRIÇÃO

Os estudos citados pela SBP reiteram o papel da nutrição adequada na infância precoce como peça fundamental para o desenvolvimento completo do potencial humano. No caso específico das fórmulas, os pediatras argumentam que há evidências de que estão associadas com o melhor desenvolvimento do cérebro, do intestino e do sistema imune quando comparadas ao consumo do leite de vaca integral.

A presidente da Sociedade afirma ainda que o objetivo da alimentação do lactente “não é mimetizar o leite materno, qualitativamente incomparável, mas, sim, fazer com que a alimentação se aproxime dos efeitos e benefícios funcionais que o leite materno oferece”.

Além da recomendação equivocada de uso do leite de vaca integral por bebês, os pediatras se queixam de não terem participado da elaboração do Guia. Essa ausência é apontada como responsável pelos problemas identificados no documento.

“Coerente com essa preocupação, a SBP fez uma leitura minuciosa do novo Guia e compartilha suas reflexões para propor e contribuir com o aperfeiçoamento desse documento. Entendemos que o trabalho realizado é de grande relevância, mas exige ajustes que atendam premissas estabelecidas cientificamente, permitindo, assim, que alcance seus objetivos”, ressalta o texto encaminhado ao Ministério da Saúde.