Saúde

Infectologista alerta sobre uso de corticoide que reduziu mortes por covid-19: 'extremamente perigoso'

Pesquisadores da Universidade de Oxford divulgaram nesta terça os resultados para a imprensa, mas os dados ainda não foram submetidos a avaliação dos pares e não foram publicados em revista científica

Foto: Divulgação

Nesta semana, pesquisadores ingleses anunciaram que a aplicação de um corticoide barato, conhecido como dexametasona, em pacientes internados com covid-19 foi capaz de reduzir as taxas de mortalidade em cerca de um terço entre os casos mais graves de infecção, submetidos à ventilação. Apesar da boa notícia, especialistas alertam que o uso do medicamento é perigoso e não deve, de forma alguma, ser usado como automedicação.

De acordo com o médico infectologista Crispim Cerutti, o corticoide é administrado no tratamento de doenças inflamatórias. No entanto, é preciso cautela quanto à administração do remédio. “Corticóide é uma classe de droga extremamente perigosa. Se usada em circunstâncias erradas ou em doses erradas, vai trazer grandes danos ao organismo. É uma classe de drogas que deve ser empregada pelo profissional da saúde. De forma alguma pode se tomar fazendo automedicação”, alerta.

Ele explica que a medicação é conhecida pelo uso no tratamento de algumas formas de câncer, diminuição do inchaço do tumor cerebral e em doenças autoimunes, por exemplo. “A dexametasona é da classe dos corticoides, que são hormônios produzidos por uma glândula do corpo, chamado de glândula super renal. Eles têm um papel importante na regulação de vários aspectos do equilíbrio interno do organismo. No uso como medicamento, a classe dos corticoides é usada em diversos classificações diferentes. Nesse caso, em particular, ele está sendo usado por ser um potente anti-inflamatório. O que caracteriza os quadros graves de covid-19 é aquilo que se chama de tempestade inflamatória. Existem várias substâncias inflamatórias circulando no organismo e é nesse ponto que o corticoide age”, explicou.

O médico ainda destaca que testes com medicamentos já existentes são realizados baseados em metodologia científica. “Na situação de uma doença nova é preciso buscar recursos, que deve ser pelo princípio científico. É um estudo pelo ensaio clínico, que avalia o efeito do medicamento em comparação com o efeito de outro tipo de tratamento ou de substância que não tem efeito algum, para verificar se aquele medicamento realmente funcionou. É um estudo controlado para verificar a efetividade”, explicou.

Testes no Reino Unido

A droga, um forte anti-inflamatório e imunossupressor, foi aplicada em doses de 6 mg uma vez por dia em 2.104 pacientes no Reino Unido, que fizeram parte de um estudo clínico randômico que recebeu o nome de “Recovery”. Eles receberam a medição por dez dias e tiveram seu desempenho comparado com 4.321 pacientes que receberam apenas os cuidados habituais.

Pesquisadores da Universidade de Oxford divulgaram nesta terça os resultados para a imprensa, mas os dados ainda não foram submetidos a avaliação dos pares e não foram publicados em revista científica. Os cientistas disseram que, dada a importância desses resultados para a saúde pública, estão trabalhando para publicar todos os detalhes o mais rápido possível.

O medicamento está sendo avaliado no Brasil pela Coalização Covid Brasil, esforço dos hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein, HCor e BricNet para fazer ensaios clínicos com diversas drogas candidatas. No País, a marca mais conhecida do remédio é o Decadron, mas há também versões genéricas.

O grupo de Oxford informou que, entre os pacientes que receberam a medicação, houve redução de um terço das mortes dos pacientes ventilados e de um quinto em outros pacientes recebendo apenas oxigênio. Não houve benefício para os pacientes que não necessitaram de suporte respiratório.

Já entre os pacientes que receberam os cuidados usuais isoladamente, a mortalidade em 28 dias foi mais alta naqueles que necessitaram de ventilação (41%), intermediária nos pacientes que precisaram apenas de oxigênio (25%) e menor entre aqueles que não necessitaram de intervenção respiratória (13%). Com base nesses resultados, os pesquisadores apontam que, com o tratamento, uma morte seria evitada entre cada oito pacientes ventilados ou para cada 25 pacientes que necessitem apenas de oxigênio.

*Com informações do repórter Arlesson Schineider, da TV Vitória / Record TV, e do Estadão Conteúdo