O caso não é raro e pode acometer qualquer pessoa. A doença, popularmente conhecida como língua peluda, é uma patologia benigna com nome de Língua Pilosa. Recebe este nome, pois deixa a língua com aspecto peculiar, áspero e com pigmentação escura.
Um exemplo é um caso publicado na revista científica The New English Journal of Medicine, de uma americana de 55 anos, que após sofrer um acidente de trânsito e receber tratamento médico por meio do antibiótico minociclina, sentiu náuseas e um sabor ruim na boca, ao acordar, estava com a língua de cor preta e textura espessa.
Motivos
Segundo o especialista em Periodontia, Umberto Ramos, a língua pilosa atinge uma pequena parcela da população (cerca de 0,5% dos adultos). É a manifestação clínica do acumulo de queratina nas papilas filiformes, responsáveis por parte de nossa sensibilidade gustativa. “Esse acumulo pode ocorrer por dois motivos: excesso de produção de queratina ou falta de descamação da camada de queratina”.
Segundo o especialista, a língua pilosa não necessariamente será negra ou castanho escura. “Essa pigmentação decorre pelo acumulo de certas bactérias bucais chamadas cromogênicas, que produzem pigmentos escuro enegrecido e são as mesmas bactérias que fazem o famoso tártaro deixar de ter um tom mais claro e passar a apresentar-se escuro”, explicou.
Fatores de risco
Além dessas ditas bactérias, o escurecimento também pode vir de substâncias ingeridas ou inaladas, como antibióticos, café, tabaco e cannabis sativa. Devido ao acumulo de bactérias, a língua pilosa pode também ser responsável pela halitose, (mal hálito) de seu portador. Por isso, uma boa higiene bucal é extremamente importante para evitar a doença, assim como demais doenças bucais, alguns exemplos são cáries e gengivite, que podem levar a perda dentária quando não tratadas.
Uso excessivo de antibióticos
De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil apresenta uma média superior aos países da Europa em relação ao uso de antibióticos, com quase 23 doses por dia. O risco é que a ingestão indiscriminada desse tipo de medicamento, seja por escolha do paciente ou sob prescrição médica, possa causar uma série de efeitos colaterais como náuseas, vômitos, diarreia, reações alérgicas, entre outras condições, como a língua pilosa.
De acordo com a infectologista Maria Lúcia Biancalana, outra preocupação relacionada ao uso incorreto dessa classe de medicamentos é a de que surja uma seleção de bactérias multirresistentes aos antibióticos. Por isso, aconselha-se que a medicação seja utilizada apenas com prescrição médica.
Tratamento da língua pilosa
Basta suspender o agente que está provocando ou acelerando a patologia. No caso da americana, foi interrompido o uso do antibiótico e quatro semanas depois a língua da paciente voltou ao normal.
O especialista Umberto Ramos também destaca que apesar do aspecto anti-estético e o estigmatismo social, a língua pilosa não é uma doença maligna que apresente risco de morte e não é transmissível.