Mais de 300 mil capixabas estão na fila aguardando por consultas com médicos especialistas no Estado. A espera por atendimento no sistema de saúde público do Espírito Santo pode chegar a um ano.
Miguel, de 9 anos, já foi submetido a três cirurgias cardíacas. Há mais de um ano, ele foi diagnosticado com epilepsia. Até hoje, a mãe não conseguiu uma consulta com um neuropediatra para avaliar um tratamento.
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A mãe, Lorena Cristina Meriguette, conta que não consegue marcar um retorno, mesmo com pedidos do posto de saúde de um neurologista e de um cardiologista há mais de um ano.
“Ele tinha 7 anos e nove meses. Agora, ele tem 9 anos. E a gente não consegue mais retorno e nem resolver o problema. A gente vai lá, eles pedem o número, falam que vão ligar, mandam mensagem, mas não resolvem o problema”, disse a mãe de Miguel.
Segundo ela, Miguel tem baixo rendimento escolar e não pode fazer as aulas de jiu-jitsu, por conta dos riscos cardíacos. Sem um tratamento adequado, o menino vive com restrições.
“Como a criança tem um estado de saúde grave e o Estado não me dá um suporte, uma consulta, um tratamento? Ele precisa de um tratamento pro resto da vida”, reclama Lorena.
Esse caso é um de muitas famílias capixabas que aguardam por uma consulta com especialista. O secretário de saúde do Estado, Tyago Hoffman, admite que há dificuldades na contratação de médicos, em especial neuropediatras, especialidade que o Miguel precisa.
“Não é simples encontrar um neuropediatra. Nós devemos ter cerca de 10 profissionais deste no Espírito Santo todo, todos concentrados na Grande Vitória”, explica o secretário.
Ainda segundo a Secretaria, neurologia adulto, ortopedia e pediatria são outras especializações escassas, com poucos profissionais especialistas.
Atualmente, mais de 300 mil capixabas estão na fila por uma consulta com médicos especialistas, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado. Em alguns, casos, a espera chega a um ano.
Para tentar reduzir a fila, em fevereiro, o governo do Estado passou a oferecer atendimento por telemedicina. Até hoje, 3.902 consultas foram realizadas, em 12 especialidades. O objetivo do Estado é ofertar 265 mil teleconsultas em um ano.
“A teleconsulta é um caminho importante para reduzir o tempo de espera, porque o profissional pode estar em qualquer parte do Brasil. Não há mais a limitação física de ter que encontrar este profissional no nosso território”, argumenta Hoffman.
Depois de um ano de espera, Lorena ainda não conseguiu uma consulta para Miguel, nem presencialmente e nem à distância.
Eu me sinto de mãos atadas, porque eu não sei o que fazer. Eu poderia pagar uma consulta, mas o que a médica fala é que não adianta, porque depois eu não vou ter dinheiro para pagar uma cirurgia, conta a mãe emocionada.