Saúde

Malária na gestação pode reduzir perímetro da cabeça de recém-nascido

Apesar de a microcefalia ser reversível ao longo do crescimento, não se sabe as consequências futuras para a criança

Foto: Foto: Jamille G. Dombrowski
Amostras de sangue das gestantes infectadas pela malária. 

Gestantes infectadas com malária possuem maior risco de terem partos prematuros e filhos com microcefalia. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa foi realizada com gestantes, no Acre, e constatou que é possível reverter o processo conforme ocorre o crescimento da criança.

Objetivo do trabalho foi avaliar os efeitos deletérios da malária durante a gravidez e produzir dados para subsidiar ações públicas na área de saúde materno-infantil da região.

Foto: Foto: Rodrigo M. Souza
Amostra de placenta das gestantes que fizeram parte da pesquisa.

Constatação

Na fase gestacional, as complicações parasitárias se tornam mais graves devido à situação de vulnerabilidade da mulher e ao fato de a doença vir associada à anemia. Além do perímetro cefálico (circunferência da cabeça) reduzido, que foi um dos achados mais importante desta pesquisa, outros estudos já haviam comprovado problemas relacionados à saúde do recém-nascido e da mãe, especialmente se infectada por malária nos últimos meses de gravidez. A doença está diretamente relacionada à anemia materna, risco de aborto, restrição no crescimento intrauterino, parto prematuro e baixo peso no nascimento, relata Claudio Romero Farias Marinho, coordenador do estudo. 

Segundo o pesquisador, até o momento, a microcefalia estava associada a outras infecções durante a gestação, como o vírus da zika. Porém, nas amostras mais recentes desta pesquisa, foi observado que o parasita da malária também pode causar esta anomalia no feto. Diferentemente do que é observado nos casos do vírus da zika, é sabido que para várias outras doenças, depois de alguns meses, as crianças que nascem com o perímetro cefálico reduzido podem ter o quadro revertido e ter o tamanho do crânio normalizado. O que, na opinião da também pesquisadora, Jamille Gregório Dombrowski, não minimiza o problema porque ainda não existem estudos no campo da malária gestacional avaliando a extensão do comprometimento neurológico do bebê afetado, mesmo que seja temporário.

No estudo, 600 gestantes foram acompanhadas durante seu período gestacional e outro retrospectivo feito foi o cruzamento de dados sociais e clínicos de mães e de recém-nascidos, extraídos do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, e episódios de malária, obtidos no Sistema Nacional de Informação de Vigilância Epidemiológica da Malária.

Malária 

A malária é uma doença causada por parasitas do gênero Plasmodium, que é transmitido por mosquitos fêmeas. No Brasil, o mais comum é o Plasmodium vivax, menos perigoso do que o Plasmodium falciparum, que é mais predominante na África. Estima-se que 125 milhões de mulheres correm risco de contrair malária durante a gravidez. 

Segundo Jamille, “os efeitos da malária são devastadores”. O baixo peso ao nascer, por exemplo, reflete em retardo de crescimento dentro do útero e parto prematuro, que são importantes fatores para doenças infantis. A baixa do peso tem sido associada à mortalidade infantil, ao desenvolvimento cognitivo deficiente e ocorrência de doenças não transmissíveis mais tarde na vida. O baixo peso ao nascer devido à malária está relacionado com até 100 mil mortes infantis por ano nos países endêmicos, como o Brasil.

Por ser uma doença de notificação compulsória, o cruzamento dos dois bancos de dados de registros de vigilância pública de saúde “é uma estratégia eficaz para planejar medidas preventivas como a identificação de epidemias em áreas mais afetadas, reduzindo, assim, desfechos negativos das crianças ao nascer”, reforça Jamille.

Foto: USP

Estas informações foram disponibilizadas pela Universidade de São Paulo (USP).