A maternidade tem o poder de trazer à tona nossas feridas mais profundas em diversas situações. Medos, angústias e sensações de abandono, que tentamos esconder ao longo da vida, acabam ressurgindo quando nossos filhos vivem situações que tocam nossas próprias dores do passado.
Foi exatamente isso que aconteceu comigo quando minha filha, Camila, mudou de escola.
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Em 2020, ela entrou em uma turma onde os alunos já estavam juntos desde o Grupo 1, enquanto ela ingressava no Grupo 4.
Após poucas semanas de aula, as atividades foram suspensas devido à pandemia de covid-19. Porém, quando as atividades foram retomadas, percebi que ela se aproximou de uma das crianças novatas.
Em fevereiro de 2021, as aulas retornaram, mas, em março, recebi a notícia de que essa amiga de quem ela mais havia se aproximado, mudaria de cidade e, consequentemente, de escola.
No momento em que a mãe dessa menina me contou a novidade, senti um aperto no peito e pensei: “Agora que minha filha fez amizade na escola nova, a amiga vai embora.”
Maternidade: a dor era minha, não da minha filha
Porém, ao refletir, percebi que essa dor não era dela, mas minha. Eu é que havia sofrido ao trocar de escola na infância e me sentir deslocada. Era minha criança interior que revivia o medo de ser abandonada e ficar sozinha.
Na saída da escola, Camila me perguntou sobre a conversa, e eu contei que sua amiga mudaria de escola na semana seguinte. Qual foi a reação dela?
Apenas quis saber quando isso aconteceria e seguiu a vida. Nos dias seguintes, continuou frequentando a escola normalmente, cercada por outras amigas.
Talvez eu tenha projetado minha própria experiência ao acreditar que essa amizade era a mais importante para minha filha. A verdade é que a identificação foi maior entre mim e a mãe da amiga dela, e não entre as crianças.
Revisitar feridas do passado
Essa experiência me mostrou algo essencial: a dor era minha, e não da minha filha. Ela lidou com a mudança de forma natural, enquanto eu fui transportada para as minhas próprias feridas emocionais.
A maternidade nos convida a revisitar nosso passado, muitas vezes revelando projeções de nossas inseguranças nos nossos filhos. Isso levanta uma pergunta importante:
- Estamos dispostos a olhar para essas feridas com carinho e acolhimento para que não influenciem a forma como criamos nossos filhos?
Como identificar e evitar projeções
Aqui estão algumas dicas para evitar projetar suas vivências emocionais nos seus filhos:
- Reconheça seus sentimentos: identifique se a situação realmente causa sofrimento no seu filho ou se está trazendo suas próprias memórias à tona.
- Escute seu filho: dê espaço para ele expressar seus sentimentos sem interpretar tudo a partir da sua perspectiva.
- Pratique o autocuidado emocional: terapia, leitura e conversas com outras mães ajudam a lidar com antigas dores.
- Aceite que as experiências deles são diferentes: seu filho está criando as próprias histórias, que podem ser bem diferentes das suas.
Maternidade é um convite ao autoconhecimento
A maternidade é um convite constante para o autoconhecimento. Ela nos faz revisitar memórias que achávamos esquecidas e questionar nossas reações.
Ao identificar o que é nosso e o que pertence aos nossos filhos, criamos um ambiente mais saudável e amoroso para que eles cresçam sem carregar nossas dores.
E você? Quais feridas a maternidade trouxe à tona? Compartilhe suas experiências e reflexões.