Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde revela que o uso de narguilé avança entre adolescentes de escolas públicas e privadas do Brasil. O levantamento aponta que 9% dos alunos do ensino fundamental já haviam fumado com o aparelho, sendo que o percentual, três anos antes, era de 7%. Os resultados ameaçam a redução dos indicadores de fumo no país e também a saúde dos jovens.
No Brasil, ao menos 212 mil pessoas fazem uso do narguilé, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o maior consumo se dá entre estudantes de escolas particulares, nas regiões Sul e Sudeste. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma sessão de narguilé, de vinte a oitenta minutos, corresponde à exposição de componentes tóxicos presentes na fumaça de 100 cigarros. Os estudos revelam ainda que a quantidade de monóxido de carbono (CO) inalada no consumo do produto é muito maior que no cigarro, pois não se utiliza filtro.
Dados da Universidade de Brasília (UnB) comprovam que a água consumida no aparelho diminui só em 5% a quantidade de nicotina, um dos componentes de cigarros (e outros produtos do gênero) que causa dependência química, física e psicológica. Alguns estudos sugerem que a quantidade de nicotina inalada com o narguilé é pelo menos o dobro da inalada pelo consumo do cigarro normal, causando uma dependência ainda maior.
O monitoramento do comportamento dos adolescentes é essencial, pois dá um panorama dos hábitos futuros. O Ministério da Saúde informa que, embora os números gerais do tabagismo no Brasil tenham estabilizado, há uma tendência de aumento entre jovens de até 24 anos. Um alerta é que o narguilé pode ser um degrau para o uso de bebidas alcoólicas e de outras drogas, sejam lícitas ou ilícitas.
“Difundido pela indústria tabagista como uma forma inofensiva de consumo de tabaco com a argumentação de que a água seria capaz de filtrar os componentes tóxicos, o narguilé é sim prejudicial à saúde. De acordo com a OMS, não existe consumo seguro de tabaco, incluindo charuto, cachimbo, cigarro e o próprio narguilé. Outra preocupação é que o uso de narguilé está associado, muitas vezes, ao consumo de outras drogas. Algumas pessoas colocam bebida alcoólica, como vodka e cachaça, ao invés da água, e misturam maconha ou crack com o tabaco. Nessas situações, o narguilé se torna uma verdadeira bomba. Além do álcool, que é volátil, a pessoa também inala as substâncias tóxicas do tabaco, das outras drogas e da fumaça do carvão”, comenta da Carolini Cavallini, psicóloga da Clínica Vivere.