Saúde

Mulher abusada pelo pai na infância desenvolveu 2,5 mil personalidades

Jennifer Haynes, de 49 anos, foi abusada por seu pai e pode ter desenvolvido uma doença recentemente denominada Desordem de Identidade Dissociativa

Foto: Reprodução /Youtube

Um grave caso de abuso sexual está intrigando especialistas em psicologia no mundo. Um fato, no entanto, é incontestável, segundo a mídia internacional, entre as quais se incluem publicações como o Mirror, o Daily Mail e o 60 Minutes, programa da CBS que investigou o caso. Jennifer Haynes, de 49 anos, foi abusada por seu pai, Richard Haynes, dos 4 aos 14 anos, e pode ter desenvolvido uma doença recentemente denominada Desordem de Identidade Dissociativa.

O trauma foi tão grande que os abusos sexuais podem ter causado a patologia que leva este nome. Como proteção, ela desenvolveu cerca de 2,5 mil personalidades diferentes. E apresentou ao vivo, durante o programa 60 minutes, como se estivesse fazendo uma terapia em público, algumas destas personalidades, enquanto visitava locais em que foi abusada.

Aos 49 anos, ela decidiu divulgar o caso há alguns anos porque, de outra maneira, diz que não teria como expor o seu abusador, antes da formalização das acusações.

Jennifer contou que precisou se submeter a múltiplas cirurgias para reconstrução de órgãos vitais, por causa da violência sofrida. Richard admitiu no juri pelo menos 25 acusações e será sentenciado na próxima sexta-feira (31).

O julgamento está ocorrendo no New South Wales District Court, em Sydney, Austrália, onde os abusos ocorreram nos anos 70 e 80, e para onde Richard foi extraditado, vindo do Reino Unido, em fevereiro de 2017.

Segundo Everton de Oliveira Maraldi, doutor em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), entre outros títulos, o diagnóstico em si é controverso. Outras patologias ou problemas, não necessariamente sob esse nome, podem ter sido causados em decorrência das agressões.

“Não há um consenso em relação ao diagnóstico de Desordem de Identidade Dissociativa. Outros diagnósticos podem se mesclar em cada caso. Não há um consenso. Há críticas sobre como os manuais de psicanálise têm definido patologias. Mas não há dúvida que, quando uma pessoa passa por abusos na infância, isso pode gerar vários tipos de problemas, como crises de identidade.”

Maraldi ressalta que casos como o de Jennifer podem provocar diversos tipos de reações.

“A pessoa pode reagir de diferentes formas. Podem ser desencadeados diversos transtornos, como depressivos ou psicóticos. Uma coisa é o diagnóstico, outra é o fenêmeno. A experiência do trauma não pode ser desprezada.”

Tratamento adequado

Jennifer apresentou ao público pelo menos dois “personagens” desenvolvidos por ela durante os abusos. Um era um menino chamado Little Ricky e outro era um adolescente chamado Muscles (Músculos). As vozes e os comportamentos, inclusive, eram diferentes.

Apesar de, segundo Maraldi, em muitos casos, o fator cultural poder ser determinante para influenciar o comportamento das vítimas, há estudos que demonstram cientificamente uma mudança de comportamento em outras tantas situações.

“Há estudos que mostram realmente a mudança de padrões cerebrais de uma mesma pessoa em diferentes momentos.”

Maraldi, porém, ressaltou que tais transtornos podem ter cura, se tratados adequadamente com um especialista em psicologia ou psicanálise.

“Existe tratamento, segundo mostram protocolos. Muitas pessoas se recuperam deste tipo de transtorno se forem encaminhadas a um tratamento adequado. Vale lembrar que cada caso é um caso.”

Com informações do Portal R7.