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Neurologia sem mitos: você realmente sabe o que é verdade?

Mitos e verdades da neurologia: saiba o que a ciência realmente diz sobre as causas de dores de cabeça e tremores

Foto: Freepik
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Quando o assunto é neurologia, os mitos estão por toda parte. Quem nunca ouviu dizer que “toda dor de cabeça forte é sinal de tumor” ou que “tremores sempre indicam Parkinson”?

Essas ideias podem causar preocupações desnecessárias e atrasar diagnósticos diferenciais importantes.

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Vamos esclarecer os mitos mais comuns da neurologia e entender o que a ciência realmente diz sobre eles.

Neurologia sem mitos: principais dúvidas

1. Dor de cabeça forte é sinal de tumor cerebral

Se você já teve uma dor de cabeça intensa, talvez tenha pensado: “Será que é um tumor?”.

Essa preocupação é comum, mas, felizmente, tumores cerebrais são uma causa rara de dor de cabeça.

A maioria das dores de cabeça tem causas primárias, como enxaqueca e cefaleia tensional, que representam a maioria dos casos.

  • Sinais de alerta para cefaleias secundárias incluem:
    • Dor que piora progressivamente.
    • Alteração neurológica associada, como fraqueza ou confusão.
    • Dor de início abrupto, descrita como a “pior dor da vida”.

Se as dores forem frequentes ou acompanhadas de sinais de alerta, procure um especialista.

2. Alzheimer é parte natural do envelhecimento

Esse é um mito comum. Embora o Alzheimer seja mais frequente em idosos, ele não é uma consequência natural do envelhecimento.

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que provoca acúmulo de proteínas anormais no cérebro.

Diferente dos esquecimentos leves comuns no envelhecimento saudável, como esquecer onde colocou os óculos, o Alzheimer causa problemas mais graves:

  • Esquecer eventos importantes.
  • Confundir datas.
  • Não reconhecer familiares.

Identificar sinais precoces e buscar diagnóstico é fundamental. Embora a doença não tenha cura, tratamentos podem desacelerar sua progressão.

3. Tremores são sinal de Parkinson

Nem todo tremor é sinal de Parkinson. O tremor essencial, por exemplo, é hereditário e ocorre durante o movimento, como ao segurar um copo.

Já o tremor do Parkinson aparece em repouso e é acompanhado por outros sintomas, como:

  • Rigidez muscular.
  • Lentidão dos movimentos.

Ansiedade, medicamentos e hipoglicemia também podem causar tremores. Avaliar o contexto é essencial para determinar a causa correta.

4. AVC só acontece em pessoas mais velhas

Embora o AVC seja mais comum em idosos, ele pode ocorrer em qualquer idade, inclusive em jovens. Fatores de risco incluem:

  • Hipertensão.
  • Diabetes.
  • Colesterol alto.
  • Tabagismo.
  • Uso de anticoncepcionais.

Sinais de um AVC incluem fraqueza em um lado do corpo, dificuldade para falar e perda de equilíbrio.

Se notar algum desses sintomas, busque atendimento imediato. O tempo é crucial para evitar sequelas.

5. Toda convulsão é sinal de epilepsia

Nem toda convulsão indica epilepsia, e nem toda crise epiléptica é convulsiva. Convulsões podem ser causadas por:

  • Febre alta.
  • Traumas.
  • Infecções.
  • Abstinência de álcool.

A epilepsia é uma condição crônica caracterizada por crises recorrentes e não provocadas. Algumas crises não envolvem convulsões, mas podem se manifestar como lapsos de atenção ou movimentos repetitivos.

6. Estresse e ansiedade não causam sintomas neurológicos

Estresse e ansiedade podem, sim, causar sintomas que se parecem com doenças neurológicas, como:

  • Tonturas.
  • Tremores.
  • Sensação de desmaio.

Esses sintomas são chamados de somatizações e têm origem emocional. No entanto, sintomas semelhantes também podem indicar condições neurológicas, como esclerose múltipla ou AVC.

7. Doenças neurológicas não têm tratamento

Essa ideia é ultrapassada. Muitas doenças neurológicas têm tratamentos eficazes, que ajudam a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.

  • Alzheimer e Parkinson não têm cura, mas os tratamentos desaceleram a progressão.
  • Epilepsia e AVC têm terapias eficazes, principalmente quando diagnosticadas precocemente.
Cuide da saúde do seu cérebro

Cuidar da saúde do cérebro não é sobre eliminar todas as preocupações, mas sim sobre entender os sinais, buscar informações confiáveis e agir com consciência. 

Mitos geram incertezas que podem atrasar diagnósticos ou tratamentos, enquanto a verdade abre caminhos para viver com mais qualidade. 

Se você percebe sintomas como dores de cabeça frequentes, tremores ou esquecimentos, não hesite em procurar ajuda. Seu cérebro merece atenção real.

Dra. Camila Resende Colunista
Colunista
Médica. Neurologista e Neurofisiologista (Residência médica USP - RP). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) @dracamilaresende