Saúde

É perigoso comer baiacu? Entenda os riscos após morte de morador de Aracruz

Entenda os riscos de comer o peixe, o que é a toxina, onde ela é encontrada no baiacu e se existe antídoto para o veneno

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: reprodução/pixabay
Existem, pelo menos, cerca de 20 espécies de baiacu no Brasil. Algumas com contração maior e outras menor de toxina ( tetrodotoxina).

O caso da morte de um morador de Aracruz, no Litoral Norte do Espírito Santo, após comer fígado de baiacu, trouxe à tona uma série de questionamentos e dúvidas a respeito dos riscos que envolvem o consumo do peixe. Magno Sérgio Gomes, de 46 anos, morreu no último sábado (27) após ficar um mês internado em um hospital na Grande Vitória.

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Myrian Gomes Lopes, irmã da vítima, contou detalhes desde que o irmão comeu o baiacu.

"Ele estava com a boca tão dormente que não conseguia pronunciar o próprio nome. Os médicos desconfiaram do envenenamento e, quando começaram a prestar os primeiros socorros, meu irmão teve uma parada cardíaca que durou oito minutos. Foi um milagre ele ter voltado. Então, entubaram e o encaminharam para uma UTI em Vitória", explicou.

Tudo aconteceu de maneira rápida. Magno começou a sentir-se mal cerca de 30 minutos após consumir o peixe. Myrian contou que o irmão já tinha o costume de comer o fígado do peixe com sal e limão, porém, não sabia limpar o animal.

"A gente tinha o costume de comprar o peixe na peixaria e o Magno gostava de comer o fígado com sal e limão. Dessa vez, não sabíamos a procedência do peixe que o amigo dele trouxe, até porque esse amigo pescava, também. Esse amigo passou mal, está se recuperando em casa com várias sequelas, inclusive", disse.

Para entender melhor os riscos de comer o peixe, o que é a toxina e onde ela é encontrada no baiacu, se existe antídoto para o veneno, a reportagem do Folha Vitória conversou com Daniel Gosser Motta, biólogo e Mestre em Biologia Animal pela Ufes.

Todas as espécies de baiacu possuem toxina? Como se chama?

Todas as espécies de baiacu possuem, em sua maioria, uma toxina na vesícula biliar (popularmente chamada de fel), sendo essa toxina chamada de tetrodotoxina (TTX).

Caso consumida, o que pode desencadear no organismo?

Se ingerida pode causar desde leve dormência na boca, mãos e pés, até a morte por parada cardiorrespiratória, sendo que tais problemas dependem da quantidade ingerida da toxina.

Casos de intoxicação pelo consumo do peixe são raros?

Os casos de intoxicação pela tetrodotoxina do baiacu são raros e os sintomas vão variar com a quantidade de toxina ingerida, sendo que na maioria dos casos, ela é letal.

Existe uma maneira correta de se limpar o baiacu? Qual?

A forma correta é retirar esse fel, de forma que ele não estoure, pois se estourar, vai contaminar toda carne do baiacu. O consumo do baiacu, na minha opinião, deve ser evitado porque exige muita destreza na hora da sua limpeza e há chances de comprarmos sua carne contaminada pela toxina. 
Vale ressaltar que a tetrodotoxina é uma toxina termoestável, ou seja, não sofre alteração se a carne do peixe for aquecida ou congelada.

Existe antídoto para o veneno?

Não existe antídoto para a tetrodotoxina. Normalmente, o tratamento consiste, na fase inicial da intoxicação, na realização de uma lavagem gástrica no paciente até a utilização de ventilação mecânica na fase mais avançada.

Entenda o caso

Magno Sérgio Gomes, de 46 anos, começou a passar mal minutos após comer fígado de baiacu. O caso aconteceu no dia 23 de dezembro do ano passado. Segundo Myrian Gomes Lopes, irmã da vítima, Magno ganhou o peixe de um amigo que também comeu, passou mal e atualmente se recupera em casa com sequelas.

Foto: arquivo pessoal
Magno Sérgio Gomes começou a passar mal minutos após comer fígado de baiacu

"O amigo dele está com sequelas neurológicas e na perna, porque ele não anda direito. Está se culpando muito. Quero deixar claro que ele não foi culpado, ele também foi vítima, pelo menos eu entendo assim".

Magno deixou três filhos, sendo duas meninas de 23 e 15 anos, um menino de 19 anos, a esposa e uma família grande.

Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa)  informou que foi notificada sobre o caso e a equipe da Vigilância em Saúde seguirá o protocolo de investigação em conjunto com o município.

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