Saúde

Apagão sexual? Saiba por que a geração Z faz menos sexo

Estudos apontam que jovens entre 18 e 24 anos estão mais preocupados com os estudos e a independência financeira. Modo de se relacionar é diferente para essa geração

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Freepik - @ijeab

Eles nasceram entre 1996 e 2010. São conhecidos como geração Z. Cresceram junto com a popularização da internet e as redes sociais e de acordo com uma pesquisa realizada em 2020, por um instituto na Suécia, estão fazendo menos sexo. É isso mesmo! 

Em uma época em que se fala tanto sobre a liberdade sexual parece até um contrassenso. Mas então, do que se trata esse fenômeno?

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Dados do estudo revelaram que 19% das mulheres e 31% dos homens, com idades entre 18 a 24 anos, afirmaram não ter feito sexo ao longo do último ano antes da pesquisa. 

Se para algumas pessoas o sexo chega a ser uma necessidade biológica, para outros nem tanto. A sexóloga e terapeuta Virgínia Pelles acredita que essa geração está mais preocupada em conquistar a própria independência financeira, a estabilidade profissional e fazer as coisas que gostam. Não se incomodam em ficar sem sexo.

"É como se o sexo estivesse perdendo espaço porque a juventude está mais ocupada. Preocupada com o depois", disse. 

Virgínia lembra ainda que nas gerações anteriores, hoje na faixa dos 40 anos, a história não era bem assim. Quando se estava na casa dos 25, 30 anos logo surgia a cobrança de casar e ter filhos. De se envolver emocionalmente. 

"As pessoas eram movidas pelo romance. A paquera era concreta. O jogo da conquista e da sedução era algo muito importante e valorizado. Os jovens de hoje perderam o romantismo, aquele sonho de se entregar, de 'fazer amor'. Estão mais conectados com a parte mais prática e dinâmica da vida".

A sexóloga lembra ainda que essa também é uma geração 'canguru', ou seja, que leva mais tempo para sair de casa por que não faz realmente tanta questão. Segundo dados do IBGE de 2015 (os mais recentes até agora), um em cada quatro jovens ainda vive com os familiares. Independentemente de ter renda própria.

"Essa geração chega com um novo formato. Parece que aos 21 anos não são tão maduros. Filhos não vêm a necessidade de sair de casa. Seguem com os pais até na faixa dos 35 anos".

Acesso "livre" à pornografia 

Para a terapeuta, outro fator que corrobora com esse desinteresse por sexo é o acesso fácil aos conteúdos pornográficos. Se antes era preciso ter 18 anos para comprar uma revista com esse tipo de informação em uma banca de jornais, atualmente basta um clique no celular e logo surgem centenas de vídeos.

"O que eu percebo, sempre que participo de eventos com jovens, é que eles dedicam longas do tempo horas em redes sociais. Passam pouco tempo realmente conectados com o mundo real".

Virgínia conta ainda que não é incomum ouvir relatos de pacientes que dizem não ter vontade de fazer sexo e que preferem dormir a ter relação com o parceiro, por exemplo. "Existe um grupo que vive assim. Já outros que quando estão no 'aperto', procuram um 'contatinho', afirmou.

Medo de envolvimento físico

Para Gisélia Freitas, psicóloga, a pandemia e o tempo de isolamento vieram ressaltar tudo isso ainda mais. "A geração Z estava pronta para sair para o mercado, começar a se expor, a namorar e acabaram isoladas", disse.

Porém, no ponto de vista de Gisélia, na verdade o que há é uma mudança no modo em que as coisas funcionam. Inclusive, muitos namoros surgiram de contatos pelo mundo online. "Não gosto muito da palavra apagão. Existe na verdade uma busca menor, porém feita de uma outra maneira".

A psicóloga destaca que tudo não passa de uma mudança de hábitos relacionais. 

"Antes o sexo era por curiosidade, hoje com acesso a sites e muitos contatos virtuais, surge a exploração do corpo por meio da virtualização do sexo. Uma nova forma de pensar", acredita. 

A quebra de tabus é outro fator importante. A mulher tocar o próprio corpo, usar brinquedos eróticos para sentir prazer já não é mais tabu. 

Além disso, Gisélia também acredita que trata-se de uma geração bastante preocupada com o futuro, com os estudos e que é mais competitiva que as gerações anteriores. "São novos modelos sociais que têm elaborado uma nova forma de pensar no sexo".

Frustrações

Um outro quesito bastante debatido por estudiosos do assunto é a relação da juventude com a tolerância às frustrações, que à propósito, reduziram consideravelmente. 

"Existem duas leituras na frustração: no relacionamento, é o desistir fácil. As mulheres têm procurado mais os homens que os homens às mulheres. Elas vão atrás, buscam, chamam para sair. E quando isso não é correspondido, existe um sofrimento exacerbado com a frustração", lembra Gisélia.

Os padrões de corpos e beleza disseminados na internet também atrapalham bastante essas relações. Se desnudar para o outro é mostrar o próprio corpo, como é realmente, com todas as suas imperfeições. 

"Esse padrão de beleza virtualizado faz com que muitos homens e mulheres se sintam frustrados com a própria aparência. Ataca a autoestima e isso é perigoso. São muitas as mudanças que vêm acontecendo. É preciso acompanhar toda essa transformação", destaca.

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