Filtro da beleza com inteligência artificial acende alerta entre especialistas; entenda
Uso da ferramenta para criar o "corpo perfeito" pode desencadear uma série de transtornos de saúde como bulimia e depressão
Nas últimas semanas, um novo filtro usado nas redes sociais tem levantado polêmica e preocupação de profissionais da saúde. O "Bold Glamour" usa a inteligência artificial para criar o que seria a imagem de um rosto perfeito sem que as pessoas precisassem passar por procedimentos estéticos.
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A ferramenta, assim como outras que prometem vídeos e fotos com a pele regenerada e sem marcas de expressão, dividiu os internautas. Algumas pessoas defendem o uso do filtro para deixar as fotos mais "bonitas". Já outras questionam o padrão estético criado pela imagem.
A discussão sobre o impacto do uso dos filtros nas redes sociais e outras ferramentas de edição de imagem para "mudar" os rostos pela busca do "corpo perfeito" é importante e vai além do ambiente digital.
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Na área da saúde, por exemplo, a preocupação dos especialistas é que o uso desse tipo de filtro crie ou reforce um padrão estético e, consequentemente, provoque o aumento de casos de bulimia, de transtornos relacionados à compulsão alimentar e até mesmo de depressão.
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Segundo a psicóloga Letícia Santana, um grande perigo é condicionar a aceitação da própria imagem a partir da visão distorcida e irreal que o filtro traz. Isso significa que a pessoa somente se aceita ou gosta dela mesma a partir dessa lente. Para Letícia, é a partir daí que todos os problemas emocionais vão começar a surgir e todos eles vinculados a questão da autoaceitação.
"Pensando nesse viés que o filtro deixa de ser uma distração, uma brincadeira e passa a ser uma obsessão, uma necessidade, na fase da adolescência isso se torna mais complicado por que essa condição instalada vai atravessar esse indivíduo até a fase adulta e aí a autoestima já está completamente distorcida", disse.
É exatamente na fase da adolescência que a identidade está sendo construída. O adolescente necessita da aceitação do grupo, de se sentir pertencente para que possa se sentir seguro. A psicóloga pontua que quando ele precisa se esconder atrás de um filtro, há uma desconexão entre o mundo real e o mundo virtual.
O indivíduo, então, passa a só se aceitar a partir desse lugar distorcido. A vida real deixa de ser interessante e as consequências costumam ser severas.
"Aumento dos distúrbios alimentares, bulimia e anorexia, o aumento de procedimentos estéticos, principalmente na parte do rosto, nariz e boca em meninas cada vez mais jovens. O que isso fala? Uma necessidade de pegar aquele filtro idealizado e trazer para a vida real", pontua Letícia.
Além dessas questões, vem a dificuldade de se relacionar com o outro. Quando a pessoa se coloca para o outro no mundo real, segue com todas as imperfeições: rugas, espinhas, um rosto que não é tão simétrico. Então, fica o questionamento: até que ponto nos aceitamos dessa forma e até que ponto queremos aceitar o outro com as distorções dele.
"O que a gente vê hoje, infelizmente, é uma crise nos relacionamentos, na amizade, conjugais. As pessoas estão tendo mais dificuldade de tolerar, mais dificuldade de estar próximo e manter um diálogo. Eu passo muito mais tempo naquele contexto idealizado, virtual e ele é 'muito mais agradável'", destaca.
Autoestima destruída
"A autoestima fica destruída", é assim que a psicóloga define a consequência do uso desses filtros. Ela lembra que a autoestima é algo que envolve muitos conceitos: a autoimagem, o conceito da autoconfiança e de autorrealização.
Letícia diz que gosta de pensar a autoestima como um conceito que diz "eu gosto de mim apesar de mim", ou seja, o gostar de si próprio com as virtudes e imperfeições que tem. Pessoas que têm uma autoestima consolidada é alguém que conhece as suas vulnerabilidades, conhece os seus defeitos, mas valoriza as suas virtudes, lembra a psicóloga.
Como se prevenir das armadilhas dos filtros de beleza?
Letícia preparou algumas dicas para ajudar a prevenir desdobramentos negativos desencadeados pela distorção da própria imagem, por meio de filtros de beleza.
1. Diminua o tempo de exposição nas redes sociais. Não só a própria exposição, mas o contato com as redes, sobrando tempo para os relacionamentos reais;
2. Analise a sua motivação: se você perceber que o uso do filtro se tornou algo obsessivo, onde você não se reconhece mais na própria imagem, procure ajuda;
3. Pais, conversem muito com os filhos: ouça o que seus filhos têm a dizer. Não adianta sair proibindo o uso de celular e de filtros, procure saber o que eles estão buscando com aquilo, a motivação dele com o filtro. A conversa, o diálogo franco e aberto é uma dica poderosa para prevenir os danos.
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