ES suspende vacinação de grávidas com a AstraZeneca
A decisão anunciada pelo subsecretário de Saúde, Luiz Carlos Reblin, foi tomada após orientação da Anvisa
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) suspendeu a vacinação em grávidas com a vacina AstraZeneca em todas as cidades do Espírito Santo. A decisão, anunciada nesta segunda-feira (11), foi tomada após a recomendação da Anvisa para que as gestantes não recebam a vacina por não haver essa recomendação na bula do imunizantes.
Em entrevista à Pan News Vitória, o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, destacou que todos os municípios já foram avisados.
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"Nós já fizemos a comunicação para os municípios capixabas. A partir de hoje a vacinação contra a covid-19 com a vacina da Astrazeneca está suspensa. Esperamos que ainda hoje o Ministério da Saúde passe alguma orientação para continuar com a vacinação para as gestantes", afirmou.
Sem efeitos graves no ES
Segundo Reblin, a Sesa realiza o levantamento de quantas gestantes receberam o imunizante no Estado, mas até agora, nenhuma grávida apresentou efeitos colaterais graves.
"Nenhuma grávida teve problemas após a vacinação. Há registro de dores no local da aplicação, algumas vezes febre, mas nada grave", salientou.
O Ministério da Saúde incluiu todas as grávidas e puérperas, pessoas que deram à luz recentemente, no grupo prioritário para receber a vacina contra a covid-19. A vacinação no Espírito Santo para o grupo de comorbidades, que inclui gestantes com comorbidades, teve início após ato simbólico no dia 3 de abril.
O período entre a primeira e a segunda dose do imunizante da Astrazeneca é de no mínimo três meses, dessa forma, as grávidas que tomaram a vacina nos últimos dias a recomendação é ficar atenta, e caso apareça algum evento adverso, procurar o atendimento médico.
"Para a segunda dose, esperamos que em até três meses a Anvisa resolva as questões se de fato têm relação a vacina", pontuou Reblin.
No entanto, ele ressaltou que semelhante a Astrazeneca, outras vacinas que já estão há anos no Plano Nacional de Imunização (PNI) também podem apresentar reações adversas, mas que os benefícios que proporcionam são maiores.
Ele explicou ainda que é importante registrar esses eventos, já que eles geram um feedback para os fabricantes no aperfeiçoamento das vacinas.
Especialistas tiram dúvidas sobre vacina
A Astrazeneca virou uma das principais apostas de compra pelo Governo do Estado. A diferença do intervalo entre as doses da Astrazeneca, de um tempo maior, seria um ponto a favor em tempos de escassez de vacinas. Enquanto o intervalo entre as duas doses da AstraZeneca é de três meses, a Coronavac, que está em falta no Estado, deve ser aplicada em até 28 dias. No Espírito Santo, mais de 87 mil pessoas estão na fila para a segunda dose da Coronavac.
Na última semana, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, e a médica infectologista Carolina Salume, falaram a respeito da vacina e sobre sua eficácia.
Do que é feita a vacina AstraZeneca e como ela age?
Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, a vacina, chamada AZD1222, foi desenvolvida por uma equipe da Universidade de Oxford e da empresa farmacêutica britânico-sueca AstraZeneca. "Trata-se de uma vacina vetorial. Segundo a Fiocruz, ela foi desenvolvida com a tecnologia de vetor não replicante de adenovírus de chimpanzés, inofensivo para seres humanos. É uma versão mais fraca do vírus de gripe comum em chimpanzés e contém igualmente proteínas contidas no material genético do vírus Sars-Cov-2", descreve. Após a vacinação, ela explica que o adenovírus penetra em algumas poucas células do corpo humano. Essas células utilizam o gene para produzir a proteína Spike (espícula, ou picos, na superfície do vírus). "O sistema imunológico então reconhece isso como estranho e, em resposta, produz anticorpos e células T, que idealmente protegem contra a infecção com o Sars-CoV-2", conclui.
Como é feito seu armazenamento e qual é a sua eficácia?
A médica infectologista Carolina Salume explica que a vacina Astrazeneca deve ser conservada sob refrigeração (entre 2ºC a 8ºC). Ela faz uma diferenciação de casos em relação à sua eficácia. "A vacina Oxford/Astrazeneca tem eficácia de 76% contra casos sintomáticos da doença, chegando a 85% em idosos com 65 anos ou mais. Essa vacina ainda confere 100% de eficácia contra casos graves e contra aqueles que exigem hospitalização", aponta.
E os efeitos colaterais? Em relação a formação de coágulos no sangue e trombose, há estudos conclusivos?
Carolina aponta que há relatos de pacientes que apresentaram os chamados fenômenos trombóticos após uso do imunizante. "Mas não há estudos conclusivos que comprove tal relação", acrescenta. Ethel concorda e fornece dados numéricos.
"No momento, no Brasil, foram administradas mais de 4 milhões de doses da AstraZeneca. Há 40 casos em investigação. Se olharmos que de quatro milhões de aplicações 40 pessoas apresentaram algum evento, que não foi fatal, é algo muito relevante pelas vidas que foram protegidas. Então, os efeitos são muito raros", informa. Ela lembra que algumas pessoas já tinham pré-disposição a doenças tromboembólicas.
"Por isso não dá para dizer que é a vacina. A Anvisa fez com que a bula da AstraZeneca constasse essa possibilidade. É muito raro. É um evento muito raro", reforçou na última semana.
E se houver?
Ethel explica que, nestes casos, é necessário ajuda médica, como consta na própria bula da vacina. "Os indivíduos vacinados devem ser instruídos a procurar atendimento médico imediato se desenvolverem sintomas como dores de cabeça graves ou persistentes, visão turva, confusão, convulsões, falta de ar, dor torácica, inchaço nas pernas, dor nas pernas, dor abdominal persistente ou hematomas cutâneos incomuns e/ou petéquias (manchas arroxeadas surgidas após sangramento sob a pele) alguns dias após a vacinação
Quem não pode se vacinar?
A infectologista Carolina explica que quem estiver com febre ou com suspeita de covid-19 não deve receber o imunizante até a resolução do quadro. "Em caso de covid-19 confirmado, deve-se aguardar quatro semanas a partir do início dos sintomas para receber a vacina", explica.
O intervalo entre as doses é maior que da CoronaVac. Isso é vantajoso nesse período de falta de doses no Brasil e com o ritmo lento de imunização no país?
Em matéria de infectologia, não há vantagens num cenário de menos opção de vacinas, esclarece a médica. "Pode ser vantajoso na medida que facilita a logística de vacinação, mas o importante é que todos sejam vacinados no menor espaço de tempo possível para conseguirmos frear a pandemia e diminuir número de internações e óbitos", ressalta Carolina.
Quem se vacinou com CoronaVac pode, na falta desta para a segunda dose, receber AstraZeneca no lugar?
Carolina e Ethel são categóricas neste ponto: nada de mesclar imunizantes. "Quem tomou Coronavac deve tomar segunda dose de Coronavac. Quem tomou AstraZeneca deve tomar segunda dose da AstraZeneca. Devemos evitar misturar pois não há evidências científicas ainda", aponta a epidemiologista, lembrando que o intervalo dela é de 12 semanas (três meses) maior que a da Coronavac, que vai de 14 a 28 dias. "A segunda dose da vacina deve ser feita com a mesma vacina recebida na primeira dose", conclui a infectologista.