Saúde

Prefeituras da Grande Vitória bloqueiam CPF de quem escolhe vacina

Em Cariacica, por exemplo o sistema utilizado para realizar o agendamento bloqueia o CPF de quem já marcou a vacina e não compareceu. Nesses casos, só é possível reagendar depois de 48 horas

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Elizabeth Nader

Reagendamento de vacina em busca de laboratórios específicos e imunizantes de dose única. O movimento tem se tornado cada vez mais comum em vários Estados do país. 

Na Grande Vitória, na tentativa de reduzir o problema e ampliar o quanto antes a cobertura vacinal no Estado, as prefeituras têm se mobilizado e criado novas estratégias.

Em Cariacica, por exemplo, quem realiza o agendamento e não comparece no dia e hora marcados, precisa esperar dois dias para agendar novamente a imunização. Segundo a prefeitura, o sistema de agendamento bloqueia o CPF  para um novo agendamento no período de 48 horas. 

O mesmo acontece em Vitória, onde 56,1% da população já foi imunizada com a primeira dose. Na Capital, a pessoa que cancelar o agendamento fica impedida por 24 horas de realizar uma nova marcação no sistema, correndo o risco de não conseguir realizar um novo agendamento.

A Secretaria de Saúde da Capital reforçou que todos os imunizantes têm eficácia comprovada e ressaltou a importância da vacinação, já que quem escolhe esperar por uma determinada vacina continua sem imunização e também corre o risco de se infectar.

Já na Serra, diante da necessidade de vacinar os cidadãos o quanto antes, as vagas canceladas voltam a ser disponibilizadas para agendamento. A secretaria da Saúde reforçou que o momento é de aumentar a cobertura vacinal e não de escolher o laboratório. 

O Folha Vitória também procurou a Prefeitura de Vila Velha para saber o número de reagendamentos realizados no município e o que está sendo feito para evitar o problema.

A assessoria de imprensa do município respondeu que não foram identificados muitos casos de cancelamento, apenas alguns casos em que a pessoa fez o agendamento, mas não compareceu para se vacinar.

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Guarapari não divulgará imunizante 

Em Guarapari, as medidas para conter o problema começam antes mesmo do agendamento. A Prefeitura do município anunciou em uma rede social que não irá mais informar com antecedência qual imunizante será aplicado. De acordo com Secretaria Municipal de Saúde a medida foi tomada conforme orientação do Governo do Estado.

"Seguindo a orientação do Governo do Estado, para que não ocorra situação de escolhas de vacinas, a partir de agora a Prefeitura de Guarapari não irá divulgar qual vacina será utilizada. Essa informação só irá constar no comprovante de agendamento. Vale ressaltar que todas as vacina utilizadas no país são seguras e eficazes contra a covid-19", disse a publicação.

A Secretaria de Saúde do município ressaltou que a informação vai sobre qual vacina será oferecida irá constar no momento em que o agendamento for realizado e no comprovante que deve ser levado impresso.

"Ao iniciar o agendamento, na hora de confirmar os dados aparece qual vacina estará disponível, se a pessoa não puder tomar determinada vacina, ela não deve concluir o agendamento e aguardar a disponibilidade da vacina que ela pode tomar, em um próximo agendamento", diz a nota da prefeitura.

Em uma entrevista na manhã desta quarta-feira (30) para o jornal Espírito Santo no Ar, da TV Vitória, o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, afirmou que a medida é legal. "Isso pode acontecer. A pessoa pode ser informada somente no momento da vacinação", disse.

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Não existe a melhor vacina

Os especialistas são unânimes e fazem questão de reforçar que "não existe uma vacina melhor. A melhor vacina é aquela que vai para o nosso braço". O doutor em epidemiologista Daniel Gomes também explicou que não há justificativa para preferir uma vacina em relação às outras. 

"Essa busca por vacinas de farmacêuticas americanas ou outras farmacêuticas é uma busca equivocada, que não é pautada de forma nenhuma em melhores efeitos que uma pode apresentar em relação à outra", disse. 

A pós-doutora em epidemiologia, Ethel Maciel, concorda e complementa destacando a importância da imunização para o controle da pandemia. 

"A vacina é uma estratégia coletiva. Independentemente da vacina, todas as vacinas são boas, eficazes. Nós precisamos que o maior número de pessoas receba a vacina."

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Comparação entre vacinas não é eficaz

Atualmente o Espírito Santo oferece vacinas de quatro fabricantes diferentes, são os imunizantes da Pfizer, Astrazeneca, Janssen e a Coronavac. Quem escolhe vacinas, alega que compara os percentuais de eficácia ou elege a melhor com base no número de doses necessárias para uma imunização completa. 

"É preocupante que as pessoas estejam desmarcando para reagendar em uma outra possibilidade. Isso têm sido uma constatação não só aqui no Epírito Santo, mas não existe uma razão para que isso seja feito", disse o doutor em epidemiologia Daniel Gomes.

O especialista completou, reforçando que "todas as vacinas que nós temos distribuídas foram previamente aprovadas por demonstrarem segurança e, principalmente, por se mostrarem efetivas, eficazes". 

Daniel explicou que fazer comparações entre as vacinas com base nos percentuais não é uma estratégia eficaz, já que esses números não podem ser comparados entre si. 

"Não existe a melhor vacina e não existe o melhor laboratório. Infelizmente as pessoas comparam aqueles valores absolutos de proteção que foram divulgados depois dos testes de fase 3, e que são diferentes de uma fabricante para a outra, mas aquilo não reflete a proteção da vacina. Aquilo na verdade está muito mais associado a uma proteção global em relação aos grupos que foram utilizados no teste. Como as vacinas foram testadas em momentos diferentes, e usando inclusive grupos populacionais diferentes, essa comparação não pode ser feita simplesmente pegando o número e comparando", explicou. 

O especialista disse que para que pudéssemos fazer uma comparação da eficácia de uma vacina com a outra, seria preciso testá-las simultaneamente e usando os mesmos critérios e os mesmos grupos de teste. "Por isso não podemos fazer essa comparação como as pessoas estão fazendo", finalizou.  

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Avançar na imunização deve ser a prioridade

Mais importante que o laboratório que produziu a vacina, é a vacina chegar a todos o mais rápido possível. Isso porque, segundo especialistas, só é possível alcançar uma imunidade coletiva quando pelo menos 70% da população está vacinada contra o vírus. 

"No meio de uma pandemia, quanto mais rápido a campanha evoluir e quanto mais pessoas forem vacinadas, ou seja, se a cobertura vacinal for grande , mais rápido nós todos sairemos dessa pandemia. Assim as taxas de transmissão vão diminuir e a gente vai conseguir controlar a pandemia", disse a pós-doutora em epidemiologia Ethel Maciel.
Foto: Reprodução
Percentual de cidadãos que receberam a imunização completa contra o Coronavírus no mundo segundo o Our World in Data

Para comprovar a importância da imunização, basta olhar os bons exemplos ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, aproximadamente 50% da população já foi vacinada. Por isso, as pessoas imunizadas já podem se encontrar em locais abertos sem máscara.

"É importante que quando chegar a vez e a pessoa estiver apta, ela aceite a vacina que estiver disponível. Isso é muito importante para que a gente consiga sair dessa pandemia o mais rápido possível", disse a pós-doutora.

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