Jovem é internado com óleo de cigarro eletrônico no pulmão: "Consequência irreversível"
Homem é fumante desde os 18 anos de idade e passou a usar o famoso Vaper, nome comercial de uma das marcas do cigarro eletrônico; veja o que aconteceu
Gabriel Nogueira Souza, um resgatista de fauna que fuma desde os 18 anos de idade, fez a transição do cigarro convencional para o cigarro eletrônico, também conhecido como vaporizador ou Vaper (um dos nomes comerciais, de marca de fabricante), no ano passado.
Na época, sua esposa estava se preparando para uma cirurgia na coluna e ele teve que permanecer no hospital como acompanhante.
"Como no hospital não podia fumar, passei a usar o cigarro eletrônico para sustentar o vício. Ele não era detectável pelo sensor de fumaça e não deixava um cheiro ruim no local", contou à BBC News.
Gabriel compartilhou que passou três meses utilizando o cigarro eletrônico, um período suficiente para resultar em consequências graves para sua saúde.
"Um dia, do nada, acordei tossindo sangue, com muita dor no corpo a ponto de não conseguir levantar da cama. Pensava que ia morrer de tanta dor na região das costelas", relatou o jovem.
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O rapaz imediatamente buscou atendimento no hospital, onde permaneceu internado por um mês.
De acordo com a BBC News, diante dos sintomas de baixa saturação de oxigênio e dificuldades respiratórias, uma série de exames, incluindo tomografias e radiografias, foram realizados.
O diagnóstico revelou uma condição de "vidro fosco" nos pulmões, juntamente com quadros de broncopneumonia e enfisema pulmonar.
É importante notar que o termo "vidro fosco" por si só não indica uma doença específica, mas sim uma anomalia visual nos pulmões que pode sugerir várias questões de saúde, segundo a BBC News.
O nome é derivado da aparência manchada que essa alteração causa nas imagens pulmonares, semelhante ao efeito de um vidro embaçado.
A broncopneumonia, por outro lado, envolve uma inflamação das estruturas internas dos pulmões, como brônquios e alvéolos.
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Por fim, o enfisema pulmonar é uma irritação crônica em que os alvéolos pulmonares são gradualmente destruídos e perdem sua função, resultando em dificuldades respiratórias significativas para o paciente.
De acordo com a BBC News, o tratamento de Gabriel envolveu o uso de antibióticos administrados por via injetável. Ele mencionou que foi necessário quase um mês até que começasse a mostrar sinais de melhora.
"Os médicos explicaram que não foi o cigarro comum que causou os danos. Nos exames, ficou constatado que dentro dos brônquios tinha óleo contido nos cigarros eletrônicos", relata Gabriel. "O problema é irreversível, porque esse óleo não tem como sair do meu pulmão."
RISCOS À SAÚDE
Com embalagem tecnológica atraente e alegações de ser menos prejudicial à saúde, o cigarro eletrônico, oficialmente conhecido como Dispositivo Eletrônico para Fumar (DEF), conquistou popularidade, especialmente entre os jovens.
Segundo a BBC News, enquanto o cigarro tradicional opera por meio da queima de alcatrão, nicotina e uma mistura de mais de 40 substâncias químicos, os eletrônicos são dispositivos alimentados por bateria e diversos mecanismos que geram vapor, que é inalado pelo usuário.
A composição desses dispositivos varia conforme o fabricante, consistindo também de nicotina e outros líquidos, como glicerol, glicerina vegetal, propilenoglicol e flavorizantes, responsáveis pelo sabor.
"Todas essas substâncias podem causar danos à saúde, como irritação nas vias aéreas, nos broncos, bronquite, inflamação e alteração na função pulmonar", explicou à BBC News Brasil o pneumologista André Nathan, do Hospital Sírio-Libanês.
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Além dos impactos no sistema respiratório, pesquisas científicas destacam que a inalação do vapor pode prejudicar o sistema cardiovascular, ampliando o risco de câncer de pulmão e de outros órgãos.
"Ele causa estresse oxidativo, que é um estresse celular aumentando o marcador inflamatório e causando disfunção do endotélio, que são as células que recobrem internamente os vasos sanguíneos", acrescentou o pneumologista.
"Isso pode, por exemplo, causar uma trombose e aumenta o risco da pessoa um infarto ou um AVC (Acidente Vascular Cerebral).”
Uma pesquisa conduzida na Universidade Columbia e publicada no periódico científico Substance Use and Misuse revelou que o uso de cigarros eletrônicos aumenta em até 20 vezes o risco de consumo excessivo de maconha ou álcool.
O estudo analisou informações de mais de 50 mil jovens com idades entre 13 e 18 anos, participantes da pesquisa Monitoring the Future, realizada pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos.
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De acordo com a BBC News, as questões abordaram o consumo de nicotina, tanto em cigarros convencionais quanto eletrônicos, além de maconha e álcool.
Enquanto os jovens que fumavam cigarros comuns tinham cerca de oito vezes mais chances de usar maconha, o uso de cigarros eletrônicos mais que duplicou esse risco.
O hábito de usar o vape também aumentou em cinco vezes a probabilidade de episódios de abuso de álcool no mesmo período.
"Por um tempo se falou sobre o uso do cigarro eletrônico para diminuir o vício ao tabaco, que seria uma contenção de dano, mas infelizmente isso não acontece porque a concentração de nicotina nele é maior e não te faz abandonar o vício e até propicia que você fique pulando de um vício para outro", enfatizou Nathan.
SEQUELAS
Quase dez meses após ter alta hospitalar, Gabriel está passando por sessões de fisioterapia e submetendo-se a um tratamento para se reabilitar dos danos causados pelo uso do vape.
Como medida para evitar um agravamento adicional de sua condição, Gabriel adotou uma dieta saudável e incorporou exercícios físicos regulares para fortalecer seus pulmões.
De acordo com a BBC News, foi determinado que ele se abstenha completamente do uso de qualquer forma de cigarro.
No entanto, ele compartilhou que ainda enfrenta diversas limitações em sua vida cotidiana devido à persistente falta de ar.
"Tenho falta de ar quando estou dormindo, fazendo com que muitas vezes eu acorde devido à dificuldade de respirar. No mês passado, fiquei dois dias internado devido a esse problema", contou o jovem.
"Eu achava que o cigarro eletrônico fazia mal, igual ao cigarro comum, mas ele é infinitas vezes pior. Tenho só 23 anos e fiquei com a minha saúde comprometida devido a ele. Se eu soubesse, nunca teria usado."
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