“É necessário falar mais sobre sexo para prevenir ISTs"
Na entrevista especial deste domingo (4), Luis Henriqe Barbosa Borges, médico, infectologista fala sobre os riscos do HPV, HIV, Sífilis, além de outras doenças
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) representam um risco significativo para a saúde sexual e geral por uma série de motivos. Transmitidas principalmente por meio do contato sexual desprotegido, as infecções podem afetar várias partes do corpo, incluindo os órgãos genitais, a uretra, o reto, a garganta e a pele.
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Nos últimos anos, o número de jovens com ISTs tem aumentado consideravelmente ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Entre os fatores,, situações diversas, como o "comportamento sexual, questões relacionadas a educação e conscientização, além do acesso aos cuidados de saúde", descreve o Ministério da Saúde.
Sobre os meios de transmissão, "as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que esteja infectada".
É importante destacar que a transmissão de uma IST pode acontecer, ainda durante a gestação, da mãe para a criança, o parto ou a amamentação.
Já de maneira menos comum, as IST também podem ser transmitidas por meio não sexual, pelo contato de mucosas ou pele não íntegra com secreções corporais contaminadas.
Na entrevista especial deste domingo (4), a reportagem do Folha Vitória conversou com Luis Henriqe Brbosa Borges, médico, infectologista. Ele fala sobre os riscos das doenças, principais meios de contaminação, tabus e o aumento no número de casos das doenças no país.
Luis Henrique Barbosa Borges possui graduação na Universidade Federal de Pernambuco, fez residência médica em infectologia e mestrado em doenças infecciosas e parasitária pela Universidade de São Paulo (USP).
Trabalhou como médico na Santa Casa de Misericórdia de Vitória e atualmente trabalha como médico infectologista na Rede Meridional e realiza atendimento em consultório.
1) O que são as IST's? Como são transmitidas?
A sigla IST significa Infecções Sexualmente Transmissíveis. São infecções causadas por vírus, bactérias ou outros micro-organismos. E transmitidas, quase sempre, pelo contato sexual com uma pessoa infectada, por meio oral, anal, vaginal ou peniano.
Ainda que menos comum, a transmissão pode ocorrer, também, pela transfusão de sangue, contato com materiais perfurocortantes contaminados e da mãe para o bebê durante o parto ou amamentação.
2) Onde se manifestam? De modo geral, quanto tempo levam para se manifestar?
Algumas IST’s podem surgir e seguir sem sintomas, permanecendo por tempos sem se manifestar, como a sífilis e as infecções causadas pelo HPV, HIV e o vírus da hepatite C.
Outras se manifestam por meio de úlceras (cancroide, linfogranuloma venéreo) ou corrimentos genitais (gonorreia). E outras ainda, aparecem com sinais sistêmicos como febre, mal-estar, dores musculares ou manchas pelo corpo.
Ou seja, as IST’s podem ter uma manifestação típica com sintomas localizados nas regiões genitais, mas também podem surgir dispersas, sem mostrar um foco óbvio (o que pode, por muitas vezes, atrasar o diagnóstico).
3) Quais os fatores de risco?
Sexo desprotegido com múltiplos parceiros é o principal fator de risco.
4) Diante do aumento no número de casos de IST´s em jovens no Brasil nos últimos anos, o que precisa ser feito para reverter esse quadro? O assunto ainda é um tabu?
* O que precisa ser feito:
A) Informação é educação sexual. Em primeiro lugar os jovens, mas também as pessoas de outras faixas etárias, que tem uma vida sexual ativa, precisam saber que o problema existe.
É necessário falar mais sobre isso nas escolas, nas associações de bairro, no meio esportivo, nas empresas, pois, muitas vezes, as pessoas se expõem porque não sabem da facilidade com que as IST podem ocorrer. Informação sobre a prevalência, como se pega, como se reconhece os sintomas e como evitar, são extremamente necessárias. Devem fazer parte dos currículos no ensino médio.
B) Medidas de saúde pública para prevenção. É de responsabilidade dos gestores da saúde a disponibilização das vacinas para hepatite B e HPV, além do fornecimento de PREP, que é um esquema de medicamentos capaz de evitar a transmissão do HIV, em pessoas que se percebem em alto risco (sobretudo a população LGBTQIA+). Isto já é feito no Brasil, mas precisa ser melhor divulgado.
C) Diagnóstico precoce para aqueles já contaminados. A disponibilização de testagens gratuitas e anônimas para o HIV, HEPATITE B e C, e sífilis, para a população em geral ajuda aqueles já infectados a serem identificados e tratados reduzindo a transmissão.
Estes testes já são disponíveis nas unidades básicas de saúde da maior parte das cidades brasileiras. Os cidadãos deverão exigir e cobrar pela permanência desta estratégia.
D) Tratamento gratuito e de boa eficácia na rede do SUS. A pronta abordagem diagnóstica seguida do tratamento da infecção pelo HIV, hepatite B e C, sífilis, uretrites purulentas e não purulentas, vaginite, condiloma, gonorreia e outras é uma potente estratégia para impedir a proliferação dessas IST.
Atualmente toda rede de atenção primária está habilitada para esta abordagem, e a manutenção deste programa deve ser vigiado.
E) Ampla cobertura de pré-natal. Para que todas as gestantes tenham acesso e façam as devidas testagens durante a gravidez, até o parto. Esta medida impede a transmissão materno-fetal de algumas IST como aids, hepatites, sífilis e outras, que certamente terão efeito devastador nos recém-nascidos.
5) As pessoas parecem ter perdido o medo de adoecerem. Isso é real?
Infelizmente sim. A pouca divulgação e o tabu sobre o assunto passam uma ideia de normalização do problema, o que está longe de acontecer.
6) As IST's são um problema de saúde pública? Quais os maiores desafios enfrentados pela medicina?
Sim. São um problema de saúde porque aumentam muito os gastos do governo com a saúde, impactam na qualidade de vida das pessoas, são causas de infertilidade, impotência, malformações fetais e, muitas vezes, de morte. Os maiores desafios enfrentados nesta área ainda são a cura da Aids e da hepatite B.
Mas, enquanto isso não vem, creio que os maiores desafios da medicina são os mesmos desafios de uma sociedade que se pretende ser civilizada, igualitária e justa: acabar com a pobreza, a desinformação e aumentar o status social, intelectual e econômico dos cidadãos.
Pois as IST, assim como grande parte das doenças infecciosas, estão intimamente ligadas a estes fatores.
7) Qual a importância do conhecimento sobre IST's pelos adolescentes? As ações educativas precisam ser reforçadas?
O conhecimento é tudo! Os adolescentes estão no início da sua vida sexual, e se este início for responsável e cuidadoso, teremos uma sociedade mais saudável.
Os pré-adolescentes de um modo geral já são muito expostos aos assuntos relacionados com o sexo. Desde que já consigam entender e participem deste tipo de assunto, precisam ter também as informações honestas e sem tabu, inclusive na escola.
8) Quem é mais vulnerável? Pessoas do sexo masculino ou feminino?
Historicamente as mulheres são mais vulneráveis, especialmente as mais pobres, pois tanto na nossa, como em outras culturas, elas são economicamente submissas e não têm o poder de decidir que tipo de relação sexual querem ter. Também não foram educadas com esta informação.
E ainda são biologicamente mais vulneráveis, pois recebem o sêmen em sua vagina, que se deposita ali por algum tempo, aumentando a exposição. Isso também acontece com a população composta por trabalhadores do sexo, e com travestis, mulheres trans e gays, que têm no sexo anal um risco aumentado para aquisição das IST.
9) Com o envelhecimento da população brasileira, casos de IST's também vêm aumentando entre os idosos?
Temos recebido nos consultórios um número, cada vez maior, de pessoas idosas com IST. O uso de suplementação hormonal para homens e mulheres, bem como o crescente número de pessoas que envelhecem em boas condições de saúde, tem permitido que a população idosa desfrute de vida sexual mais intensa.
Assim, é óbvio, que assistamos o aumento destes agravos também na população idosa. É importante que geriatras e outros médicos orientem os idosos na perspectiva de alertar sobre os cuidados e prevenção para as IST.
10) Como prevenir as IST´s?
A informação corajosa, direta e verdadeira, baseada na ciência, repassada para adolescentes, jovens e idosos é a melhor forma de ajudar na prevenção contra as IST.
Prevenir IST, em nível de sociedade, não é uma tarefa fácil para nenhum programa de saúde pública, pois as pessoas, dentro das quatro paredes, têm suas fantasias e seus desejos, tornando o sucesso da prevenção uma decisão individual e imediatista.
Assim, não basta informar, mas também garantir meios para prevenção com métodos de barreira (camisinha), vacinas ou medicamentos, meios para o rápido diagnóstico, além de programas continuados e atualizados de tratamentos.
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