Saúde

Setembro Amarelo: saiba o que não dizer a pessoas que sofrem com depressão

O tema é de grande importância, já que dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que um brasileiro a cada 45 minutos tira a própria vida

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Falar de doenças e transtornos mentais envolve também tratar de rede de apoio. E neste Setembro Amarelo, mês de campanha de prevenção ao suicídio, é importante instruir amigos e familiares para que eles consigam dar suporte, em especial a quem sofre com depressão, da melhor forma possível.

O tema é de grande importância, já que dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que um brasileiro a cada 45 minutos tira a própria vida. E para evitar o pior, saber o que não dizer a quem sofre com a doença é essencial, tanto quanto ter noção do que falar para incentivar a continuidade do desejo de viver.

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Para a psiquiatra paranaense Gisele Teixeira Bellinello, o ideal é estar ao lado da pessoa, procurar um local calmo e com privacidade para conversar e dizer que ela não está sozinha. Também é necessário saber o que não falar, além de ser importante não julgar o que esta pessoa diz ou dar conselhos tentando resolver o sofrimento dela. É sempre necessário o incentivo ao tratamento.

Veja que frases não usar, segundo a especialista:

• “É falta de fé ou de Deus”;
• “Você tem uma vida perfeita, porque você está assim?”;
• "Pare de reclamar, tem tanta gente que queria estar no seu lugar, você está fazendo isso só para chamar atenção";
• "Você só está estressado, toma uma cerveja que melhora";
• "Tira umas férias que resolve";
• "Só depende de você, é só ter força de vontade";
• "Isso é fraqueza; psiquiatra é médico de louco";
• "Antidepressivos fazem mal e viciam";
• "Você precisa sair mais de casa";
• "Você precisa esquecer isso, pense positivo".
“Incentive a procurar tratamento, se possível agende para ela um psiquiatra e acompanhe na consulta. Avise a uma pessoa próxima ou da família para que façam um suporte próximo e garantam a segurança da vida até que haja melhora do quadro”, acrescentou.

Da mesma forma que pensa a médica, o psicólogo Lucas Polezi de Couto afirma que a primeira e mais importante frase que não deve ser utilizada é de que depressão é falta de Deus. 

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“Ou ainda que é frescura, besteira, que não precisa se preocupar com isso. E é muito comum ouvir esse discurso, infelizmente. Ou ouvir que aquelas pessoas não estão sendo gratas o suficiente, que é só pensar positivo que melhora”, disse.

Para ele, também é muito frequente ouvir que “fulano de tal está em uma situação pior e não está assim, não tem porque você reclamar”. Esse tipo de discurso, para os especialistas, invalida consideravelmente o sofrimento do doente. Invalidação é como diminuir, ridicularizar ou até mesmo punir a expressão emocional da pessoa, sobre o que ela fala sobre o sofrimento dela”, acrescentou o psicólogo.

Afinal, o que dizer para quem sofre com depressão?

Assim como é imprescindível evitar frases de senso comum para lidar com pacientes depressivos, há instruções sobre o que dizer para de fato levar alento e ajuda. Para Polezi, alguns exemplos são:

• “Eu imagino que esteja sendo doloroso passar por isso, se você precisar de algum suporte ou escuta, estou aqui com você”.
• “Estou aqui com você, você não está sozinho”.
• “Se precisar de ajuda, posso te ajudar”.
• “O que posso fazer por você? Existe algo com que eu possa te auxiliar?”

Se a pessoa permitir essa abertura, o especialista explica que o ouvinte pode então orientar procurar ajuda profissional e, se ela quiser, ajudar a encontrar um psicólogo ou psiquiatra.

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Casos de risco elevado

Para Bellinello, em casos em que há risco mais alto, iminente, de ideação suicida grave, com planejamento, tentativa de suicídio quase sendo feita ou após a tentativa, a psiquiatra explica que não se pode deixar a pessoa sozinha.

“Leve imediatamente a um Pronto Socorro ou Serviço de Emergência. Após tentativa, primeiro o paciente deve ser avaliado clinicamente/”fisicamente” para ser descartado risco de morte e para que seja avaliado por psiquiatra. No caso de a pessoa em risco alto se recusar a ir voluntariamente, deve ser acionado o Samu para encaminhar involuntariamente, já que pode ser necessária internação psiquiátrica nestes casos mais graves”, disse a médica.

O psicólogo Lucas Polezi acrescenta que o ideal é sempre buscar que haja consentimento do paciente para levá-lo para uma internação. A internação compulsória, segundo ele, é usada em último dos casos, geralmente quando a pessoa não consegue tomar essa decisão por si só ou está em um nível muito resistente à intervenção.

Por fim, o psicólogo tranquiliza quem tem um amigo ou parente nesta situação: “Não necessariamente todas as pessoas com depressão vão morrer ou tentar suicídio. Pode até ser que elas tenham ideação, planejamento e que nunca coloquem em prática. Há também quem nem sequer pense na possibilidade”, finalizou.