Saúde

Atomoxetina: como funciona remédio para quem tem TDAH e ansiedade? Médico explica

Qual a diferença entre a nova substância que já chegou ao Brasil e outros medicamentos? Especialista explica riscos e benefícios; entenda

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: Hal Gatewood/Unsplash

O novo medicamento para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) chamado atomoxetina foi aprovado para começar a ser comercializado no Brasil em 2023.

Porém, a pergunta que não quer calar é: qual a diferença entre ele e os medicamentos atuais usados para o tratamento do transtorno?

O biomédico e mestre em Ciências Bruno Marques, do canal Neurociência Descomplica, explica como esse novo medicamento age no cérebro das pessoas com TDAH.

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De acordo com o especialista, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um distúrbio de neurodesenvolvimento caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade de forma exacerbada.

Os sintomas começam a se manifestar na fase da infância, podendo perdurar pela adolescência e até mesmo na fase adulta. 

Marques comenta que existem três tipos diferentes de TDAH:

1. TDAH com sintomas predominantemente desatenciosos

2. TDAH com sintomas predominantemente hiperativos

3. TDAH com sintomas mistos

"Basicamente, quase todos os sintomas relatados pelas pessoas com TDAH estão relacionados com déficits na atividade de uma circuitaria específica do cérebro chamada de córtex pré-frontal", explica o biomédico.

Marques afirma que são justamente as diferentes conexões que o córtex pré-frontal realiza sobre o nosso cérebro que controla diversas funções, como a atenção, o foco e o controle da impulsividade para não deixar hiperativo.

"Se eu pedir a vocês que prestem atenção em um jogo de tênis, especificamente onde a bola está pingando, vocês provavelmente vão ter dificuldade em notar o que se passa no fundo. Isso acontece porque o nosso córtex pré-frontal, juntamente com outras partes do cérebro, tá se esforçando para prender nossa atenção nesse movimento", exemplifica.

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De acordo com Marques, essa região do córtex pré-frontal é "sintonizada" por diferentes neurotransmissores, dentre eles a noradrenalina (NA) e a dopamina (DA).

Esses neurotransmissores são moléculas liberadas por neurônios presentes no córtex pré-frontal, que ao se ligar aos seus diferentes receptores em diferentes neurônios irão atuar de formas interessantes para poder controlar a atividade dessa região do cérebro.

"Toda vez que esses neurotransmissores já realizaram sua atividade de se ligar com algum receptor, eles vão ser recaptados pelos neurônios através dos transportadores: o transportador de noradrenalina e o transportador de dopamina".

Segundo o especialista, é no transportador de NA que a atomoxetina atua bloqueando, e portanto aumentando, os níveis de noradrenalina e até de dopamina na região do córtex pré-frontal.

"É justamente por isso que o medicamento consegue promover uma melhoria substancial nos sintomas de desatenção e impulsividade relatados pelos pacientes com TDAH". 

"Pois através dessa modulação de atividade de noradrenalina e dopamina sobre o córtex pré-frontal, ele consegue modificar o padrão de sintonização dessa área fazendo com que ela atue de forma mais contundente e organizada".

DIFERENÇAS

Essas características, no entanto, já fazem parte dos psicoestimulantes. Logo, qual a diferença desse novo medicamento?

O biomédico explica que a diferença está na especificidade e seletividade da atuação da atomoxetina.

"Enquanto os psicoestimulantes atuam tanto na recaptação de noradrenalina quanto de dopamina, a atomoxetina tem uma alta seletividade pelo transportador de noradrenalina".

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Segundo Marques, isso faz com que o remédio seja muito mais capaz de bloquear a recaptação de noradrenalina, ou seja, aumentar os níveis da NA por todo o cérebro, fazendo com que ela tenha menor capacidade de aumentar os níveis de dopamina em outras partes do cérebro.

Essa situação acontece enquanto há o aumento de disponibilidade de DA sobre o córtex pré-frontal causado pelos psicoestimulantes comuns, como a Ritalina e o Venvanse (nomes comerciais).

"É algo benéfico para a atividade do córtex pré-frontal, pois esse aumento de dopamina também ocorre em outros sistemas, como o sistema de recompensa lá no núcleo accumbens", explica. 

O Sistema de Recompensa é um sistema do cérebro responsável pela criação da motivação necessária para poder realizar determinados comportamentos.

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Esse sistema, quando hiperativado por drogas que conseguem fazer uma liberação rápida e continente de dopamina, como no caso da Ritalina e dos diferentes psicoestimulantes, pode sofrer certas alterações que vão causar a dependência química e o uso abusivo da droga.

"Inclusive, por conta disso é que a Ritalina e o Venvanse são classificados como medicamentos que podem ser utilizados de forma abusiva e por isso são tarja preta. Ou seja, não é qualquer um que consegue comprar eles".

De acordo com o especialista, por não modular muito a atividade de dopamina, a atomoxetina não vai ser classificada como um medicamento que seja capaz de uso abusivo. Então, ele não será tarja preta, embora ainda precise da receita médica.

Além disso, por conta da sua característica farmacológica de bloquear a transportadora de noradrenalina, o novo medicamento é uma ótima escolha para pessoas que tem TDAH junto com sintomas de ansiedade ou depressão.

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