Saúde

Encefalite: homem fica cadeirante após picada de mosquito; entenda

Diego Marinho, de 40 anos de idade, pensou que estava só com sintomas de gripe ou dengue, mas o pior aconteceu após ser internado em hospital; veja doença

Redação Folha Vitória

Redação Folha Vitória
Foto: arquivo pessoal

Após uma encefalite viral, o redator de marketing Diego Marinho, de 40 anos de idade, ficou tetraplégico.

Contrariando o prognóstico médico, o homem já conseguiu dar os primeiros passos e tem uma rotina intensa de atividade física.

Ao Viva Bem, Marinho contou a história de como tudo aconteceu.

"Em 2018 viajei a trabalho para Curitiba e Ribeirão Preto. Acordei uma madrugada com muita sede. Cheguei ao Rio de Janeiro, onde moro, em uma sexta-feira, fui para o trabalho, busquei minha filha na creche e voltei para casa. Estava cansado, pensei que era gripe e que passaria logo", narrou.

"No sábado, minha mão esquerda tremia muito. Meu braço começou a doer. Fui para o hospital, passei por uma bateria de exames e me sedaram por conta das fortes dores", lembrou. 

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"No dia 4 de agosto, apaguei e não me lembro de mais nada. Fiquei 15 dias em coma, mais duas semanas no CTI e 20 dias no quarto. No início, suspeitaram de tétano, mas era uma encefalite viral. Passei por vários exames até descartarem que não tinha vírus de doenças como sífilis ou herpes", disse, lembrando do dia a dia após os primeiros sintomas. 

"Os médicos acreditam que fui picado por algum inseto. Descobri que é possível um vírus ser transmitido dessa forma, por meio de picadas de mosquito, pulga ou carrapatos, quando eles atacam animais ou pessoas infectadas. Nesses casos, pode haver febre, mal-estar e dor de cabeça. Tive tudo e ainda espasmos na mão esquerda, que é a região mais afetada até hoje", desabafou ainda. 

"Perdi a sensibilidade e todos os movimentos, coordenação motora fina e fala. Fiquei três meses com traqueotomia e quatro com sonda alimentar. O diagnóstico veio e apontou que estava tetraplégico", disparou. 

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Segundo ele, o neurologista deu prazo para que ele recuperasse os movimentos, mas, para muitos, o progresso do paciente ainda é uma incógnita. 

"Com a fonoaudiologia, voltei a me comunicar, recuperei muito da minha força, equilíbrio e a coordenação da mão direita, consegui ficar de pé e já arrisco até alguns passos com o auxílio de alguém", continuou. 

"Faço fisioterapia, pilates e musculação. Consigo me exercitar no pedal portátil por 30 minutos todos os dias. Acho que vou conseguir andar, mas não vai mudar a minha vida completamente, porque vou continuar dependendo da ajuda dos outros e serei para sempre uma pessoa com deficiência", explicou também; 

CASO RARO

Isabella Albuquerque, coordenadora do Serviço de Higiene e Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, explicou ao Extra que as encefalites virais são infecções do parênquima cerebral (tecido do cérebro) causadas por vírus.

De acordo com a especialista, essa infecção pode causar alterações do estado mental, motoras ou sensitivas, paralisias, modificações no comportamento, da fala e convulsões.

Inúmeros vírus podem causar esse tipo de infecção, como:

- HSV (vírus da herpes simples);

- VZV (vírus varicela-zóster, da catapora);

- EBV (vírus Epstein Barr, da mononucleose);

- HIV;

- Arbovírus (vírus causadores da zika, chikungunya, dengue, febre amarela e febre do Nilo ocidental);

- Vírus do sarampo, da caxumba e da rubéola, entre vários outros. 

Mestre em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, a médica enfatiza que a transmissão das encefalites pode ocorrer de várias maneiras.

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Segundo o Viva Bem, isso inclui o contato direto com pessoas infectadas, como é o caso do herpes simples e da catapora. 

Além disso, a transmissão pode ocorrer por meio de gotículas expelidas durante tosse ou espirro, como ocorre com a rubéola e a caxumba.

Em casos mais raros, conforme a médica, a transmissão pode ocorrer pela picada de mosquitos e outros artrópodes, como no caso de Diego.

Em geral, o período de incubação dessas encefalites, que é o intervalo de tempo entre o contato ou a picada e o surgimento dos sintomas, pode ser de até 14 dias.

O diagnóstico começa com a avaliação do quadro clínico, que pode fortemente indicar a presença de encefalite. 

De acordo com o Viva Bem, são realizados outros exames, como ressonância magnética, eletroencefalograma, coleta de líquido cefalorraquidiano (líquido que circula entre o cérebro e a medula espinhal) e testes de biologia molecular para identificar o agente causador.

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As complicações variam de acordo com o vírus envolvido. Segundo o Viva Bem, alguns pacientes podem se recuperar completamente, sem sequelas, enquanto outros podem sofrer danos neurológicos permanentes.

Por exemplo, no caso da encefalite causada pelo vírus do herpes simples, se não for tratada adequadamente, pode resultar na morte em 20% dos casos, e menos de 10% dos sobreviventes não desenvolvem deficiências neurológicas ou cognitivas.

Quanto à recuperação e ao tratamento, o neurocirurgião Guilherme Rossoni explicou ao Viva Bem que o caso de Diego envolveu uma grave infecção viral no sistema nervoso central, o que pode levar à destruição de neurônios devido a vários fatores. 

O grau de disfunção neurológica e as sequelas dependem do mecanismo e da duração da lesão cerebral.

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Nos últimos anos, as neurociências demonstraram que o cérebro, os nervos e a medula têm alguma capacidade de regeneração celular, embora seja muito menor em comparação com outros tecidos do corpo. 

À medida que o ambiente inflamatório no cérebro melhora e a infecção é controlada, os neurônios que estavam afetados podem se recuperar, reestabelecendo conexões.

Esse processo pode levar semanas, meses e até anos. "Normalmente são lesões que chamamos de lesões incompletas, ou seja, não houve destruição total", disse o especialista ao Viva Bem.

Para pacientes com sequelas neurológicas, o tratamento envolve reabilitação física precoce, incluindo uma rotina regular de exercícios de fortalecimento, juntamente com terapias como a eletroestimulação.