ENTREVISTA

"Mais de 2,5 mil pacientes aguardam transplantes no ES", afirma coordenadora de Central

Na entrevista especial deste domingo (8), Maria Machado, coordenadora da Central Estadual de Transplantes (CET-ES), fala sobre os principais desafios relacionados à doação de órgãos no Estado

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação/Sesa-ES / Arte: Folha Vitória

Solidariedade, amor e esperança. Quando se fala em doação de órgãos, torna-se impossível não descrever um ato tão generoso de maneira diferente. Todos os anos, o mês de setembro é dedicado a campanhas de conscientização da população sobre a importância da doação. 

Atualmente, no Espírito Santo, 2.505 pacientes aguardam para transplante no cadastro técnico. São eles: 05 para coração, 1.283 para córnea, 1.171 rim e 46 fígado.

Debater o tema, entender a importância de informar a família, caso haja o desejo de ser doador de órgãos e tecidos, esclarecer as etapas que envolvem o procedimento são apenas alguns dos objetivos do "Setembro Verde".  

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Entre as razões pela qual a doação de órgãos é tão importante, uma se destaca: é que ela pode salvar vidas. Isso por que inúmeras pessoas com condições graves de saúde, como falência de órgãos, por exemplo, têm a chance de sobrevivência e uma qualidade de vida muito melhor por meio de um transplante.

Além disso, tem a redução das listas de espera que acabam se tornando extremamente longas e aflitivas para os pacientes que precisam de um órgão. Outro quesito importante está diretamente ligado aos avanços na medicina. Os transplantes impulsionam cada vez mais pesquisas proporcionando a descoberta de novos tratamentos e melhorias na técnica cirúrgica.

Na entrevista especial deste domingo (8), a reportagem do Folha Vitória conversou com Maria Machado, coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), Maria Machado. Ela falou sobre os desafios em torno do tema, o atual cenário capixaba e o que deve ser feito para superar a desproporção que existe entre número de pacientes na lista e o número de transplantes realizados.

1. Quais os principais desafios para a doação de órgãos?

R: Apesar do grande volume de cirurgias realizadas, a quantidade de pessoas à espera de um novo órgão ainda é grande. Ao todo, no Brasil 73.811 pacientes estão cadastrados na lista SUS. O rim é o órgão mais demandado: 41.089 esperam por um transplante renal. Em seguida, vêm as córneas (29.397) e o fígado (2.300).

Para vencer a atual desproporção entre número de pacientes na lista e o número de transplantes realizados, é importante conscientizar a população sobre todas as etapas do procedimento, que começa com o diagnóstico de morte encefálica de um potencial doador e termina na recuperação do paciente que recebeu um novo órgão.

2. O que falta para conscientizar a população sobre a importância de ser doador?

R: Debates constantes sobre a temática. Ao esclarecer dúvidas e mostrar exemplos de como a doação pode transformar vidas é possível aumentar o número de potenciais doadores.

3. Quais órgãos e tecidos podem ser doados?

R: Doador falecido pode doar órgãos como: rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino; e tecidos: córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias.

4. Quem pode e quem não pode ser doador?

R: A princípio, qualquer paciente em morte encefálica deve ser considerado um potencial doador, independentemente da idade. No Brasil, a idade mínima para a realização do diagnóstico de morte encefálica e, portanto, para doação de órgãos é de 7 dias de vida. 

No entanto, cada caso é avaliado individualmente. É importante ressaltar que a elegibilidade para doação pode variar conforme as regulamentações e práticas médicas.

É contraindicada, e proibida pela portaria que regulamenta os transplantes no Brasil, a utilização de órgãos ou tecidos de doadores com sorologia positiva para HIV ou para HTLV 1 e 2. 

Também contraindicam a doação as infecções fúngicas e virais agudas/graves, neoplasias (com exceção de carcinoma basocelular da pele, carcinoma in situ do colo uterino, alguns tumores primários do SNC), sepse refratária, as meningoencefalites virais ou de causa desconhecida, assim como as doenças priônicas.

Já para que uma pessoa se qualifique como doador em vida, doando um órgão duplo (como um rim) ou parte de um órgão (como do fígado ou do pulmão), será avaliada de acordo com uma série de critérios clínicos, bioéticos e judiciais antes de iniciar o procedimento.

5. Caso a pessoa decida ser doadora, o que deve fazer?

R: É importante que as pessoas expressem suas vontades a respeito da doação para suas famílias, garantindo que seus desejos sejam respeitados em um momento difícil.

6. A vontade do doador declarada em vida precisa ser confirmada pela família?

R: De acordo com a legislação brasileira, mesmo com a decisão da pessoa de doar os órgãos, em caso de morte, a palavra final é da família, ou seja, não é possível garantir efetivamente a vontade do doador. Sendo assim, o diálogo com a família e amigos é essencial para que o desejo seja respeitado.

7. É possível saber para quem foi doado o órgão?

R: A legislação atual não permite que a família doadora conheça o receptor.

8. Qual a importância do gesto de doar órgãos e tecidos?

R: A doação de órgãos e tecidos é um ato de grande importância, pois pode salvar ou melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas, cuja última alternativa terapêutica é o transplante.

9. Um único doador pode ajudar a salvar quantas vidas?

R: Um único doador pode ajudar mais de 8 pessoas.

10. Quais as etapas que envolvem a doação de órgãos?

R: Entre essas etapas, é preciso correr contra o tempo, levantar informações importantes sobre o histórico do doador e do paciente e, a etapa mais delicada, contar com a solidariedade de uma família que passa por um momento de dor. Sendo elas:

- Diagnóstico de morte encefálica;

- Autorização da família;

- Entrevista familiar;

- Retirada de órgãos;

- Distribuição;

- Transplante;

- Recuperação.