ENTREVISTA

Endocrinologista alerta para os perigos da "cultura da beleza acima da saúde"

Na entrevista especial deste domingo (29), Lusanere Cruz, médica endocrinologista, fala sobre terapias hormonais, anabolizantes e os riscos da prescrição para fins estéticos

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Arquivo Pessoal/Arte: Folha Vitória

Os hormônios são indispensáveis para o funcionamento do organismo. Regulam processos importantes como, o crescimento, reprodução, humor, metabolismo e até mesmo a resposta ao estresse. 

A falta ou excesso de um determinado hormônio pode acarretar em uma série de problemas de saúde. Nestes casos, a Resolução nº 2.333/23 do Conselho Federal de Medicina (CFM), regulamenta a prescrição médica para tratar casos de deficiência. 

Por um outro lado, "o uso de terapias hormonais com a finalidade de retardar, modular ou prevenir o envelhecimento permanece vedado pela Resolução CFM nº 1.999/2012".

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Que a "diferença entre o veneno e o remédio está na dose", a maioria das pessoas sabe. Na verdade, a questão em si está no fato de que, parte dessas pessoas, ignora essa máxima. A busca pelo corpo perfeito e pelo rejuvenescimento associada aos hormônios pode desencadear uma série de problemas.

Ganho de peso, acne, diminuição da libido, doenças cardiovasculares e câncer fazem parte de uma vasta lista de enfermidades.

Na entrevista especial deste domingo (29), a reportagem do Folha Vitória conversou com Lusanere Cruz, médica endocrinologista, membro titular da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e supervisora da secretaria de saúde do Estado do Espírito Santo.


Ela fala sobre os impactos dos hormônios no organismo, indicações, contraindicações, além dos desafios enfrentados pelos profissionais de saúde no combate ao uso indiscriminado da substância.

1. O que é a reposição/terapia hormonal e quais as principais indicações? 

Lusanere Cruz - Hormônios são substâncias que são produzidas por glândulas, agem naquele local e modulam outros órgãos. 

A reposição hormonal é o uso de substâncias o mais próximo possível das naturais, para que essa modulação continue existindo. Deve ser feito quando há deficiência de um hormônio e apenas nessa situação.

2. O que acontece com o corpo ao fazer terapia/reposição hormonal?

Podemos criar uma doença em consequência do uso sem necessidade do hormônio, alterar o funcionamento natural do corpo e estimular o crescimento de células malignas.

3. Quais os principais efeitos colaterais da hormonioterapia?

Mesmo usado corretamente pode haver sintomas que qualquer medicação pode trazer como náusea, cefaléia, alergia, ganho ou perda de peso, acne, alteração do humor. 

Isso deve ser monitorado e tudo deve ser relatado ao médico. Usado de maneira errada, os efeitos podem ser diabetes, hipertensão, dislipidemia, calvície, câncer, insuficiência renal e hepática e câncer entre outros.

4. Quais os riscos da terapia/reposição hormonal para fins estéticos e esportivos? 

Os mesmos da população em geral, acrescentando que o esporte perde o sentido de ser saudável e também se torna uma trapaça.

5. O uso indiscriminado, mesmo após o CRM vetar o uso da TRH com essas finalidades, ainda é uma preocupação? 

Infelizmente sim, inclusive sendo receitado por médicos.

6. Os efeitos adversos podem ser revertidos ou não? 

Alguns são irreversíveis. Por exemplo a calvície, perda renal e lesão cardíaca.

7. Qual a diferença das terapias hormonais para os anabolizantes? 

Temos muitas reposições hormonais bem indicadas como hormônio de tiroide no hipotireoidismo, hormônios femininos na menopausa, hormônio do crescimento em criança com deficiência e etc. 

O anabolizante é uma substância sintética com efeitos masculinizantes usada em quem não tem deficiência hormonal pra melhorar esteticamente.

8. Reposição hormonal feminina x masculina: qual a diferença? 

Os hormônios são totalmente diferentes, a forma de administrar também, a época de início muda e os exames de seguimento são outros.

9. Quais os maiores obstáculos a serem enfrentados? É preciso falar mais sobre o tema?

A cultura da beleza acima da saúde, a falta de conhecimento sobre os risco e o fato que o próprio médico que deveria ser um promotor da saúde, prescreve e assim alimenta esse grande mal. 

Talvez, se muitas vozes se levantarem, veremos o resultado do trabalho de conscientização que fazemos individualmente.