Saúde

Em 10 meses, 103 órgãos e tecidos foram doados em hospital do ES

Os órgãos foram doados por famílias de 35 pacientes, e ecaminhados para pacientes que aguardam na fila de transplantes do Estado e até na listagem nacional

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação Sesa/ES

Mais que órgãos, esperança. De janeiro a outubro deste ano foram captados no Hospital Estadual Central – Dr. Benício Tavares Pereira (HEC), no Centro de Vitória, 103 órgãos e tecidos. Ao todo, famílias de 35 pacientes exerceram a solidariedade e disseram sim para outras vidas. 

Entre os órgãos coletados, havia córneas, pulmão, coração, fígado e rins. Todos eviados para pacientes que aguardam na fila de transplantes do Estado e até na listagem nacional.

Para quem trabalha no hospital e fez parte do processo de doação de tantos órgãos, é difícil colocar o sentimento em palavras. 

"É um sentimento de felicidade. No início quando montamos a comissão, nós tínhamos algumas metas. Mas isso é mais que uma meta, esse número significa esperança, a chance de um recomeço. Não são duas córneas, é a chance de duas pessoas verem uma flor, verem os netos, os filhos, a chuva que cai", disse Frederico Machado de Siqueira, enfermeiro coordenador de UTI e Presidente da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). 

A comissão atua com ética e sensibilidade realizando abordagens às famílias dos potenciais doadores. "É uma força que vem não sabemos de onde para ajudar alguém que a gente nem sabe quem é. Quando eu termino o atendimento eu sempre agradeço por famílias que eu nem sei quem são", afirmou Frederico. 

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Número de órgãos doados aumentou 14 vezes em 2021

Nos anos de 2019 e 2020 foram quatro e sete órgãos doados, respectivamente. O presidente da CIHDOTT destacou a importância do aumento nas doações e como esse ato de amor salva diversas vidas e explicou a que se pode atribuir o aumento. 

"O Hospital Central conta com uma nova administração e, desde então, foi reorganizada a comissão intrahospitalar. Hoje temos um grupo muito coeso e de pessoas muito engajadas. Além disso, mudança de perfil do hospital contribui. Somos hoje referência de pacientes neurológicos, e contamos com o apoio das direções do hospital", disse. 

Entenda como funciona o processo para doação de órgãos

A doação é uma vontade que deve ser manifestada ainda em vida pelo doador, uma vez que a palavra final sempre será de sua família, que poderá respeitar e atender o desejo de seu ente após a confirmação do óbito.

"A doação de órgaos pode acontecer com qualquer paciente. É a família, os parentes de primeiro e segundo grau que determinam a doação. O paciente pode ter uma tatuagem falando que é doador, mas se a família falar que não, é não. Quando o paciente fala em vida que quer ser doador, quase 100% das famílias não nega a doação", afirmou. 

A coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), Maria Machado, relatou a importância do ato de amor que salva vidas e explicou o processo realizado pela equipe hospitalar até o “sim” familiar.

“Para que, de fato, vidas sejam salvas, é preciso um complexo processo que envolve uma etapa fundamental: a captação dos órgãos e tecidos de um doador. Esse processo ocorre após a entrevista e consentimento familiar. Destaco a importância do Hospital Notificador, sem o trabalho sistemático e humanizado de toda equipe médica responsável não há doação de órgãos. E, nesse contexto, ressalto o processo que está sendo desempenhado no HEC para auxiliar os receptores que aguardam na fila de espera”, disse.

Frederico explicou que antes de comunicar a família sobre a possibilidade da doação, uma série de exames são feitos no paciente. Primeiro é necessário comprovar a morte cerebral. 

"É preciso fazer dois exames físicos com intervalo de, no mínimo, uma hora. Além disso, precisa ser feito por dois médicos diferentes. Depois, é necessário mais um exame que não comprove atividade cerebral", disse. 

Só assim é possível determinar a morte do paciente. "Fechado esse protocolo, é determinada a morte do paciente, o que significa que não há nenhuma chance do paciente voltar. O coração ainda bate por remédios e aparelhos, aí sim o paciente se torna elegível para o transplante", explicou. 

Depois de se tornar elegível, outros exames são realizados. Frederico Machado de Siqueira, disse que um terceiro médico avalia a viabilidade dos órgãos. 

"São feitos uma série de exames e um médico da Central Estadual avalia a viabilidade desses exames e desses órgãos. Só depois procuramos a família para comunicar a possibilidade da doação. A família sabe da suspeita da morte encefálica, quando há o fechamento de todo o protocolo, validado pelo Conselho Federal de Medicina, e aí a família é abordada", finalizou. 

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