Saúde

Sofre de ansiedade eleitoral? Psicólogos relatam piora na saúde mental e dão dicas

Segundo especialista, excesso de cobrança e posicionamento político têm levado à população a quadros de ansiedade generalizada

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória

A tensão constante provocada pela definição das eleições deste ano tem levado muitas pessoas a buscarem ajuda nos consultórios de psicanalistas e psicólogos. Marcado por um momento intenso de emoções, devido à polarização, o mal-estar desencadeado pelas narrativas agressivas levam a quadros de grande desgaste mental.

Foto: Divulgação

Para a psicóloga Sátina Pimenta, vivemos um momento histórico quando comparado a outros pleitos, marcado por ideologias diferentes, onde polos opostos se enfrentam. 

"A gente está vivendo a eleição da história. Nenhuma é comparada com o que estamos viveríamos agora. São ideias diferentes em constante enfrentamento", pontua. 

A necessidade da escolha é um outro ponto que leva as pessoas a adoecerem mentalmente. Algo delicado e importante, já que promove consequências nas relações sociais.

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"Escolher um lado é muito difícil. Quando eu escolho um lado, acabo excluindo o outro e isso é bastante complicado. Toda essa situação reverberou em um conflito de ideias e ideais. Isso afeta as nossas relações e, como consequência, a nossa saúde mental", explica.

O fato dos eleitores adotarem uma postura incansável de defesa do que acreditam leva a uma cobrança pessoal enorme e como consequência, ao desgaste. De acordo com Sátina, o outro também passou a obrigar quem está ao lado, próximo nas relações, a se manter em estado constante de reflexão e decisão.

"Essas eleições estão promovendo um movimento tão duro que tem que ser 'A' ou 'B', que algumas pessoas já nem querem mais fazer uma escolha e aí são classificadas como 'em cima do muro'. Isso gera um outro tipo de auto-cobrança, do tipo: será que estou sendo omisso?. Ou seja, até mesmo quem opta em não se posicionar, é julgado, questionado".

Conflitos até mesmo dentro de casa

O medo, a incerteza com o que está por vir e a divergência de opiniões têm afetado até mesmo as relações familiares, segundo Sátina. 

"Os conflitos estão acontecendo dentro de casa. Só se fala, só se ouve sobre isso. Tudo é relacionado às eleições. Por vezes, casais deixam o tema prevalecer dentro do ambiente familiar, falando muito sobre política, sobre o voto e acabam brigando. Tios, primos, avós e pais estão deixando grupos de conversa da família por causa de desgastes e discussões". 

Transtorno da Ansiedade Generalizada

Profissionais da aérea da saúde mental relatam que os pacientes estão chegando no consultório até mesmo com medo de escolher a cor da roupa que pretendem usar. É como se ao optar por uma determinada cor determinasse o posicionamento de um lado específico.

"As pessoas não conseguem descansar mentalmente. Viver nesse estado de vigilância constante leva a transtornos de ansiedade. Tem quem esteja deixando de frequentar lugares para não encontrar com determinadas pessoas. A população está se isolando por causa de sentimentos de angústia", disse a psicóloga.

Ela conta que não lembra de ter passado por um período eleitoral com tanta polarização e necessidade de posicionamento.

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"No consultório, para você ter uma ideia, tenho um paciente que desenvolveu nesse período de fim de governo e vinda do processo eleitoral, um quadro de ansiedade generalizada por revolta da situação como um todo", relata.

Ambiente de desgaste vem desde a pandemia 

Para a psicóloga Letícia Santana, vivemos em um época onde o diálogo deixou de existir. "Ou se briga ou se faz silêncio", avalia. Entre os fatores apontados pela especialista como desencadeadores de todo o desgaste emocional vivido ultimamente, a pandemia provocada pela covid-19 e os reflexos dela na disputa eleitoral ganham destaque.

Letícia lembra que, de certa forma, a política vem atravessando a rotina da população desde o início da covid. As restrições impostas pelas autoridades de saúde, como fechamento de escolas e comércio, por exemplo, aldém a necessidade do distanciamento social, afetaram muito a saúde mental das pessoas.

"Entre os fatores que podemos apontar como condição para todo esse intenso cansaço mental, está a pandemia pela qual passamos. O cenário de cansaço e esgotamento vem desde a fase mais crítica dela. Há dois anos vem se desenhando um ambiente propício para que esse desgaste ganhasse força".

A especialista diz ainda que todas as faixas etárias tem sido bombardeadas com um grande volume de informações. Algumas mentirosas, outras verdadeiras, porém todas em excesso.

"A internet em si, as mídias sociais acabam entregando só o que queremos ouvir e isso por si só já aumenta a intolerância. Se você passar o dia sendo confirmado da sua verdade como única, vai acabar intolerante. O que nos faz humanos é o diálogo, o conflito de opiniões. E isso se perdeu muito", reforça.

Como dica para buscar um pouco mais de tranqüilidade, Letícia orienta que as pessoas silenciem grupos, evitem assistir determinados vídeos. Em ambos os lados da disputa eleitoral, são baseados em discursos agressivos, que levam ao medo por meio do terrorismo.

"É preciso se afastar e olhar por fora de tudo o que está acontecendo. Deixar a razão sobressair. Já sabemos e conhecemos as nossas escolhas. Precisamos nos respeitar e respeitar o que o outro escolheu".

Também é importante lembrar que, depois do dia 30 a tendência é que o clima ainda leve um certo tempo para ficar mais leve já que um dos lados estará enlutado. 

Mas o mais importante, segundo a profissional é valorizar o que realmente devemos. 

"No fim do processo o que fica mesmo, de verdade, são os amigos, a família e os relacionamentos. Não podemos e nem devemos abrir mão disso por causa da política ou de um candidato ou outro. O momento é de raciocinar como um todo. Coletivamente", finaliza.

O que fazer para tentar relaxar?

Especialistas são unânimes ao afirmarem que nada e nenhum âmbito na vida do ser humano pode ser tão grandioso que tire a própria paz. Deixar refletir negativamente na rotina com a família, nos relacionamentos, no corpo, assim como trabalho, também, não é nada saudável.

Foto: Divulgação

A dica é: ao percebermos que existe algo ultrapassando nossos limites e que nos faz mal, é preciso 'pisar no freio'. Refletir sobre a proporção que o tema tomou é um bom primeiro passo.

Buscar ambientes tranquilos, áreas verdes, praticar exercícios físicos ao ar livre, ouvir música, beber bastante água e ler um bom livro, são excelentes metas de abstração para acalmar os ânimos e seguir em frente com segurança e tranquilidade. Atividades que promovem prazer e distração ajudam a desfocar um pouco do tema.

E lembre-se: tudo o que compõem a vida é importante. Inclusive a política. Mas para que tudo funcione bem, organicamente, é necessário buscar equilíbrio. 

"O que fazer para que isso não me afete? Fazer valer os próprios direitos com coerência, com respeito às ideias contrárias às nossas e o principal: viver a vida plenamente, transitando em todos os cenários que a compõem, sem exageros", conclui Sátina. 

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