Zolpidem: psiquiatras falam dos riscos de remédio que virou moda entre jovens
Casos de sonambulismo gerados pelo Zolpidem são relatados por quem usa a medicação
Destinado para tratamento de curta duração da insônia, segundo bula eletrônica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, dificuldade para dormir em casos eventuais, transitórios ou crônicos, o hemitartarato de zolpidem virou "moda", principalmente entre jovens.
Segundo a médica psiquiatra e membro da Associação de Psiquiatria do Espírito Santo, Letícia Mameri, o fato é que, mesmo para quem sofre com problemas para dormir, a medicação somente poderá ser usada após prescrição médica, indicando tanto a duração do tratamento, quanto a dosagem.
"A dosagem e a duração do tratamento vão variar, com certeza, de paciente para paciente. Primeiro precisa ser identificado qual tipo de insônia esse paciente tem. É uma insônia muito específica. Eu não prescrevo 'Droga Z'. Eu tenho vários outros mecanismos muito melhores para tratar a insônia, diz.
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Entre os efeitos colaterais descritos na bula da medicação estão:
- Piora da insônia;
- Pesadelos;
- Nervosismo;
- Confusão;
- Sensação de vertigem;
- Tontura;
- Falta de coordenação dos músculos;
- Dor de cabeça;
- Sonolência durante o dia
- Perda da capacidade de vigília;
- Fraqueza muscular;
- Visão dupla.
A psiquiatra explica que não é praxe falar sobre os feitos colaterais, descritos nas bulas dos medicamentos. "A gente não costuma falar sobre os riscos/efeitos colaterais que estão na bula de remédio para os paciente porque, se você for ler bula, não toma nem dipirona. A dipirona, por exemplo, é proibida nos Estados Unidos. Não se usa lá. Imagina", conta.
Letícia explica ainda que costuma orientar o paciente quando ele mesmo relata alguns desses efeitos.
"Tirando dor de cabeça, tontura, que são mais simples, esses efeitos qualquer medicação pode dar, mas essas outras coisas que estão aí, isso eu nunca vi. Nenhum paciente relatou que teve isso. Porque às vezes chega paciente aqui, vindo de outro médico, dizendo que já toma", afirmou
A especialista também reforçou a importância do paciente avisar para o médico que o acompanha caso sinta qualquer sintoma que julgue estranho. Com qualquer medicação. "Faço questão, absoluta, de frisar que é necessário isso", destaca.
Relatos sobre efeitos da medicação nas redes sociais
Nas redes sociais, são inúmeros os relatos de jovens compartilhando suas experiências alucinógenas com o indutor do sono.
Mas em meio a comentários de uso indiscriminado, recreativo e em tons despojados, surgem também histórias de pessoas que, mesmo com a indicação do remédio, passaram por situações complicadas.
Entre as mais recentes, o caso de uma mulher que perdeu um dente após usar a medicação para tratamento de insônia. No dia 25 deste mês, ela usou a própria página no Twitter para contar o que viveu e fazer um alerta. Até o início da tarde desta quinta-feira (25), a publicação já soma mais de 15 mil curtidas.
"Tomei zolpidem ontem e tive um surto depois de 2h que ingeri o medicamento. Tô com a cara toda arrebentada, um corte no lábio inferior e também perdi um dente. Não brinquem com os efeitos colaterais desse medicamento", escreveu.
E os relatos não param por aí. No início do mês de agosto desse ano, um estudante realizou uma compra de dois pacotes de viagens para Buenos Aires, na Argentina, no valor de R$ 9,2 mil em meio a alucinações.
O episódio viralizou nas redes sociais com mais de 174 mil curtidas e 5 mil comentários no Twitter.
'Droga Z' pode levar a quadros de dependência quando usado de maneira errada
A dependência está entre os maiores riscos de quem usa o medicamento. De acordo com Letícia, existem casos bastante emblemáticos.
"Eu atendi uma senhora de oitenta e poucos anos dependente de Zolpidem. Toma 12 comprimidos por noite. Por que a gente fala em dependência? É porque a meia-vida dele é muito curta. Dura muito pouco no organismo. Toda medicação em que a meia-vida é muito curta tem uma tendência de levar a uma dependência maior que a de outras", explica.
Médica psiquiatra há mais de 20 anos, Maria Benedita Reis diz que os riscos do uso sem prescrição da chamada 'Droga Z', como o Zolpidem, por exemplo, são vários.
"O uso precisa ser racional. Por curto tempo. Por agir no sistema nervoso central, pode levar, por exemplo, a perda de consciência e a perda do senso crítico. O uso precisa ser racional, por curto tempo. Jamais para uso recreativo. É um medicamento que pode desencadear dependência física e psicológica".
Outros riscos apontados pela médica são: queda em idosos, perda de memória e atitudes impulsivas. Segundo Maria Benedita, há relatos de colegas envolvendo pacientes que tiveram atitudes assustadoras.
Um outro ponto importante está relacionado às interações medicamentosas. "Pacientes com epilepsia e que tomam remédio para a doença correm o risco de potencializar o efeito da medicação. É o caso também de medicações para alergia, analgésicos e até remédios para micose e HIV", pontuou.
E vale lembrar: a automedicação é muito perigosa. Qualquer remédio deve ser usado apenas com prescrição médica. Usar medicamentos sem indicação de um profissional pode levar a quadros hemorrágicos, alterações nos rins ou fígado, além da dependência.
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