Saúde

Morte após queda: o que é traumatismo craniano, o que causa, quais riscos?

A design de joias Juliana Baldi, de 29 anos, morreu no último dia 14 após cair de um cavalo em uma fazenda no Espírito Santo. Médico explica o problema

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Freepik

Um passeio a cavalo com os amigos terminou de maneira trágica em uma fazenda na zona rural de Pinheiros, no Norte do Espírito Santo, no último dia (14). A design de joias Juliana Baldi, de 29 anos, morreu após sofrer uma queda do animal que saiu em disparada. A jovem chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. Juliana teve traumatismo craniano.

"Ela estava cavalgando com amigos e o noivo. De repente, o cavalo disparou e ela não conseguiu pará-lo. Ela caiu e bateu a cabeça, costelas e quadril", contou o cunhado da vítima, Mauro Rossoni .

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Para entender o que é um traumatismo craniano, se é sempre fatal e em quais casos ele pode acontecer, a reportagem do Folha Vitória ouviu um especialista na área. 

Segundo o médico neurocirurgião Paulo Mariano, o traumatismo craniano é referente a qualquer pancada ou trauma que aconteça na cabeça.

"Quando a pancada é muito forte e atinge a parte interna do crânio, atinge o encéfalo, chamamos de traumatismo cranioencefálico, que nós, neurocirurgiões, conhecemos como TCE, é a sigla para traumatismo cranioencefálico", disse.

Maioria dos traumatismos cranianos costumam ser leves

As causas mais comuns dos traumatismos cranianos são os acidentes envolvendo automóveis e motos, agressões físicas e também as quedas, principalmente com idosos e crianças pequenas.

"A pessoa, às vezes, cai, bate a cabeça, isso aí a gente chama de traumatismo craniano. Felizmente, a maioria dos traumatismos cranianos são leves, a pessoa não desmaia, não vomita e não tem nenhuma alteração. Mas as causas do traumatismo são, principalmente, os acidentes", destaca o médico.

Além dos casos considerados leves, existem dois tipos de traumatismo craniano que são considerados mais delicados: o moderado e o grave. Nesse último, a pancada pode até mesmo levar ao surgimento de coágulos e hemorragias dentro do crânio.

"E essa hemorragia, se for volumosa, pode apertar o encéfalo da pessoa e levá-la a óbito. Isso pode ser até rápido, inclusive. Às vezes, a pessoa, em uma, duas horas, com o traumatismo craniano grave, com o sangramento grave, pode morrer", alerta Paulo, que é membro da Cooperativa dos Neurocirurgiões do Estado do Espírito Santo.

De maneira geral, a maioria dos coágulos e hemorragias acontecem na hora do trauma. Porém, existem situações em que os sintomas do problema podem acontecer tardiamente: hematoma extraduralhematoma subdural crônico.

Quando ocorre o hematoma extradural, a pessoa bate a cabeça, chega a ficar tonta mas não desmaia, não vomita e fica acordada. Parece estar relativamente bem. 

"Mas a pancada ocasionou ali uma lesãozinha de uma artéria, e essa artéria vai sangrando, esse hematoma vai aumentando e aí a pessoa, às vezes, depois de duas, três, quatro, cinco horas, pode até entrar em coma se não for feito um diagnóstico com ainda esse hematoma".

O médico relata já ter atendido casos em que o paciente bateu a cabeça, foi dormir e não acordou. "O paciente estava etilizado, estava bêbado, caiu da própria altura, mas estava bem, não vomitou e foi dormir. Só que esse hematoma foi crescendo e o paciente não acordou, chegou no hospital, já em morte encefálica".

Outra situação é o hematoma subdural crônico, mais corriqueiro em pacientes idosos. O mecanismo costuma ser o mesmo. O paciente bate a cabeça e tem uma hemorragia pequena, porém, nesse caso, normalmente é uma veia que se rompe e forma um pequeno sangramento. 

O fato é que o sangramento pequeno acaba aumentando progressivamente, apresentando sintomas depois de alguns dias ou algumas semanas.

"O paciente pode evoluir com uma fraqueza de um lado do corpo, uma dor de cabeça refrataria, e aí você faz uma tomografia e encontra o hematoma subdural crônico", disse.

Quando buscar socorro médico após uma pancada na cabeça?

Alguns pontos precisam ser observados quando uma pessoa sofre um trauma, uma pancada na cabeça. Seja ela de qualquer natureza. Conheça os principais sinais de alerta:

* Perda de consciência;

* Vômito;

* Sonolência excessiva;

* Perda de força de um dos lados do corpo;

* Dificuldade de falar;

* Sangramento pelo ouvido ou nariz.

Agora, se a pessoa bateu a cabeça e não vomitou, não sentiu tontura, permaneceu consciente e reclamou apenas de dor local, segundo o neurocirurgião, "não dispensa para gente nenhum sintoma de gravidade".

No caso de pacientes idosos, depois de uma queda, é importante observar se há queixas de dor de cabeça constante e refratária (não passa com medicação convencional), se há sinais de perda de força de um lado do corpo e se apresenta alguma crise convulsiva.

"Apresentando esses sinais, tanto para o trauma agudo quanto para evolução crônica, é importante procurar um serviço médico de urgência, de preferência, para fazer uma investigação neurológica, normalmente uma tomografia de crânio, que é o exame mais indicado para investigar o trauma de crânio", finaliza.

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