Saúde

Câncer de mama: médica é investigada por afirmar que doença não existe

Em um vídeo publicado em uma rede social, a médica diz ainda que trata-se de "uma inflamação crônica das mamas" e desanconselha o exame de mamografia

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / Instagram

A médica Lana Tiani Almeida da Silva foi denunciada ao CRM-Pará, onde atua, após afirmar em uma publicação feita em sua rede social, que a doença não existe. Além disso, durante a fala, Lana diz que o que acontece é uma "inflamação crônica das mamas", devido ao "cálcio" que se acumula nessa região.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Pará informou que tem conhecimento da postagem no Instagram da Dra. Lana Almeida feito na terça-feira, (29). O fato já está sendo apurado pelo CRM, entidade responsável por regulamentar a profissão médica no país.

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"Esqueça Outubro Rosa. Câncer de mama não existe. Sou a Dra. Lana Almeida, médica integrativa, especialista em mastologia e ultrassonografia das mamas. Por isso venho falar pra vocês que câncer de mama não existe. Então esqueçam o Outubro Rosa, esqueçam mamografia. Mamografia vai causar inflamação nas mamas. Por que eu falo que câncer de mama não existe? Por que simplesmente o que existe é uma inflamação crônica nas mamas, que pode ser inflamação da tireoide, do rim, do fígado, em qualquer lugar. É cálcio nas mamas. Por que o cálcio vai para as mamas? Porque ele sai dos ossos pela desmineralização óssea, pela baixa de testosterona, baixa de hormônio. Testosterona, estradiol e progesterona”.

Antes de encerrar o vídeo, Lana fala em modulação hormonal, oferecendo um tipo de tratamento. No início da tarde desta quinta-feira (31), ao buscar a página da médica no Instagram, o perfil não é mais encontrado. 

O jornalista Sérgio Pavarini fez uma publicação com o vídeo onde diz também que "após a repercussão, ela trancou o perfil no instagram para não receber críticas".


Sociedade Brasileira de Mastologia 

A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) se pronunciou e informou que está preocupada com o aumento no número de notícias falsas que abordam o tratamento e a prevenção do câncer de mama.

A entidade ainda destacou: "Em pleno OUTUBRO ROSA, quando o tratamento e a prevenção do câncer de mama deveriam ser o foco principal de atenção, temos visto com tristeza o surgimento de postagens que afirmam absurdos". 

A SBM, no comunicado à sociedade, fez algumas considerações sobre o que definiu com "tais absurdos". Veja abaixo na íntegra:

i. Câncer de mama não existe: o câncer de mama é a principal neoplasia maligna entre as mulheres brasileiras, sendo responsável por mais de 70.000 novos casos ao ano em nosso país. Menosprezar esta doença é um desrespeito às milhares de vítimas e suas famílias, além de poder causar tratamentos inadequados em mulheres que acabaram de descobrir a doença.

ii. A mamografia causa câncer de mama: a mamografia é a principal forma de prevenção de mortes pela doença. O diagnóstico precoce, obtido pela mamografia, permite a descoberta do câncer em estágios menores, onde as chances de cura são maiores e os tratamentos menos agressivos. 

Estudos comparativos realizados em países europeus e norte-americanos demonstraram que a realização de mamografia anual em mulheres entre os 40 e 75 anos reduz em 20% a 30% a mortalidade do câncer de mama em comparação com mulheres que não realizaram o exame.

iii. Câncer de mama pode ser tratado com o uso de hormônios: o uso de hormônios sexuais (estrógeno, progesterona e testosterona) é contraindicado em casos de câncer de mama, pois estimula o crescimento de células tumorais. 

Inúmeras publicações científicas mostram este efeito e a piora na evolução da doença. Inclusive, a terapia de alguns casos de câncer de mama é feita através de bloqueio destes hormônios, com resultados comprovados na diminuição da mortalidade.

A entidade pontua também que: "o tratamento do câncer de mama teve inúmeros avanços nos últimos anos e que os casos iniciais da doença têm taxas de cura superiores a 95%, utilizando cirurgias que preservam a mama e muitas vezes sem necessidade de quimioterapia".

Ao fim do comunicado, a entidade pede aos órgãos responsáveis que tomem providências.

A reportagem entrou em contato com o número de WhatsApp indicado na página da médica, que não se manifestou.

Sindicato dos Médicos do Pará se pronuncia sobre vídeo

O Sindicato dos Médicos do Pará (SINDMEPA) se posicionou em seu site a respeito do vídeo publicado por Lana Almeida. Em um dos trechos da publicação, alerta para o fato do câncer de mama ser uma condição de saúde séria, responsável por um significativo número de mortes de mulheres.

"O Sindicato dos Médicos do Pará (SINDMEPA) vem a público manifestar sua posição em relação ao recente vídeo divulgado pela Dra. Lana Almeida, no qual a médica afirma que o câncer de mama não existe, contraindica a realização de mamografias e desafia as evidências científicas estabelecidas sobre o câncer de mama.

O SINDMEPA reafirma que o câncer de mama é uma condição de saúde séria e amplamente reconhecida, responsável por um número significativo de mortes entre mulheres. A prevenção e o diagnóstico precoce, especialmente através da mamografia, são estratégias fundamentais e baseadas em evidências para a redução da mortalidade e tratamento mais eficaz da doença".