Saúde

"Coringa 2": o que o filme com Lady Gaga ensina sobre os efeitos da dependência emocional?

A sequência de "Coringa", intitulada "Folie à Deux", traz à tona raro transtorno psiquiátrico compartilhado explorando a dependência emocional entre Coringa e Arlequina

Foto: Reprodução/Divulgação

O lançamento de “Coringa 2: Folie à Deux”, previsto para 3 de outubro, promete dar continuidade ao sucesso estrondoso do filme original de 2019. 

Nesta sequência, o público verá a introdução de uma nova personagem ao lado de Arthur Fleck (Coringa), a famosa Arlequina, interpretada por Lady Gaga. 

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A dupla irá explorar profundamente o conceito do transtorno psiquiátrico raro conhecido como Folie à Deux, ou “loucura a dois”.

Este filme, além de ser uma obra de entretenimento, traz à tona importantes questões sobre transtornos mentais e seus impactos na vida das pessoas. Entre os temas abordados está a dependência emocional, uma condição comum que pode ter consequências devastadoras quando não é tratada adequadamente. 

Aqui, exploraremos o que a “Folie à Deux” nos ensina sobre os perigos dessa dependência emocional, além de refletir sobre o papel dos neurônios-espelho e a influência que uma pessoa pode exercer sobre a outra em relacionamentos tóxicos.

O QUE É A FOLIE À DEUX?

Folie à Deux é um termo francês que, traduzido literalmente, significa “loucura a dois”. Ele descreve uma psicose compartilhada, um raro transtorno mental no qual duas pessoas muito próximas, geralmente um casal ou membros da família, compartilham o mesmo delírio ou ilusão. Em muitos casos, uma das pessoas é a “dominante”, influenciando a outra a adotar suas crenças irracionais.

Esse fenômeno psiquiátrico ocorre em relações de alta proximidade emocional, nas quais um dos indivíduos é mais vulnerável psicologicamente e acaba assumindo a realidade distorcida da outra pessoa. No caso de “Coringa 2”, é possível que o público veja essa dinâmica entre Coringa e Arlequina, com ambos envolvidos em uma relação simbiótica e destrutiva.

Foto: Reprodução

COMO OS NEURÔNIOS-ESPELHO ESTÃO ENVOLVIDOS?

Os neurônios-espelho desempenham um papel importante na forma como aprendemos e entendemos o comportamento e as emoções dos outros. Eles são responsáveis por refletir as ações que vemos em outras pessoas, ajudando-nos a imitar comportamentos e a desenvolver empatia. 

No entanto, em casos extremos, como na Folie à Deux, a ativação exagerada desses neurônios pode intensificar a imitação, levando uma pessoa a absorver completamente as crenças e comportamentos irracionais da outra.

Segundo o Pós PhD em neurociências, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a “Folie à Deux” está intimamente ligada ao funcionamento dos neurônios-espelho. Quando uma pessoa com baixa autoestima e grande insegurança emocional está em um relacionamento de dependência com alguém manipulador, seus neurônios-espelho podem ser ativados em excesso, facilitando a adoção de delírios e ilusões.

Essa dinâmica pode ser vista no relacionamento entre Coringa e Arlequina, que, historicamente nos quadrinhos e agora no cinema, retrata uma relação abusiva onde Arlequina é altamente influenciada por Coringa, absorvendo suas crenças e perdendo sua própria identidade.

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DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

A dependência emocional é um dos principais fatores que contribuem para a Folie à Deux. Este tipo de dependência surge quando uma pessoa se sente incapaz de viver de forma saudável sem a validação e aceitação de outra. Isso resulta em uma submissão emocional, onde a pessoa dependente acaba suprimindo sua própria identidade e adotando a identidade e as crenças da outra pessoa, mesmo quando essas crenças são nocivas ou irracionais.

De acordo com o Dr. Fabiano, pessoas que são emocionalmente dependentes são mais vulneráveis a desenvolverem transtornos como a “Folie à Deux”. Elas têm uma necessidade intensa de aprovação, o que as torna suscetíveis a relações manipuladoras. 

O comportamento da pessoa dominante é espelhado, e, em muitos casos, a vítima pode perder a capacidade de distinguir entre sua própria realidade e a realidade distorcida da outra pessoa.

Esse é um dos pontos-chave no relacionamento entre Coringa e Arlequina. A dependência emocional de Arlequina em relação ao Coringa é explorada em profundidade, especialmente no contexto da psicose compartilhada, o que reflete o quão perigoso pode ser permitir que uma pessoa com transtornos psicológicos controle e domine suas crenças.

Foto: Warner Bros. Games/DC Comics/Divulgação

OS EFEITOS DA DEPENDÊNCIA EMOCIONAL

A dependência emocional, quando não tratada, pode levar a consequências graves. Pessoas que sofrem com essa condição costumam experimentar os seguintes sintomas:

Perda de identidade: Como mencionado anteriormente, a pessoa dependente tende a adotar os comportamentos e crenças do outro, perdendo sua própria identidade. Esse é um dos temas centrais na “Folie à Deux”.

Ansiedade e depressão: A constante busca por validação e o medo do abandono podem causar ansiedade severa. A sensação de não ser suficiente ou de não agradar o outro pode, eventualmente, levar à depressão.

Baixa autoestima: Pessoas emocionalmente dependentes costumam ter baixa autoestima e uma percepção distorcida de si mesmas. Elas acreditam que precisam do outro para se sentirem valorizadas.

Comportamentos autodestrutivos: A dependência emocional pode levar a comportamentos autodestrutivos, como a aceitação de relações abusivas, auto-negligência e até o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como no caso da Folie à Deux.

No filme, esses efeitos são evidentes na dinâmica entre Coringa e Arlequina, onde ambos estão presos em um ciclo de destruição mútua.

Isolamento social: Outra consequência da dependência emocional é o isolamento social. A pessoa dependente muitas vezes corta os laços com amigos e familiares para se dedicar exclusivamente ao relacionamento tóxico. Essa dinâmica cria um ambiente onde o abusador tem ainda mais controle sobre a vítima.

Manipulação e controle: Em muitos casos de dependência emocional, a pessoa dominante usa táticas de manipulação psicológica para manter o controle sobre a outra pessoa. Isso inclui distorcer a realidade da vítima, fazê-la acreditar que suas emoções ou pensamentos são irrelevantes e, em casos mais graves, levá-la a um estado de total submissão.

No contexto de “Coringa 2”, essa manipulação é amplamente retratada, com Coringa exercendo controle psicológico sobre Arlequina, levando-a a cometer atos que, em circunstâncias normais, ela jamais consideraria.

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COMO TRATAR E PREVENIR A DEPENDÊNCIA EMOCIONAL?

O tratamento para a Folie à Deux e para a dependência emocional geralmente envolve separar as pessoas envolvidas e fornecer terapia individual. A psicoterapia pode ajudar o indivíduo a recuperar sua identidade e a aprender a estabelecer limites saudáveis. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicação antipsicótica, dependendo da gravidade do transtorno.

Para prevenir a dependência emocional, é importante manter relações equilibradas e evitar o isolamento social. O apoio de amigos e familiares pode ser crucial para ajudar uma pessoa a reconhecer os sinais de uma relação tóxica. Além disso, trabalhar na autoestima e na autoaceitação é essencial para evitar que alguém se torne emocionalmente dependente de outra pessoa.

Outro ponto essencial é a autoconsciência. Pessoas emocionalmente vulneráveis podem trabalhar em entender melhor seus próprios sentimentos, medos e desejos, para não projetarem todas as suas necessidades emocionais em outra pessoa.

Ao observar a relação entre Coringa e Arlequina, somos lembrados da importância de buscar ajuda psicológica e evitar situações de submissão e manipulação.

Afinal, o primeiro passo para sair de uma relação de dependência é reconhecer que há um problema.

Laísa Menezes, repórter do Folha Vitória
Laísa Menezes

Repórter

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.