ENTREVISTA

Adolescência: "pais devem sempre ter uma comunicação livre e empática"

Na entrevista deste domingo a psicóloga Renata Bedran explica o que é adolescência, características, e dá dicas para se conectar melhor e evitar conflitos

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Acervo Pessoal/Arte: folha Vitória

Não há do que se duvidar: a adolescência é, certamente, uma das fases mais desafiadoras na vida dos pais e também dos filhos. Época marcada por inúmeras mudanças hormonais, além da busca pela identidade e independência. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos, surgem os desentendimentos e, por vezes, "afastamentos" entre as diferentes gerações.

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Estudos da psicologia e neurociência demonstram que, nessa fase, o cérebro do adolescente está em pleno desenvolvimento. Em especial, as áreas responsáveis pelo controle dos impulsos. Tomada de decisões e empatia entram nesse conjunto.

Em parte, isso ajuda a explicar, em parte, o comportamento impulsivo, a necessidade de afirmação e a busca por experiências intensas, características um tanto quanto comuns nessa época da vida.

Mas e os pais? Pois bem. Por outro lado, muitas vezes, os pais sentem dificuldades em entender essas mudanças, afinal, não existe um manual de instrução que ensine a serem pais de adolescentes. É comum que a transição de "filhos obedientes" para "filhos independentes" acabe sendo vista com certo medo e apreensão.

A boa notícia é que é, sim, possível evitar conflitos. Na entrevista deste domingo (17),a  psicóloga Renata Bedran ajuda a compreender a adolescência como um processo natural e necessário de construção da identidade e traz dicas para ajudar os pais a lidarem melhor com os desafios dessa fase. 

Paciência, atenção, empatia e prática da escuta ativa são apenas alguns pontos que podem facilitar o diálogo tornando a travessia por esse período mais harmoniosa.  

Renata Bedran é Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. 

1) O que é a adolescência e qual a faixa etária ela compreende?

Renata Bedran - Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência vai dos 10 aos 19 anos. Para o Estatudo da Criança e do Adolescente, vai dos 12 aos 18 anos, e para os neurocientistas vai dos 12 aos 24 anos.

A adolescência é marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicosocial. É uma etapa da vida compreendida entre a infância e a fase adulta.

É importante entender a diferença de puberdade e adolescência. A puberdade se refere a mudanças físicas provocadas por hormônios. Na menina acontece entre 09 e 10 anos e nos meninos entre 11 e 12 anos. Ou seja, a menina se torna puerbere antes da adolescência.

2) Quais as principais características dos adolescentes?

Os adolescentes passam por uma fase de transição física, emocional e social. Algumas características comuns incluem:

Desejo de independência e autonomia; questionamento de regras e autoridades; curiosidade e experimentação (às vezes levando a desafio de limites); instabilidade emocional (devido a mudanças hormonais); necessidade de aceitação social e pertecimento. 

Entre alguns comportamentos típicos dos adolescentes estão: a busca por novidades e experimentação; a busca por gratidão no cérebro; a impulsividade e o fato de querer correr riscos; pensamentos suicidas; compassividade aflorada; muita empatia; solidariedade e necessidade de engajamento social.

3) Como evitar os conflitos entre pais e filhos adolescentes?

Os adolescentes são intensos questionadores. Se na infância os pais eram as pessoas que eles mais admiravam e tinham como referência, na adolescência eles se abrem mais para o social e pessoas externas se tornam referências. 

Acontece um descolamento da figura parental e uma passagem para entrada no social. O adolescente vai para o mundo. Os pais veêm isso como rejeição, desqualificam os amigos dos filhos, seus gostos musicais. E, quando os adultos os desqualificam, eles buscam os pares ainda mais.

A maioria dos conflitos entre pais e adolescentes surge porque falta aos pais a habilidade de aceitar e respeitar a pessoa única e independente que seu filho esta se tornando. Os pais também precisam fazer luto de ser pais de crianças para começarem a se tornar pais de adolescentes.

Para evitar esses conflitos, os pais devem sempre ter uma comunicação livre e empática. O adolescente precisa se sentir ouvido e respeitado. A necessidade de privacidade e individualidade precIsa ser respeitada.

4) Quais as principais dicas para conversar e se conectar melhor com os adolescentes?

A Adolescência é o resultado da infância. Fatores externos influenciam sim, mas a criança que não teve uma infância respeitosa chega na adolescência mais vulnerável. No entanto, nunca é tarde para atender as necessidades legitimas dos filhos. Nunca é tarde para nos reaproximarmos dos filhos.

Os adolescentes precisam saber que nós somos seus porto-seguros. Para nos conectarmos com eles devemos: exercer uma escuta ativa num ambiente seguro e sem julgamento; considerar sua dependência física, financeira e emocional. 

Deve-se encarar o comportamento desafiador como mensageiro e não como o problema. É importante validar todos os sentimentos e os desafios que eles enfrentam, e mostrar um interesse genuíno na vida deles.

5) Quais os principais erros que os adultos costumam cometer com os adolescentes?

Os pais costumam ser ou muito autoritários ou permissivos, e o ideal seria encontrar um equilibrio saudável. Outro erro é a comparação com outras pessoas, a minimização das suas preocupações e emoções (gerando um distanciamento emocional); o fato de tentar controlar tudo da vida do adolescente sem permitir um pouco de autonomia; e criticar e corrigi-lo constantemente.

6 )Estabelecer regras e limites é fundamental na fase da adolescência?

Sim, estabelecer regras e limites é essencial para fornecer estrutura e segurança. No entanto, essas regras devem ser claras, coerentes e negociadas, quando possível, para que o adolescente se sinta parte do processo.

7) Como ajuda-lo a desenvolver a inteligência emocional?

* Icentive e ajude-o a identificar e nomear as emoções;

* Modele o comportamento emocional saudável;

* Ensine estratégias de regulação emocional, como respiração profunda e meditação;

* Valide os sentimentos do adolescente, mostrando que todas as emoções são válidas e que todos sentimos.

8) Ser exemplo é fundamental?

Sim. Demonstrar coerência entre o que se fala e o que se faz é importante para estabelecer confiança, respeito e admiração. Se os pais mostram habilidades emocionais, responsabilidade e comunicação saudável, o adolescente tende a seguir esses padrões.