Câncer de próstata: "Principal desafio é identificar casos agressivos precocemente"
O urologista Cláudio Ferreira Borges fala sobre a importância de quebrar tabus, os principais avanços nos tratamentos da doença, causas e prevenção
Após a relevante campanha do Otubro Rosa e o trabalho de conscientização sobre o câncer mama, chegou o Novembro Azul com o objetivo de alertar os homens sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de próstata.
Mais que apenas informar a população, a iniciativa tem por objetivo desmistificar tabus que cercam a saúde do homem.
O câncer de próstata figura como o segundo tipo de câncer mais comum entre homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa para 2024 é de mais de 70 mil novos casos no Brasil.
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Porém, a boa notícia é que, quando descoberto cedo, as chances de um tratamento eficaz e de cura aumentam substancialmente.
Além de todo o trabalho voltado para a conscientização individual, o Novembro Azul vem reforçar a importância do acolhimento familiar, afinal, a saúde do homem não é apenas uma responsabilidade dele, mas de todos aqueles que vivem ao seu redor.
Especialistas da área da saúde são unâmimes ao afirmar que ao criar um ambiente onde o diálogo sobre saúde masculina é encorajado, pode salvar vidas.
Na entrevista deste domingo, a reportagem do Folha Vitória ouviu o urologista Cláudio Ferreira Borges que é médico e cirurgião robótico na Rede Meridional. Atua como professor da UFES e coordenador da residência médica e serviço de urologia do Hucam/UFES e realiza atendimento em consultório.
1. O que é e qual a função da próstata?
Cláudio Ferreira Borges - A próstata é uma glândula do aparelho reprodutor masculino, sendo uma das responsáveis pela produção de esperma. Ela costuma pesar em torno de 20 gramas, com aspecto semelhante a uma noz e fica localizada logo abaixo da bexiga.
2. O que é o câncer de próstata e quais os sintomas da doença?
R: O câncer de próstata é a multiplicação anormal de células da próstata com crescimento desordenado e com tendência à disseminação pelo corpo.
Na maioria dos casos precoces, a pessoa acometida não apresenta sintomas, mas com o avanço da doença podem surgir dores pelo corpo, perda de peso, dificuldade para urinar, sangue na urina, entre outros.
3. Quando começar a fazer o exame de rastreamento?
R: Homens a partir de 50 anos, ou a partir dos 45 anos se houver histórico familiar. Devem ir anualmente ao urologista para realizar o toque retal e fazer o exame de PSA no sangue.
4. Qual a diferença do toque retal e PSA?
R: O toque retal é um exame rápido realizado pelo médico com intuito de sentir a consistência da próstata e pesquisar a presença de possíveis nódulos (caroços).
O PSA é um exame de sangue que avalia os níveis do antígeno prostático específico, que pode estar elevado nas alterações da próstata.
5. Quais as causas? É possível prevenir?
R: O maior fator de risco é o histórico de câncer de próstata na família, além da obesidade e o envelhecimento. Trabalhos em vários locais do mundo mostram, ainda, que as populações de ascendência africana têm uma maior propensão a desenvolver a doença e maior risco de desenvolver quadros agressivos.
A prevenção pode ser feita adotando-se hábitos de vida saudáveis com atividade física regular, alimentação equilibrada e combate a obesidade.
6. Como é feito o diagnóstico?
R: Nos casos em que há alteração do PSA ou do toque retal, devem ser realizados exames complementares como ressonância magnética e biópsia da próstata, que irão averiguar a hipótese do diagnóstico.
7. A Urologia tem avançado no diagnóstico e tratamento do câncer de próstata? Como?
R: Sim. Há alguns anos a ressonância magnética foi incorporada na investigação inicial ajudando a reduzir biópsias desnecessárias. Além disso, hoje é possível realizar a fusão da imagem da ressonância no ultrassom para “mirar” de maneira mais precisa no nódulo suspeito.
Outro avanço foi a cirurgia robótica, que proporciona uma maior precisão de movimentos, com imagem de melhor qualidade, permitindo otimizar os resultados do tratamento cirúrgico.
Além disso, hoje sabemos que casos de câncer de próstata de baixa agressividade podem ser tratados de maneira conservadora, evitando-se tratamentos invasivos desnecessários.
8. A inteligência artificial é uma realidade/aliada nesses processos?
R: Vários estudos de pesquisa científica têm sido realizados na tentativa de utilização de inteligência artificial para auxílio na interpretação de imagens de ressonância de próstata e da avaliação da patologia da biopsia com resultados animadores, mas ainda sem disseminação na prática clínica.
9. Na sua avaliação, o que falta para reduzir o número de casos no Brasil? Quebra de tabus, conscientização.
R: O nosso principal desafio nessa doença é identificar casos agressivos precocemente para melhorar os resultados do tratamento visando permitir a cura do maior número de pessoas possível.
Para isso, é importante que a comunidade se conscientize da importância do cuidado de nossa saúde.