ENTREVISTA

Endometriose: uso de anticoncepcionais pode mascarar os sintomas

A ginecologista Anna Carolina Bimbato fala sobre os tipos da doença, infertilidade, como é feito o diagnóstico e a importância do acompanhamento médico

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Arquivo Pessoal/ Arte: Folha Vitória

A endometriose é uma doença crônica e que afeta mulheres em idade fértil. Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia (SBE), revelam que uma em cada dez sofre com o problema no Brasil e 57% das pacientes sentem dores intensas. E um número é preocupante: mais de 30% dos casos levam à infertilidade

Mas o que é a endometriose? Como diagnosticar o problema? De modo geral, consiste na presença do tecido endometrial fora do útero. 

LEIA TAMBÉM:

>> Câncer de próstata: "Principal desafio é identificar casos agressivos precocemente"

>> Alergia grave: pesquisadores criam 1ª caneta de adrenalina brasileira

>> ES lança plataforma integrada de saúde com acesso a histórico do SUS

O endométrio reveste a parte interna do útero e cresce no começo do ciclo menstrual. Ele se transforma após a ovulação para permitir a implantação de um possível embrião (após a fecundação do óvulo) e descama durante a menstruação. No ciclo seguinte, retorna a crescer.

Na entrevista deste domingo, a reportagem do Folha Vitória ouviu a ginecologista Anna Carolina Bimbato. 

A especialista fala sobre os avanços tecnológicos para tratamento e diagnóstico da doença, bem como a atenção aos sinais e a importância das consultas regulares para avaliação ginecológica.

Formada em medicina pela Faculdade de Medicina de Campos (RJ), Anna Carolina fez residência médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória. É especialista em Ginecologia Endócrina e Reprodutiva e atualmente também é a coordenadora da Ginecologia da Bluzz.

1. O que é a endometriose e o que causa o problema?

Anna Carolina Bimbato - A endometriose ocorre quando o tecido semelhante ao endométrio, que normalmente reveste o útero, cresce fora do útero, em locais como ovários, trompas, intestino e bexiga. 

Embora a causa exata seja desconhecida, alguns fatores podem contribuir, como predisposição genética, alterações imunológicas e ambientais, além de menstruação retrógrada, quando o sangue menstrual flui para as trompas e se deposita em outras áreas.

2. Quais os principais sintomas? Existem pacientes assintomáticas?

Algumas mulheres podem ser assintomáticas, sendo difícil o diagnóstico. Os sintomas mais comuns incluem dor pélvica intensa, especialmente durante a menstruação, dor durante as relações sexuais, fadiga, desconforto urinário e intestinal, além de infertilidade.

3. Como é feito o diagnóstico da endometriose?

Durante a consulta o médico pode suspeitar da doença e solicitar exames iniciais como: ultrassonografia e ressonância magnética. 

Porém, o diagnóstico definitivo geralmente é feito por meio de laparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva que permite a visualização direta das lesões e, se necessário, a biópsia do tecido.

4. Existe mais de um tipo de endometriose? Quais são?

Sim, a endometriose pode ser classificada em três tipos principais: endometriose superficial (peritoneal), que acomete a superfície da cavidade abdominal; endometriose ovariana, em que há formação de cistos nos ovários (endometriomas); e endometriose profunda, que pode invadir órgãos próximos, como intestino e bexiga, sendo geralmente a forma mais severa.

5. Endometriose tem cura? Quais os principais tratamentos?

A endometriose não tem cura definitiva, mas há tratamentos eficazes para o controle dos sintomas e melhoria da qualidade de vida. 

O tratamento pode ser medicamentoso, com uso de anti-inflamatórios e hormônios para reduzir os sintomas e a progressão da doença. Em casos mais graves, a cirurgia pode ser indicada para a remoção dos focos de endometriose.

6. O problema está relacionado à infertilidade?

Sim, aproximadamente 30% a 50% das mulheres com endometriose podem ter dificuldades para engravidar. 

Geralmente por causa das aderências e alterações anatômicas nas trompas e nos ovários, dificultando a fertilização. 

Porém, muitas mulheres com endometriose conseguem engravidar, seja naturalmente ou com auxílio de tratamentos de reprodução assistida.

7. A medicina tem avançado em técnicas mais modernas para tratar o problema?

Sim, há avanços significativos. A laparoscopia é uma técnica moderna e minimamente invasiva, que permite um tratamento mais preciso com menor tempo de recuperação. 

Além disso, novas terapias hormonais e estudos sobre biomarcadores para diagnóstico precoce estão em desenvolvimento, com o objetivo de aprimorar o manejo da endometriose.

8. O problema atinge muitas mulheres no Brasil? É verdade que anticoncepcionais podem retardar o diagnóstico?

Estima-se que cerca de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva tenham endometriose no Brasil. O uso de anticoncepcionais pode mascarar os sintomas, como a dor pélvica, e adiar o diagnóstico. 

Por isso, é importante que as mulheres fiquem atentas aos sinais e façam consultas regulares para avaliação ginecológica.

Atenção aos sintomas da endometriose

- Cólicas menstruais intensas;

- Dor pré-menstrual

- Dor durante as relações sexuais;

- Dificuldade para engravidar;

- Dor e sangramento intestinal e urinário durante a menstruação;

Em caso de um ou mais sintomas, procure logo um médico ginecologista para que o diagnóstico seja realizado o mais rápido possível.