Nutricionista fala sobre dietas da moda e riscos de eliminar peso rápido
Antes de dar início a qualquer dieta, é importante procurar ajuda de um profissional
Estamos na era digital, onde tudo acontece tão rápido quanto um piscar dos olhos. É compreensível que as pessoas queiram ver resultados rápidos, inclusive quando se trata de resultados do corpo. Cada vez mais as pessoas têm acesso à informação, principalmente por meio das redes sociais, que ditam cada vez mais "tendências", dietas da moda, e como eliminar peso mais rápido.
De acordo com a nutricionista Heloisi Gonçalves Santos Passos, revistas voltadas para o público feminino trazem cada vez mais informações sobre alimentação, seja na forma de “super alimentos” ou dietas extremamente agressivas e restritivas, ambos visando um emagrecimento rápido, e prometendo ser a solução definitiva. "Um estudo mostra que 78,4% das dietas veiculadas em revistas femininas não científicas eram para emagrecimento, seguido de 13,7% de dietas para estética e 7,9% dietas para doenças."
Para Heloisi, o padrão de beleza traz o corpo magro e torneado com uma mensagem de sucesso, controle, aceitação e felicidade. "Isso leva a homens e mulheres a acreditarem, mesmo que inconscientemente, que se obtiverem tal forma logo, poderão alcançar todos os seus objetivos, ou seja, a perda de peso é a solução de todos os seus problemas. Nesse cenário, as dietas da moda se tornam muito atraentes pois garantem resultado rápido e com grande perda de peso."
Segundo a nutricionista, essas dietas da moda são falhas. "Essas dietas não levam em consideração a rotina e as preferencias alimentares do indivíduo. Além disso, elas costumam ser muito restritivas, não só quando falamos em calorias,, mas também quando se trata de macronutrientes (carboidratos, lipídeos e proteínas) e consequentemente micronutrientes (vitaminas e minerais), o que as tornam impossíveis de serem mantidas por um longo período".
Divisão das dietas da moda
Podemos hoje dividir as dietas da moda nos seguintes grupos: ricas em gorduras e proteínas, e pobres em carboidrato; Pobres ou muito pobres em gordura; jejum intermitente e dietas sem glúten e lactose. "As dietas ricas em gorduras e proteínas, e pobres em carboidratos normalmente se caracterizam por conter menos de 20% de carboidratos (até 100g por dia). São exemplos deste grupo as dietas Atkins, Duncan, Paleolítica e Cetogênica. Por serem ricas em proteínas de origem animal, essas dietas são vistas como preocupante na literatura científica pela presença de gorduras saturados, que se associam ao aumento do Colesterol Total, aumentando os riscos de Doenças Cardiovasculares (Hipertensão Arterial, Infartos do Miocárdio, etc.). Além disso, a restrição das fontes de carboidrato nessas aumentam o risco de deficiências nutricionais entre elas a vitamina A, o Ferro e o Zinco."
De acordo Heloisi, já as dietas pobres ou muito pobres em gordura tem por característica o consumo de moderado de ovos, leites e derivados com pouca gordura (desnatados), vegetais, frutas, grãos integrais, feijão, produtos de soja e pequenas quantidades de açúcar e farinhas. "Essas dietas são comumente deficientes em vitaminas B12, E e Zinco. Elas são capazes de diminuir o Colesterol Total e o LDL (colesterol “ruim”), mas também diminuem os HDL Colesterol (colesterol “bom”) e aumentar os triglicerídeos."
Para quem não sabe do que se trata, o jejum intermitente pode, sem acompanhamento médico, prejudicar a saúde. "O jejum intermitente se apresenta em diferentes protocolos quanto ao tempo de jejum, mas sem um acompanhamento profissional, os riscos de desenvolver deficiências nutricionais é enorme. Em relação à dieta sem glúten em indivíduos que sofrem de doença celíaca, síndrome da fadiga crônica e síndrome do intestino irritável, a exclusão do glúten, por si só, não causa emagrecimento e os benefícios de uma dieta sem glúten em indivíduos saudáveis mostram resultados conflitantes no meio científico. A dieta sem lactose não apresenta nenhuma evidência científica quanto a promoção da perda de peso", disse.
Dietas restritivas
É comum em dietas muito restritivas, com drástica redução de calorias, a médio e longo prazo, levarem a hipovitaminoses, deficiência de minerais, que trazem inúmeros malefícios ao organismo. "É importante ressaltar que as Vitaminas e os Minerais, que ingerimos principalmente em grãos, frutas, verduras, legumes e cereais, fazem parte dos processos fisiológicos do corpo e sem estes, acontecem alterações que podem aumentar o risco de alguns tipos de câncer, comprometer a função imunológica, levar ao surgimento de doenças cardiovasculares, distúrbios ósseos, depressão, fraqueza, fadiga, e muito mais. Além disso, a restrição e/ou excesso de macronutrientes leva a desequilíbrios metabólicos importantes, podendo gerar sobrecarga à órgão vitais como fígado e rins".
Em dietas onde o consumo de carboidrato é limitado e ocorre um consumo em excesso de proteína, esta pode ser convertida em glicose (“açúcar do sangue”) para ser fonte de energia. "A proteína tem papel vital na formação e manutenção de tecidos, entretanto, quando ingerida em excesso pode levar a sobrecarga renal e hepática, decorrente de uma desidratação e perda de tecido muscular", pontuou.
Segundo Heloisi, as dietas com restrição de carboidrato, em sua grande maioria, causam efeitos negativos e não atendem aos requisitos exigidos de uma alimentação saudável para a manutenção da saúde, assim como as dietas líquidas, como a da sopa, que leva a baixa ingestão de macronutrientes e consequentemente a formação de corpos cetônicos, anemia, osteoporose (a longo prazo), hipovitaminoses e deficiência de minerais.
Perda de peso acelerada
A perda de peso acelerada impede a perda de gordura corporal, de acordo com a profissional. "O que se perde de fato é água corporal, e não gordura visceral (que fica entre os órgãos e é a mais perigosa para a saúde pois pode levar a doenças crônicas Não Transmissíveis) e gordura periférica, que é o principal motivo pelo qual um indivíduo começa uma dieta. Nosso corpo é muito inteligente, e qualquer restrição alimentar severa é entendida como uma “situação de perigo”, onde se deve guardar energia para o futuro e a melhor forma de guardar energia é na forma de gordura, então, na lista de prioridades para gastar energias de reserva, a gordura está em último lugar. Somente a perda de peso lenta e gradual, baseada em reeducação alimentar e na prática de atividade física, é capaz de reduzir a gordura corporal e promover mínima perda de massa magra, levando ao sucesso do tratamento."
Alimentação saudável deve fornecer água, carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas, minerais e fibras, que são essenciais ao funcionamento do organismo. "Cada indivíduo é diferente, com necessidades nutricionais diferentes, sendo assim, é imprescindível o acompanhamento com nutricionista, pois somente este profissional é capacitado para adaptar sua dieta ao seu estilo de vida e necessidades. Este profissional pode ainda indicar as melhores estratégias a serem utilizadas para alcançar os objetivos do paciente, lançando mão de protocolos low carb, jejum intermitente e tantos outros. A diferença é que, ao utilizar esses protocolos, o nutricionista irá respeitar as necessidades calóricas e nutricionais do indivíduo, e adequar a ingestão de macro e micronutrientes, eliminando os riscos de deficiências nutricionais."
Lado emocional
Comer é mais do que um ato de nutrição, é também um ato emocional e social. "Dietas muito restritivas não nos privam só de macro e micronutrientes, elas nos privam de vivenciar todas as emoções que um alimento ou uma refeição pode nos proporcionar e nos limitam, na grande maioria das vezes, nas nossas interações sociais, o que não faz bem a nossa saúde emocional e mental. Quando exageramos e engordamos 5Kg em uma semana, por exemplo, não estamos ganhando tudo isso em gordura, uma boa parte disso é retenção de líquido."
Então, antes de entrar na "armadilha" das dietas da moda pense “eu quero perder peso ou eu quero ganhar saúde?” Se você procura a saúde, então invista nela. "Procure um nutricionista, um educador físico e se cerque de pessoas que tenham o mesmo objetivo. A jornada para uma vida saudável não envolve perfeição (a dieta perfeita, o paciente perfeito), envolve consistência, comprometimento e evolução", finalizou Heloisi.