Saúde

O vírus da gripe H3N2 é mais perigoso? Tire suas dúvidas

Assim como o H1N1, o H3N2 é um subtipo do vírus Influenza A. As diferenças entre eles ocorrem por mudanças nas proteínas de superfície

Foto: Divulgação

Notícias sobre a mutação do vírus Influenza H3N2 não param de circular. A possibilidade dessa nova forma do vírus escapar da vacina contra Influenza fez com que muitas pessoas se perguntassem se essa nova cepa é mais perigosa. 

A reportagem do jornal online Folha Vitória procurou especialistas para tirar essa dúvida, e a reposta é: não exatamente. 

"Dizer que o vírus seja mais perigoso, não acho que é o termo correto. A vacina das campanhas anteriores não cobre, ou não estimula o sistema imunológico para se proteger da melhor maneira contra esse vírus e, por isso, ele vai causar gripe. Mas não significa que ele seja mais poderoso, ele só é um organismo diferente", disse o doutor em epidemiologia, Daniel Gomes. 

Entenda o que é o H3N2

Assim como o H1N1, o H3N2 é um subtipo do vírus Influenza A. As diferenças entre eles ocorrem por mudanças nas proteínas de superfície – hemaglutinina e neuraminidase.

"Embora mais de 130 combinações de subtipo de influenza A tenham sido identificadas na natureza, principalmente de aves selvagens, existem potencialmente muito mais combinações de subtipo de influenza A, dada a propensão para o 'rearranjo' do vírus. O rearranjo é um processo pelo qual os vírus da influenza trocam segmentos de genes", esclarece o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Vacina não oferece proteção completa contra nova cepa

O professor Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) em Botucatu, ressalta que as vacinas usadas hoje no mundo ainda não conferem proteção completa contra este tipo específico de H3N2.

"O H3N2 que está circulando é o que a gente chama de variante Darwin, não é o H3N2 que está na vacina da gripe atual. A vacina atual talvez dê uma imunidade cruzada baixa ou moderada. Então, isso explica porque quem foi vacinado pode, eventualmente, ter quadros de gripe por esta cepa", disse. 

Vacina é fundamental

Ainda segundo o especialista, mesmo não oferecendo proteção completa contra o novo vírus, é fundamental receber a vacina contra influenza. "Os não vacinados ainda têm mais chance de se infectar e ter quadros graves. Tivemos um índice muito baixo de vacinação contra influenza", explicou.

Vírus que está por trás do aumento de casos de gripe não é novo

O vírus começou a circular com mais intensidade no hemisfério norte nos últimos meses, o que levou a OMS (Organização Mundial da Saúde) a incluí-lo, em setembro, nas recomendações para atualizações das vacinas contra influenza para 2022 no hemisfério sul.

O Influenza Research Database, um banco de dados global com informações sobre os tipos de vírus da gripe já identificados, mostra que a cepa H3N2 foi coletada pela primeira vez em 1999 na Austrália e teve o genoma submetido ao GenBank em 2008.

Os sintomas mudam?

Muitas pessoas que pegaram gripe recentemente relataram sintomas intensos, como febre alta e um quadro de extrema indisposição.

Barbosa explica que, independentemente do tipo de cepa, estes são sintomas característicos da infecção pelo influenza, principalmente em quem não se vacinou.

"O influenza em geral dá um quadro muito agudo, súbito, de mal-estar, febre alta, prostração, é uma sensação bem intensa. Muitas vezes o paciente fala que parece que vai morrer. [Causa] uma apatia muito grande, a pessoa fica largada, não consegue sair da cama. É diferente da Covid, que é um pouco mais lenta no começo. Também dá dor no corpo, mas não derruba tão rápido quanto a influenza."

Ele acrescenta que a febre costuma ser mais alta do que a da Covid-19, além de os pacientes apresentarem adinamia, que é a falta de força muscular.

Quais são os cuidados necessários contra o vírus?

Por ser um vírus respiratório, assim como o que causa a Covid-19, a prevenção do influenza ocorre da mesma forma: com distanciamento físico entre as pessoas, uso de máscara e higiene das mãos.

O afrouxamento das medidas restritivas nos últimos dois meses é apontado por pesquisadores da Fiocruz como um dos fatores que contribuíram para a epidemia de gripe no Rio de Janeiro e que pode se alastrar nas próximas semanas.

Em caso de qualquer sintoma gripal, Barbosa afirma ser importante buscar um serviço de saúde.

"Primeiro, porque precisa excluir [a possibilidade de ser] Covid. Segundo, porque, principalmente na rede privada, existe essa possibilidade de painel viral [para identificar o vírus específico que o infectou] – existem testes rápidos na rede pública, mas não diferenciam qual tipo de influenza é."

Diferentemente da Covid-19, a gripe tem um antiviral aprovado e que pode ser usado: o oseltamivir.

Ao confirmar que se trata de infecção por influenza, o médico pode lançar mão desta droga nas primeiras 72 horas desde o início dos sintomas.

"Ele diminui o tempo de sintomas e a gravidade. É indicado para grupos de risco: idosos, pessoas com comorbidades e gestantes."