Saúde

Messi é ou não é autista? Entenda essa história

Com a Copa do Mundo, e o protagonismo do atleta argentino, essa 'tese' voltou a circular. As primeiras histórias relacionadas a esse fato começaram a surgir em 2013

Foto: Reprodução / Associação de Futebol Argentino

O modo muitas vezes mais reservado e sem tantas demonstrações de emoção com que o craque Lionel Messi, 35 anos, costuma se manifestar ao longo de sua trajetória no futebol, sempre levou a vários questionamentos e repercussões nas redes sociais. Entre eles, um ganhou espaço na imprensa mundial: a de Messi ser autista.

Com a Copa do Mundo, essa ‘tese’ voltou a circular. Vale lembrar que as primeiras histórias em torno desse assunto começaram a surgir em 2013.

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Para entendermos o motivo é importante fazer um rápido apanhado da campanha do atleta em campo. Independentemente das inúmeras vitórias no Barcelona, Clube Espanhol, acredita-se que os fracassos com a seleção Argentina levaram o eleito melhor jogador do mundo seis vezes, a um grande incômodo. Desconforto! Vale lembrar que das quatro finais vestindo a camisa 10, não ganhou nenhuma.

Na verdade, nenhuma até o dia 18 de dezembro de 2022, quando disputou a final da Copa do Mundo no Quatar e levou para a casa o título tão esperado por ele e por milhares de argentinos.

O que diz o especialista?

Para o neuropediatra Thiago Gusmão, a história do atleta ser autista não procede. “A história não tem nenhum meio médico, laudo que confirme o diagnóstico, então, é uma informação que não é verídica”.

O especialista também falou a respeito das características do autismo nível 1, atribuído ao atleta.

“As características do autismo nível 1, de suporte, o autismo dito antigamente pela classificação dito leve, hoje a gente diz de suporte, é uma criança que muitas vezes atrasou e recuperou a linguagem de uma maneira mais rápida ou muitas vezes nem teve atrasos significativos na quantidade de palavras, apenas, talvez na qualidade desse discurso, mas que cursa com inteligência de um nível de QI mediano ou até mesmo um nível de QI alto, com altas habilidades”, disse.

Mas é importante destacar que esse mesmo indivíduo apresenta ainda outras características, dessa vez, relacionadas à alguns prejuízos na área comportamental, como a dificuldade de interagir socialmente, por exemplo.

Também no mesmo âmbito, o médico pontua aqueles comportamentos que se destacam por serem muito restritos e repetitivos e que se manifestam nas atividades rotineiras, ditas do dia a dia, como nas brincadeiras e interesses dessa criança, adolescente ou adulto.

“A parte da timidez, da introspecção, a parte da dificuldade do vínculo, de iniciar e manter uma conversa, a dificuldade muitas vezes de ter aquela sensação de pertencer ao grupo, a auto-confiança, a autoestima pode ser uma característica sim, evidente no prejuízo da interação social dos jovens, adolescentes e até mesmo crianças com o transtorno do espectro autista”.

Principais características do TEA

Para explicar as características do Transtorno do Espectro Autista, o neuropediatra faz uma divisão em três grandes áreas.

De acordo com Gusmão, trata-se de prejuízos, dificuldades, déficits da comunicação tanto da parte vocal (A fala propriamente dita e também não vocal. Gestos e  interpretações de mímica facial).

“Então, uma comunicação verbal, vocal e não vocal tem um prejuízo seja na quantidade ou também qualidade dessa forma que a criança está falando, associada ao segundo ponto: aos prejuízos, dificuldades na interação social no meio da família, da escola, no lazer, dificuldade de muitas vezes de pertencer ao grupo”.

O especialista destaca que crianças com TEA apresentam dificuldade de obedecer um não e de muitas vezes iniciar uma conversa. Tem ainda o modo de olhar, o de  permanecer brincando, a dificuldade de ouvir atenta aos chamados e a apatia diante deles. Todos esses pontos são muitas vezes características dessa dificuldade de interação social.

Já a terceira área, está diretamente ligada aos comportamentos ditos repetitivos e restritos. 

“Muitas vezes podem ser de comportamentos que se repetem de maneira muito frequente, tipo balançar as mãos, andar de um lado para o outro, andar na ponta do pé, alguns comportamentos muitas vezes com o corpo que se repete ou até interesses restritos, por algum desenho, filme, repete várias vezes algum gesto, alguma atividade que gostou, mania de organização, sempre fazer daquela mesma forma determinados caminhos, trajetos, brincadeiras, enfileirar, pontua Thiago Gusmão.

Diagnóstico tardio é cada vez mais comum

Ao contrário de tempos atrás, é cada vez mais comum acontecerem diagnósticos classificados com tardios. Para o especialista, essa realidade vem principalmente pelo fato da alta difusão de informações sobre o tema e dos critérios diagnóstico.

“Os médicos estão mais atentos a pensar no diagnóstico do TEA, que não é justificado apenas por um deficit de atenção, uma hiperatividade, uma timidez, uma introspecção, uma depressão, uma alteração de humor, que na verdade é um quadro que se arrasta desde da infância precoce. Um quadro que caminha com dificuldades sociais na adolescência e também na vida adulta, fazendo um diagnóstico muitas vezes tardio”, destaca. 

Vale lembrar que esses históricos não têm início na vida adulta. Existe uma história prévia de muitas ou poucas dificuldades desde a fase da infância, da fase escolar, nos grupos sociais da adolescência e também na parte do trabalho e nos vínculos emocionais da vida adulta.

Como é feito o diagn´óstico

Segundo a Ph.D em Neurociências, Mestre em Psicanálise e Neuropsicóloga especialista no tratamento de diversos transtornos, Roselene Espírito Santo Wagner, o diagnóstico do autismo é realizado ainda na primeira infância, pois os sintomas podem ocorrer antes dos 3 anos.

“O diagnóstico é clínico, observacional, feito por um médico especialista, através dos relatos dos pais sobre o comportamento da criança e observação desta em diferentes ambientes. Podendo ser solicitado exames complementares específicos”, explica.

Rosilene ressalta que é importante observar padrões comportamentais. Entre eles: 

1. padrões incomuns de fala;

2. falta de contato visual;

3. não responder quando chamado pelo nome;

4. desenvolvimento tardio das habilidades de fala;

5. dificuldade em manter uma conversa;

6. repetição de frases ou palavras;

7. dificuldade em compreender os sentimentos dos outros e expressar os seus;

comportamentos repetitivos ou incomuns.

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