Sentir raiva diariamente leva o organismo a um estado de estresse frequente, podendo aumentar a pressão arterial e os batimentos cardíacos, prejudicando a saúde do coração. A explicação é do cardiologista Schariff Moysés.
Segundo ele, em casos graves, a raiva pode causar até mesmo um infarto e AVC. “Por isso, é importante você se conhecer, entender o que causa raiva em si mesmo e gerenciar este sentimento, para tentar evitar situações que causam raiva ou mudar a forma como se sente diante da situação”, alertou Moysés.
Suzana Pacheco Avezum, psicóloga e diretora executiva do Departamento de Psicologia da SOCESP Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, responde sobre o tema.
– A raiva desencadeia quais as reações orgânicas no nosso organismo?
A raiva é uma emoção básica e natural de todo ser humano. Ela é desencadeada após um evento de contrariedade e de frustração, mas também como efeito de uma ofensa injusta e desmedida. Sem julgamentos de certo e errado, a raiva é um mecanismo de defesa. Ela em si, não causaria malefício algum ao organismo, entretanto, uma pessoa raivosa, aquela que vive constantemente irada, enraivecida, acaba sofrendo os efeitos que essa emoção desencadeia no corpo.
– Como a raiva afeta o coração e a pressão arterial?
Os mecanismos fisiológicos que explicam como a raiva afeta o coração e a pressão arterial se dão pelo impacto que as substâncias geradas pelas células causam nesses órgãos cardiovasculares: alterações importantes no tecido celular
– A raiva estimula a produção de hormônios responsáveis pelas reações de defesa, como a reação de ataque, de luta, de agressividade, ou de fuga. Imagine o corpo sendo bombardeado vezes seguidas por essas substâncias, o que poderia acontecer?
Certamente esse coração, e consequentemente, a pressão arterial sofrerão com isso. Por exemplo: existem estudos que mostram uma associação da raiva com o diabetes: pessoas mais raivosas tendem a desenvolver o diabetes
– Quais os efeitos da raiva no organismo?
No nível mental e emocional, os efeitos são igualmente danosos porque essa pessoa não consegue ser feliz. Nós vivemos em um corpo que não é perfeito, vivemos com pessoas que não são perfeitas, o trabalho não satisfaz plenamente, a vida amorosa e familiar tem altos e baixos, sempre estamos expostos a situações que nos frustram. Nesse sentido, a sensação de insatisfação e frustração podem gerar essa emoção que chamamos de raiva.
Os danos na vida mental e emocional são sentidos e comprovados pelo constante estado de mal-estar. São aquelas pessoas que chamamos de mal-humoradas, ranzinzas, bravas. Pode trazer como consequência um afastamento das pessoas, dificuldade nos relacionamentos interpessoais e sociais.
– É possível aprender a gerenciar a raiva?
Podemos aprender a gerenciar o que causa a raiva. Cada um tem o seu gatilho, mas um dos mais comuns seria a dificuldade em lidar com a frustração. Uma vez que conseguimos identificar os focos geradores da raiva – e isso é individual – podemos tentar aprender a evitar as situações que causariam aquele sentimento.
– Como deve ser a nossa postura em relação aos episódios que desencadeiam a raiva?
Uma postura mais positiva perante a vida, perante o outro é uma possibilidade. Poder aceitar que nada é perfeito, que a frustração pode ser um excelente aliado da vontade de viver e progredir, que pode ser vivida como combustível para sempre tentar novamente.
Outra ideia, pode ser aprender aceitar certas coisas que são imutáveis, aprender a não brigar com a vida, aprender que também se pode ser feliz mesmo quando as coisas não são do jeito que nós gostaríamos. Podemos aprender a relevar quando alguém nos contraria, de tal forma que a raiva deixa de ser uma reação corriqueira e recorrente.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia de São Paulo (Socesp).