O setor odontológico no Brasil tem passado por grandes transformações nos últimos anos, especialmente devido à expansão do ensino superior privado e ao crescimento do número de profissionais no mercado.
Diante dessa contestação, a colunista do Saúde em Fórum, Alice Sarcinelli, discutiu os impactos dessa expansão e os desafios enfrentados pelos profissionais da odontologia, juntamente, com a equipe que fez o relatório CAGED Saúde – publicado neste mês.
Confira minhas principais observações relevantes para o setor:
Mais dentistas, mais competitividade?
Nos últimos dez anos, a abertura de novas faculdades de odontologia impulsionou um aumento expressivo no número de cirurgiões-dentistas no Brasil. No entanto, esse crescimento nem sempre se reflete na ampliação do acesso aos serviços odontológicos para a população.
A maior parte dos brasileiros ainda depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber atendimento odontológico, e a concentração de dentistas nas capitais e regiões metropolitanas dificulta o acesso de comunidades mais afastadas aos cuidados necessários. Além disso, a remuneração dos dentistas varia bastante entre municípios, o que influencia a distribuição desigual de profissionais pelo país.
Interiorização dos serviços odontológicos é um desafio real?
A interiorização dos serviços de saúde, incluindo a odontologia, enfrenta dificuldades como:
- Baixa atratividade salarial em cidades menores.
- Falta de infraestrutura adequada para atendimento odontológico.
- Poucas oportunidades de educação continuada fora dos grandes centros.
Muitos profissionais acabam se estabelecendo em capitais e grandes cidades, onde há maior oferta de cursos de especialização e pós-graduação, além de melhores condições de trabalho. Isso cria um desequilíbrio na distribuição dos dentistas, com uma alta concentração em determinadas regiões e carência de profissionais em outras.
Qual o papel das políticas públicas para melhorar a saúde bucal no SUS?
O fortalecimento dos serviços odontológicos no SUS poderia ser uma solução para essa desigualdade. Atualmente, a maior parte do atendimento odontológico público ocorre na atenção primária, gerida pelos municípios. No entanto, a falta de financiamento e a instabilidade orçamentária dificultam a ampliação desses serviços.
Programas de saúde bucal têm recebido mais atenção recentemente, mas é preciso que haja políticas públicas consistentes e de longo prazo para incentivar a fixação de dentistas em cidades menores, seja por meio de incentivos financeiros, capacitação profissional ou programas de interiorização.
E o papel da odontologia no futuro da saúde?
A odontologia tem evoluído não apenas em número de profissionais, mas também na adoção de novas tecnologias e abordagens de atendimento. O uso de big data, a teleodontologia e os tratamentos personalizados têm se tornado cada vez mais comuns, trazendo benefícios tanto para os profissionais quanto para os pacientes.
Entretanto, para que esses avanços sejam acessíveis a toda a população, é necessário um esforço conjunto entre governo, universidades e iniciativa privada. A interiorização dos serviços odontológicos não deve ser vista apenas como um desafio, mas como uma oportunidade para garantir um atendimento mais equitativo e eficiente em todo o país.
O mercado odontológico continuará a crescer, mas a grande questão é: como garantir que esse crescimento seja equilibrado e que beneficie toda a população? Esse será um dos grandes temas para discussão nos próximos anos.