A arteterapeuta Rozana Cenachi traz na bagagem uma história cheia de lutas e vitórias contra o câncer. Ao longo dos seus 42 anos de idade, já enfrentou duas vezes a doença. Atualmente, ela está em um novo combate: passa pelo terceiro tratamento oncológico.
Apesar de receber a notícia mais de duas vezes, Rozana conta que os diagnósticos não a deixaram desesperada.
“Cada diagnóstico não foi desesperador, foi como o primeiro. Eu não senti em nenhum momento aquele desespero, tristeza profunda ou depressão. Eu nunca encarei o câncer como algo ruim, porque ele só me trouxe benefícios”.
Ela foi uma das participantes e modelo do projeto “Você é Única”, criado pelo cabeleireiro Dirceu Paigel. O objetivo é promover uma interação entre mulheres que venceram e lutam contra o câncer. Na ocasião, as mulheres passaram por um dia de beleza e ainda participaram de uma sessão de fotos.
As descobertas
O primeiro câncer foi descoberto em 2018. Primeiro, um furúnculo apareceu no braço esquerdo, em seguida, surgiu uma mancha e um nódulo na mama. Ao notar essas mudanças no corpo, Rozana procurou um médico, passou por exames e precisou fazer uma biópsia que confirmou o câncer de mama.
Já em 2020, durante acompanhamento médico, a arteterapeuta descobriu que a doença havia migrado para outro local do corpo. Desta vez, o pescoço. Agora, em 2022, outro tumor abaixo da clavícula foi descoberto.
Atualmente, Rozana prossegue com o tratamento oncológico, a quimioterapia, e segue firme superando esse outra etapa. Apesar das dificuldades, não se sente abalada. “É um recomeço de vida. Estou conduzindo muito bem, o câncer não afetou o meu psicológico, graças à Deus. Consegui ressignificar todas as fases do processo”, disse.
A arte como terapia
A arte chegou na vida de Rozana ainda em 2018. Foi quando conheceu uma ONG chamada Associação de Apoio no Combate ao Câncer (AACC), que trabalha com mulheres em fase de tratamento da doença e oferece aulas de artesanatos.
“Eu não tinha vocação nenhuma, eu não sabia fazer nada, lá eu aprendi a fazer uma bonequinha e me apaixonei. Hoje eu faço essas bonequinhas para presentear e vendo. Eu me joguei na arte”, destacou.
Durante o envolvimento com o artesanato, conheceu o Centro de Vivência Casa Rosa onde começou a estudar arteterapia. Trata-se de um espaço voltado à inclusão produtiva por meio do desenvolvimento de atividades e práticas integrativas aos pacientes do SUS em tratamento de câncer.
“O meu envolvimento com a arte foi o meu remédio com essas práticas complementares e o artesanato foi algo que me sustentou. Claro que, primeiramente Deus, a minha fé, meu esposo e a arte”, conta.
Respeite Minha Cicatriz
Por amor e dedicação ao artesanato, Rozana criou o próprio projeto, o “Respeite Minha Cicatriz“. A ação tem o objetivo de conscientizar e empoderar mulheres em fase de tratamento, além de informar a sociedade para acabar com os preconceitos.
“Por trás de uma cicatriz, existem histórias de dores e de superação e ele veio em forma de arte para trazer mais leveza. Ao ver aquele coração, a minha cicatriz, eu vejo que é somente uma cicatriz que já passou, o período de dor já passou“, explicou.
A autoestima
Um dos desafios durante o tratamento oncológico para uma mulher, é manter a autoestima em dia. Porém, a quimioterapia nunca afetou Rozana negativamente e nem mesmo a relação afetiva com o marido.
“Até me gosto careca. Para mim, a careca, o peito e o pescoço cortado, nada disso me afetou. A única coisa que me afeta são as reações da quimioterapia. Não tirou a minha identidade, pelo contrário, eu me sinto linda careca ou não careca, meu esposo fala que sou linda, se meu esposo me acha linda e eu me acho também”.
Segundo ela, o apoio do marido desde o início de todos os tratamentos foi fundamental e a ajudou a manter-se se sentindo confiante.
“Quando o parceiro te ama, te aceita do jeito que você está com duas deformações físicas, fica melhor, porque ele te valoriza e você acaba se valorizando. É um casamento tanto dele quanto meu”, ressaltou.
O apoio familiar
Por ser natural do Estado do Pará, Rozana veio para o Espírito Santo para realizar exames em busca do primeiro diagnóstico. Ela conta que a cidade natal não tem recursos suficientes para o tratamento.
E dentro de tantos desafios, foi exatamente isso o que mais a abalou. Saber que teria que ficar longe das suas irmãs e dos seus familiares, afinal sua mãe já não está mais viva. “Foi a pior sensação que eu tive no diagnóstico”, falou.
“Não foi uma sentença de morte, o chão não se abriu, não tive essas reações. A única reação que tive de tristeza foi de estar longe da minha família, porque eu sou do Pará”, revelou.
A arteterapeuta lembra que recebeu muito apoio. Amigos e parentes fizeram uma campanha virtual. “O pessoal do Pará, colocando turbante na cabeça e me enviando fotos. Eu me senti muito abraçada por todos, não tinha como eu me sentir de outra forma, sempre reagi bem aos diagnósticos”, contou.
A vida continua: lutas diárias e muito aprendizado
Durante esses anos lutando contra o câncer, Rozana sempre se manteve corajosa e determinada. O sorriso no rosto é uma de suas armas para vencer sempre. Ela afirma que toda a sua vida mudou após os diagnósticos.
“O que eu trago para minha vida é muito aprendizado. Aprendizado em todos os sentidos. Não que isso tenha mudado o meu caráter, mas isso tem me ensinado a ser melhor. Melhor no sentido para mim, de me valorizar mais, viver mais intensamente, viver o hoje, estudar, conhecer, principalmente adquirir conhecimento, esse é o meu foco“, afirmou.
Um dos seus desejos é mostrar tudo o que aprendeu. Poder compartilhar o conhecimento e o acolhimento vividos durante os tratamentos e que até hoje recebe nas associações. Por isso, ela se interessou em estudar mais.
“Fui buscar estudar para passar para as mulheres o que eu recebi. Eu vejo o quanto que as mulheres precisam de um abraço, um carinho e tudo isso que tenho passado só me trouxe aprendizado”, disse.
Por toda a experiência vivida, Rozana aconselha, apoia e participa de projetos como o do Outubro Rosa para passar mais informações para todas as mulheres. Diante disso, a arteterapeuta preza pelo autoexame.
“Levante o braço e faça o autoexame, se toque, toque no pescoço, na virilha, na mama, toque em tudo, porque um dos cânceres eu descobri assim. O meu terceiro câncer, eu descobri me tocando“, revelou.
*Texto de Gabriela Vasconcellos, aluna de Jornalismo da 1ª Residência da Rede Vitória, sob supervisão da editora Ana Carolina Monteiro