Saúde

Obstrução intestinal ou prisão de ventre? Entenda o diagnóstico de Jair Bolsonaro

Com a falta de necessidade de cirurgia, internautas desconfiam que o presidente pode estar sofrendo com prisão de ventre. Veja a diferença entre os problemas

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Desde a última quarta-feira (14) o estado de saúde do presidente Jair Bolsonaro, que estaria enfrentando uma obstrução intestinal, ganhou destaque. De acordo com os médicos, não se trata de um caso cirúrgico. Diante desse diagnóstico, muitas pessoas começaram a acreditar que o problema dele seria, na verdade, fezes presas.

Embora possa parecer algo factível para alguns, o gastrocirurgião e endoscopista Eduardo Grecco, esclarece que são condições diferentes. 

“Suboclusão é o trajeto, o intestino que está tendo uma obstrução parcial. Constipação não tem nada a ver com o trajeto, com o intestino, diretamente. Tem a ver com as fezes, e a eliminação das fezes”, explica.

Ele salienta ainda que “a constipação é quando a pessoa tem fezes formadas, mas que ficam mais endurecidas, e aí ela demora, dois, três dias para evacuar”.

“Na prisão de ventre, a pessoa fica com os gases parados. É uma situação em conjunto, mas por uma questão alimentar. Quando você dá um laxante para a pessoa, ela evacua e melhora. O quadro de suboclusão dele [Bolsonaro] é diferente.”

Veja o que pode ter causado a obstrução intestinal do presidente

A obstrução do intestino do presidente pode ter sido causada por duas razões, aponta o especialista.

Formação de aderências na parede do intestino: algo comum em pessoas que já tenham passado por cirurgia no órgão, como é o caso dele. Trata-se de uma junção das paredes do intestino em um processo de cicatrização, levando a um estreitamento.

Hérnia: Em abril, Bolsonaro chegou a dizer para apoiadores que precisaria fazer uma cirurgia ainda neste ano, justamente, para a correção de uma hérnia. “Eu tenho uma tela aqui na frente, está saindo o bucho pelo lado, então tem que botar uma tela do lado”, afirmou.

Essas alterações, de aderência ou de hérnia, podem causar no intestino o que os médicos chamam de angulação.

Tratamento sem cirurgia

A equipe médica do presidente não informou detalhes sobre o que provocou a suboclusão intestinal, mas optou por um tratamento inicial sem intervenção cirúrgica.

Isto significa o uso de alguns medicamentos, como anti-inflamatórios, antibióticos e remédios que estimulam o esvaziamento do intestino, mas não laxantes, explica Grecco.

“[Agora, é] Repouso do órgão total, [tem que] ficar em jejum, é passada uma sonda para ajudar a desobstruir, para aliviar o sistema. [Também há] Medicações, anti-inflamatórios, deve entrar com antibiótico, para melhorar esse processo todo e observar a evolução dentro de 12 a 24 horas.”

Ao reintroduzir a alimentação, os médicos vão ver se o intestino voltou ao normal. Caso o presidente volte a sentir desconforto, a única opção será a cirurgia.

Soluços podem ter causado a obstrução intestinal. Entenda:

Bolsonaro começou ter soluço, segundo ele, 24 horas por dia nas últimas duas semanas. Na opinião de Grecco, é possível que esse sintoma tenha relação com a obstrução parcial do intestino.

Uma vez que a comida não consegue descer completamente através do intestino delgado, há acúmulo de líquido e acidez no estômago, o que causa o refluxo. Um dos sinais do refluxo gastroesofágico é o soluço, por vezes parecido com arrotos.

Leia mais: Soluço persistente: entenda o caso do presidente Jair Bolsonaro

Como seria a cirurgia?

Se a equipe optar pela cirurgia, seja uma hérnia ou aderência, o procedimento é feito por videolaparoscopia, que consiste em pequenos cortes na barriga e uso de câmera e pinças.

“Precisa ver se houve herniação, que é a saída de um pedaço para outro, uma espécie de torção intestinal. Aí é só destorcer isso. Mas pode ser alguma área que realmente está obstruída, que houve alguma aderência. Neste caso, tira aquele pedacinho que está com problema e junta de novo”, explica o gastrocirurgião.

O especialista acrescenta que o prognóstico para esse tipo de caso costuma ser “muito bom”, tendo em vista que o paciente tem tempo para o preparo cirúrgico, com o esvaziamento do intestino. 

Bolsonaro evolui, mas segue sem previsão de alta

De acordo com o último boletim divulgado pela equipe médica, o presidente Jair Bolsonaro teve uma evolução considerada satisfatória e já está sem a sonda nasogástrica. 

Apesar da melhora, ele segue sem previsão de alta do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde está internado desde a noite da última quarta-feira (14), após diagnóstico de obstrução intestinal.

Os médicos já descartaram cirurgia de emergência e há previsão de começar a alimentação a partir desta sexta-feira (16).

“Conforme consta no Boletim Médico n.° 3, o Senhor Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, segue internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, mantendo evolução clínica satisfatória. Desta forma, foi retirada a sonda nasogástrica e planeja-se o início da alimentação para amanhã. O Presidente segue sem previsão de alta hospitalar”, afirma o boletim.

Recuperação tem sido acima do esperado, diz general Heleno

O presidente, de 66 anos, foi transferido para o hospital paulista na tarde de quarta-feira (14), depois de dar entrada na madrugada do mesmo dia no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, com fortes dores abdominais. Antes de sua transferência para São Paulo, Bolsonaro foi diagnosticado com um quadro de obstrução intestinal.

Bolsonaro está sob os cuidados de seu médico particular, Antônio Luiz Macedo, responsável por operá-lo em 2018 após a facada da qual foi vítima em compromisso de campanha na cidade de Juiz de Fora (MG).

*Com informações do Portal R7