Seja para estudos, trabalho ou diversão, os dispositivos eletrônicos se tornaram indispensáveis à vida moderna.
A Geração Z (nascidos entre meados dos anos 1990 a 2010) e, a atual geração, chamada de Alpha, já nasceu imersa na tecnologia. Porém, como tudo demais é sobra, o uso excessivo das telas na infância pode trazer inúmeros prejuízos à saúde física e mental a médio e longo prazo.
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A pediatra Grazielle Grilo certifica que crianças de 0 a 2 anos de idade não devem ser expostas às telas nem mesmo de forma passiva, ou seja, sem que o desejo parta da criança.
Segundo ela, nessa faixa etária, o cérebro infantil está em pleno processo de neurodesenvolvimento, pois é nessa fase que ocorre a interação com o ambiente e com as pessoas e, por conseguinte, a criança desenvolve as habilidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais.
“Frequentemente são registrados casos de bebês com atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem após serem expostos passivamente às telas por um período prolongado. O estímulo intenso proporcionado pelos dispositivos interferem negativamente na capacidade de atenção e de espera contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento de comportamentos marcados pela impulsividade, hiperatividade, baixa tolerância à frustração, irritabilidade e estresse”, explicou a médica, da Unimed Sul Capixaba.
Uma missão quase impossível
A assistente de Educação Infantil Rosangela Bonfim é mãe de Arthur, de 4 anos, e afirma que o primeiro contato do filho com o celular e com a televisão aconteceu antes da criança completar 2 anos.
Para ela, permitir a utilização dos dispositivos tão precocemente foi a única saída para que a criança se mantivesse entretida durante o período em que ela precisava realizar suas tarefas domésticas.
“Atualmente é muito difícil limitar o uso dos dispositivos pelas crianças. Ainda mais durante a pandemia, em que a única forma de deixá-las ocupadas era oferecendo a tela de um celular ou deixando em frente à televisão durante horas seguidas. Agora, com o retorno a normalidade, Arthur passa grande parte do dia na escola, mas não nego que, em casa, ele ainda passa a maior parte do tempo em frente à TV”, disse Rosangela.
Menos telas, mais saúde
A médica Grazielle Grilo também destaca a atualização recente do manual criado pela Sociedade Brasileira de Pediatria denominado de “Menos tela, mais saúde”.
O documento garante que se o uso das telas não for regulado, haverá sérios impactos no comportamento e no estilo de vida das crianças até a fase adulta.
Outra consequência, segundo a Grazielle, a médio ou longo prazo, é a predileção por atividades que exijam menos esforço e, em consequência disso, há uma diminuição da capacidade criativa e crítica da criança ou adolescente.
A pediatra orienta as famílias a resgatarem os hábitos dos passeios a céu aberto que foram perdidos durante a pandemia.
“Com o uso excessivo das telas, inúmeras atividades que poderiam ser realizadas na infância estão sendo perdidas. O ideal é que as famílias promovam encontros sociais e estimulem as crianças e adolescentes a realizarem atividades físicas em conjunto como correr, pular, desenhar, pintar […] só assim é possível criar oportunidades de vivências sensoriais e memórias afetivas”, afirma a médica.
Dificuldade de lidar com o ócio
A psicóloga Lívia Entringer afirma que o uso excessivo das telas faz com que a criança ou adolescente tenha dificuldade de lidar com o ócio e com o tédio devido a hiperestimulação do cérebro durante o uso dos equipamentos.
“O tédio faz parte da vida, não está o tempo todo acontecendo coisas que geram distração. Inclusive, é na hora do ócio que a criatividade começa a se manifestar. É nesse momento que os pensamentos começam a aflorar e as crianças utilizam a imaginação. Atualmente, os pais tem a sensação de que eles precisam deixar os filhos ocupados e distraídos o tempo todo mas isso não é uma verdade”, explicou.
Lívia também destaca que estamos vivendo a chamada era da produtividade onde há uma demanda extrema por produção e uma dificuldade de lidar com os momentos de mais tranquilidade.
Cuidado com os conteúdos que estão sendo consumidos
Outro alerta da psicóloga ´é em relação ao conteúdo ao qual as crianças são expostas. Para Lívia, há muitos conteúdos que são prejudiciais ao desenvolvimento da autoestima das crianças e dos adolescentes já que é nessa fase que é desenvolvida o senso de competência e a autoconfiança.
Além disso, outro fator agravante é que nessa faixa etária o cérebro ainda não está totalmente formado e, por isso, a capacidade de discernir e avaliar os conteúdos consumidos ainda não está completamente desenvolvida.
Impacto no sono
Lívia Entringer orienta que os pais estabeleçam uma rotina para que o fim do dia seja mais tranquilo, sem que haja muita estimulação do cérebro por meio das luzes emitidas pelas telas e também pelas luzes do ambiente.
O objetivo é obter um sono adequado e restaurador pois, segundo a psicóloga, o sono possui um papel importante no aprendizado, memória e na saúde física e mental, como um todo, das crianças e adolescentes.
Dependência tecnológica
A psicóloga afirma que ainda é difícil estabelecer os limites entre o que é vício e o que é uma utilização saudável dos aparelhos devido a naturalidade atribuída ao uso dos dispositivos durante o dia inteiro e em todos os momentos, como na mesa do jantar ou em uma roda de amigos.
“Um aspecto importante é avaliar se existe uma perda de controle e uma mudança de comportamento da criança ou adolescente em decorrência da tirada do equipamento”, explicou.
Lívia Entringer também reitera que todos os conteúdos das plataformas digitais são pensados para que que a pessoa do outro lado da tela se mantenha vidrada e concentrada.
“Tudo é preparado para que fiquemos o maior tempo possível em frente à tela. Então, é realmente difícil se desvincular pois cada joguinho, desenhos ou vídeos no Youtube ou Tik Tok proporcionam sensações imediatas de prazer e, por isso, há sim uma possibilidade de causar certo tipo de dependência”, esclareceu a psicóloga.
Exemplo e coerência
Por fim, Lívia Entringer assegura que quanto mais tempo a criança ou adolescente passa frente ao celular, tablet, computador ou televisão a tendência é que ela se torne mais ansiosa, impulsiva e irritada devido a hiperestimulação do cérebro.
O ideal, para ela, é que os pais deem o exemplo e também diminuam o uso desses dispositivos para que o recado para criança seja coerente com as atitudes e valores dos responsáveis e, desse modo, diminuem-se os questionamentos e os limites passam a ser facilmente respeitados.
Confira os principais problemas decorrentes do uso excessivo das telas na infância
1- Dependência digital;
2- Problemas de saúde mental: irritabilidade, ansiedade e depressão;
3- Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade;
4-Transtornos do sono;
5- Transtornos de alimentação: sobrepeso/obesidade e anorexia/bulimia;
Sedentarismo;
6- Bullying & cyberbullying;
7-Transtornos da imagem corporal e da autoestima;
8-Problemas ligados a sexualidade como nudez, sexting, abuso sexual e estupro virtual;
9-Comportamentos autolesivos, indução e riscos de suicídio;
11- Problemas visuais como a miopia;
12- Problemas auditivos;
13-Transtornos posturais e músculo-esqueléticos;
*Texto da estagiária Nayra Loureiro com supervisão da editora Erika Santos