Na terça-feira, 15 de outubro, a Secretaria de Estado da Saúde publicou nota comunicando o rompimento do contrato de trabalho com o Instituto de Gestão Humanizada (IGH)– responsável pela administração do Hospital Estadual Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha. Apesar da Secretaria informar que mesmo com o fim do contrato, o atendimento no hospital segue normalizado, a realidade contada por pacientes é outra.
Algumas pessoas que aguardavam por cirurgias e consultas na terça-feira (15), alegam ter sido informadas que alguns procedimentos foram desmarcados em função da mudança da administração do hospital. Mas, a negativa em relação ao atendimento no Himaba para alguns pacientes é frequente há meses.
Situação recorrente
Um exemplo é o caso de Yasmim Borges Dias, de 11 anos. Há três anos ela faz acompanhamento e tratamento no Himaba. Yasmim sofre de Déficit de Atenção, faz o uso do medicamento Ritalina e precisa se consultar com um neuropediatra mensalmente.
Em junho deste ano, a mãe de Yasmim, Camila Silva Borges, fez contato com o Folha Vitória informando a situação. A Sesa foi consultada e na época informou por meio de nota que “Himaba possui ambulatório com três neurologistas que atendem quatro vezes na semana, sendo segundas e terças-feiras às 13h30, quintas-feiras às 14h30 e sextas-feiras 13h”.
Também informou que “por mês o ambulatório disponibiliza 93 atendimentos entre retornos e primeiras consultas, todo o processo de marcação é feito pelo Sistema de gerenciamento do Ministério da Saúde (SISREG), onde o primeiro atendimento é agendado pela unidade básica de saúde, já às consultas de retorno são agendadas exclusivamente por telefone”.
Retorno
Após o contato do Folha Vitória, a consulta de Yasmim foi marcada. Contudo, nesta quarta-feira (16), sua mãe informou que não consegue o retorno da consulta. “Vocês marcaram, eu fui lá e ela foi atendida. A médica pediu o retorno para três meses, já voltei lá e não consigo mais. Toda semana eu vou atrás da marcação da consulta e eles dizem que a agenda está cheia”, disse Camila.
Segundo ela, desde o final do ano passado o hospital não tem dado condição de atendimento por causa da ausência de médicos neuropediatras. Além disso, Yasmim também não consegue consulta com o médico endocrinologista. “Os recepcionistas dizem que a agenda ainda não abriu. Dizem também para deixar o contato telefônico para marcar e avisar, mas isso nunca ocorre”, questionou a mãe de Yasmim.
Segundo Camila, devido o impasse, Yasmim está sem o remédio (ritalina) e vem sofrendo dificuldades nas atividades diárias e escolares pela sua condição. “É só ir no hospital que as pessoas vão ver vários pais na fila reclamando da falta de atendimento. Não é só comigo ou com a Yasmim”, disse Camila, que devido as condições atuais do hospital, teme não conseguir a consulta para a filha.
Situação Himaba
De acordo com a Secretaria de Estado de Controle e Transparência (Secont), o rompimento do contrato ocorreu devido a suspeita de irregularidades por parte da Organização Social de Saúde (OSS), responsável pela administração da unidade, e apontou a possibilidade de R$ 38 milhões em danos aos cofres públicos.
De acordo com o texto, entre as suspeitas de irregularidades encontradas, estão o superfaturamento de contratos, a realização de pagamentos indevidos, o gasto excessivo com viagens e a não-realização de glosas contratuais.
Déficit de Atenção: entenda o problema
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade atinge cerca de 4% da população adulta, segundo a Organização Mundial de Saúde. A doença se manifesta na infância, e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM) lista alguns sintomas que nos indicam o diagnóstico, que pode ser confundido com sintomas da impulsividade.
1. Não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades;
2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, como conversas ou leituras prolongadas;
3. Parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente, parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia;
4. Não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho. Costuma começar as tarefas, mas rapidamente perde o foco e o rumo;
5. Tem dificuldade para gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos;
6. Frequentemente, evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, como trabalhos escolares ou lições de casa. Em caso de adolescentes mais velhos e adultos, a dificuldade está no preparo de relatórios, preenchimento de formulários ou revisão de trabalhos longos
7. Perde coisas necessárias para tarefas ou atividades, como materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos ou celular
8. Com frequência, é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados)
9. Com frequência, é esquecido em relação a atividades cotidianas, como realizar tarefas e obrigações. No caso de adolescentes e adultos, o desafio está em retornar ligações, pagar contas ou manter horários agendados.