Saúde

Pesquisadores da Ufes criam técnica com IA para diagnosticar Parkinson pela voz

Sintomas da doença, segundo pesquisadores, começam pela voz em 9 em cada 10 casos

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) criou uma técnica para diagnóstico precoce da doença de Parkinson. Com Inteligência Artificial, a ferramenta diferencia os sinais de voz de uma pessoa saudável e de uma pessoa com a doença.

Segundo os pesquisadores, em 90% dos casos os sintomas da doença começam pela voz. Portanto, com a técnica, será possível realizar os diagnósticos de forma precoce, no sentido de iniciar o tratamento e reduzir os efeitos da doença no cotidiano das pessoas.

LEIA TAMBÉM:

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo diagnosticadas com Parkinson. No Brasil, o número estimado equivale a 200 mil casos confirmados.

O estudo é vinculado ao mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Ufes (PPGEE), realizado pelo aluno Peter Garcez e orientado pelo professor Patrick Ciarelli.

Me interessei por aplicações biomédicas do processamento de sinais, em especial para identificação de doenças neurodegenerativas, pois tais doenças acometem membros da minha família. O uso de sinais de voz para identificação da doença de Parkinson é uma área de pesquisa ainda incipiente, de desenvolvimento recente, em especial no Brasil, onde não há ainda bancos de dados públicos para tal investigação”, explicou Peter Garcez.

Sintomas

O pesquisador explica que os sintomas motores do Parkinson, como tremor em repouso, lentidão nos movimentos, demência e outros mais comuns, costumam surgir em estágios mais avançados da doença. Por outro lado, os sintomas vocais são os primeiros a surgirem em cerca de 90% dos casos.

“Assim, ferramentas de auxílio ao diagnóstico baseadas em sinais de voz podem permitir a identificação precoce da doença, indicando ao médico a presença do Parkinson em estágios iniciais, antes do surgimento dos sintomas motores. Além disso, podem auxiliar no acompanhamento remoto da doença, evitando visitas clínicas de pacientes cuja locomoção já esteja comprometida”, detalhou.

Os resultados alcançados foram surpreendentes, superando alguns trabalhos relevantes da literatura recente. Foram identificados os atributos extraídos do processamento de sinais de voz que são mais relevantes para a identificação da doença, contribuindo para a compreensão dos parâmetros vocais mais afetados.

Futuro

O próximo passo é desenvolver um banco de dados brasileiro, de preferência regional, para investigar a identificação da doença de Parkinson a partir de vozes de nativos de língua portuguesa, disponibilizando-o publicamente para o fomento da pesquisa ao nível mundial.

É durante o doutorado também que a fase de testes com seres humanos pretende ser iniciada, após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Ufes. “Temos um acordo com uma neurologista pesquisadora do ambulatório da Ufes em Maruípe, ela vai nos possibilitar acesso a pacientes com Parkinson”, afirma Garcez.

A pesquisa é vinculada ao Laboratório de Computação e Sistemas Neurais (LabCisne) da Ufes e recebe financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Carol Poleze, repórter do Folha Vitória
Carol Poleze

Repórter

Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Graduada em Jornalismo e mestranda em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).