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Analgésico, antitérmico, anti-alérgico, antibiótico e anti-inflamatório. Esses, são alguns dos medicamentos que as pessoas costumam guardar em casa para utilizar em momentos de necessidade. Mas, você já imaginou que pode fazer um grande mal à saúde ao ingerir um remédio sem prescrição de um médico ou especialista?
Este foi o caso da Elaine Fabris de 36 anos, que descobriu ser alérgica à substâncias como ácido acetilsalicílico, dipirona, cetoprofeno e ibuprofeno. “Tomei esses remédios para tratar dores musculares e cólica. Ingeri em diferentes momentos e todas as vezes tive alergia. Meus olhos incharam até fechar, ficou difícil de respirar e precisei imediatamente tomar um anti-alérgico”, contou. Após descobrir a alergia aos medicamentos, Elaine sempre olha a composição dos remédios antes de ingeri-los e informa aos médicos na hora da prescrição.
O servidor público municipal, Frederico Rafael dos Santos, de 38 anos, também já passou por uma situação complicada. Formigamento, manchas vermelhas pelo corpo e inchaço. Essas foram as reações após tomar um anti-alérgico para tratar uma irritação na garganta. “Já cheguei a tomar três medicamentos que estavam guardados em casa e nunca tive problema. Mas, este me deu alergia e precisei correr para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA)”, disse Frederico.
Eles não são os únicos a consumirem medicamentos por conta própria. Elaine e Frederico fazem parte dos 79% dos brasileiros com mais de 16 anos de idade, que têm o hábito de se automedicar, segundo revela uma pesquisa do Instituto de Ciência Tecnologia e Qualidade (ICTQ). Entre pessoas de 25 a 34 anos, esse índice chega a 91%. “No Brasil, os medicamentos são o principal agente causador de intoxicação em seres humanos”, alerta o médico Luiz Monteiro, presidente da Associação Brasileira das Empresas Operadoras de PBM (Programa de Benefício em Medicamentos).
Ainda de acordo com a pesquisa realizada em 16 capitais brasileiras, envolvendo 2.340 indivíduos, entre as capitais estudadas, Brasília é a primeira do ranking da automedicação (66%), seguida de Vitória e Salvador (59%), Natal (55%) e João Pessoa (53%).
Riscos da automedicação
A farmacêutica e gerente geral da Rede de Farmácias de Manipulação Mônica, Olga Martins, diz que entre os medicamentos mais utilizados para a automedicação estão os analgésicos e os antibióticos. A farmacêutica alerta que muitas pessoas ignoram as sérias consequências que o uso descontrolado de alguns remédios pode provocar. “Mesmo remédios que não tenham a necessidade de uma receita médica oferecem riscos à saúde das pessoas, se consumidos de forma abusiva. Os efeitos colaterais que eles podem provocar também variam de pessoa para pessoa, sendo mais graves para uns do que para outros”.
De acordo com a ginecologista e obstetra Anna Bimbato, a automedicação pode agravar as doenças. Além disso, existe o risco da combinação errada de substâncias. “Você já usa uma medicação e toma outra por conta própria, isso pode anular ou potencializar o efeito dessa medicação. Um exemplo é quem faz o uso de anticoncepcional e precisa tomar antibiótico, o efeito da pilula pode perder a eficácia com essa combinação”. A médica alerta ainda sobre a importância de conhecer o histórico do paciente antes de prescrever uma medicação.
“Conheço o caso de uma paciente com dengue que usou paracetamol por dias, muito mais do que o recomendado, para tratar as dores e fez uma lesão de risco no fígado. Ela precisou ser internada e foi o excesso da substância que provocou o quadro clínico. Logo o paracetamol, que é utilizado com frequência e que as pessoas acham que não tem problema”, disse Bimbato.
Confira o áudio da médica sobre os riscos da automedicação:
O farmacêutico da Rede de Farmácias Mônica, Sérgio Gama Junior, ressalta que uma vez que determinado medicamento foi prescrito ele não deve ser utilizado numa ocasião futura sem consulta médica, porque os sintomas entre as doenças podem ser confundidos: uma tosse pode estar presente em um quadro alérgico, em um quadro de pneumonia ou em uma doença do refluxo, por exemplo. Ao agir assim, existe o risco do paciente deixar passar uma doença mais importante, tratando o real problema de forma tardia, com risco de complicações.
Crescimento da venda de medicamentos
Um exemplo que reforça o crescimento da automedicação entre os brasileiros é o aumento na compra de medicamentos, principalmente em meio a pandemia, quando muitas informações à respeito de remédios que podem “prevenir ou curar” a covid-19 surgem.
O gerente comercial e farmacêutico da Rede de Farmácias Mônica, Renato Vitchesky, conta que tem observado um aumento na compra de medicamentos acima de 300%, como de analgésicos, antitérmicos e vitamina C.
“O problema inicial é de desabastecimento dessas medicações no mercado, principalmente na segunda quinzena do mês de março, por causa da epidemia. Tivemos falta principalmente do paracetamol e precisamos limitar a venda desse medicamento.
Ouça a explicação do farmacêutico:
PESQUISA
De acordo com dados da Funcional Health Tech (empresa líder em inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde), a comercialização do paracetamol registrou um aumento de 123,2% em uma semana. O estudo que foi realizado com 230 mil beneficiários de empresas clientes da companhia, que consumiram neste ano em mais de 40 mil farmácias e drogarias brasileiras, mostra o impacto da covid-19 na venda de medicamentos de 16 a 22 de março de 2020.
As vendas de antigripais demonstraram crescimento de 58,4%, sendo que no mesmo período em 2019 (mês de março) esse aumento foi de 9,8%. Já a comercialização da hidroxicloroquina aumentou 67,9%, depois de ser apontada, em alguns ensaios clínicos, como possível tratamento contra o novo coronavírus. Enquanto isso, a venda de remédios que contém Ibuprofeno caiu 52,4% após a circulação de notícias alertando sobre eventuais riscos na utilização deste medicamento em caso de suspeita de covid-19.
TELEVENDAS
O crescimento das vendas também pode ser o reflexo da facilidade na compra de medicamentos atualmente. As empresas já disponibilizam aplicativos de entregas de remédios e pedidos online e whatsapp. Para a gerente de Manipulação da Mônica, Olga Martins, é possível prestar o serviço de maneira segura e eficaz.
“A empresa deve exigir a prescrição do medicamento. Quando o cliente tem dúvida, ele precisa de orientação, por isso é importante disponibilizar o teleatendimento, que é quando um especialista esclarece as dúvidas e orienta a respeito da automedicação. O farmacêutico é um profissional com conhecimento e que poderá também orientar quando há necessidade de buscar ajuda médica”, destacou Olga Martins.
Confira o vídeo: