O câncer ainda é uma palavra que provoca medo em muitas pessoas, mas é essencial entender que, com o avanço da ciência, essa doença é tratável e, em muitos casos, curável.
No entanto, o medo de receber um diagnóstico de câncer pode levar ao atraso na busca por atendimento médico, o que reduz significativamente as chances de cura.
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Estudos realizados no Brasil evidenciam os fatores que contribuem para esses atrasos, especialmente no contexto de cânceres como mama, colo do útero e colorretal.
Diagnóstico de câncer: medo está entre os motivos
O medo de enfrentar a realidade de um diagnóstico de câncer é um dos principais motivos pelos quais as pessoas evitam consultar médicos ou realizar exames preventivos.
Esse temor, combinado com barreiras sociais e econômicas, perpetua o atraso no diagnóstico, o que resulta em tratamentos iniciados tardiamente e em piores prognósticos.
Um estudo realizado no Rio de Janeiro revelou que cerca de 34% das mulheres com câncer de mama adiaram a consulta médica por mais de 90 dias após perceberem os primeiros sintomas.
Entre os fatores associados a esse atraso estavam baixa frequência de exames ginecológicos, ausência de histórico familiar de câncer de mama e renda inferior ao salário mínimo.
Demora para buscar atendimento médico
Outro estudo no Distrito Federal encontrou resultados semelhantes: 34% das pacientes demoraram mais de 90 dias para procurar atendimento médico, com a falta de mamografias nos dois anos anteriores ao diagnóstico e níveis mais baixos de educação diretamente relacionados ao atraso.
Esses dados reforçam que, além do medo, a falta de informação e acesso aos serviços de saúde são barreiras críticas.
Barreiras semelhantes em outros tipos de câncer
O problema do atraso no diagnóstico não é exclusivo do câncer de mama. No caso do câncer do colo do útero, a maioria das pacientes no Brasil é diagnosticada em estágios avançados (estágios II-IV), sendo que 68% possuem apenas oito anos ou menos de educação formal.
Os principais motivos para não realizarem o exame preventivo de Papanicolau incluem falta de interesse, vergonha, desconhecimento e dificuldades de acesso aos serviços de saúde.
Os desafios no diagnóstico de câncer colorretal
Já no câncer colorretal, atrasos no início do tratamento estão associados a fatores como idade superior a 50 anos, baixa escolaridade e necessidade de tratamento em cidades distantes da residência do paciente.
Esses fatores refletem desigualdades socioeconômicas e barreiras logísticas que comprometem a detecção precoce e o tratamento adequado.
O cenário no Espírito Santo e a busca por soluções
No Espírito Santo, os desafios para o diagnóstico precoce de câncer não são diferentes.
Pessoas que vivem em áreas rurais ou regiões periféricas enfrentam barreiras como falta de acesso a exames preventivos e baixa escolaridade.
No entanto, o Estado tem potencial para mudar essa realidade. Programas de rastreamento e campanhas educativas podem ajudar a desmistificar o câncer e incentivar a busca por diagnóstico precoce.
Hospitais e centros de saúde podem ampliar o alcance de campanhas educativas que desmistifiquem o câncer e incentivem a busca por diagnóstico precoce.
Programas como rastreamento do câncer de mama e colo do útero, oferecidos no SUS, devem ser intensificados, especialmente em regiões com maior vulnerabilidade social.
Além disso, parcerias com universidades, como a Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo), podem impulsionar estudos regionais para entender melhor os fatores que contribuem para os atrasos no diagnóstico e propor soluções.
Superando o medo e construindo esperança
Embora o câncer seja um diagnóstico desafiador, ele não é uma sentença de morte. Muitos tipos de câncer, como mama, próstata, colo do útero e pele não melanoma, apresentam altas taxas de cura quando diagnosticados precocemente.
A ciência tem avançado significativamente, proporcionando tratamentos mais eficazes e menos agressivos.
No Espírito Santo, é essencial unir esforços entre o governo, instituições de saúde e a comunidade para superar as barreiras que impedem o diagnóstico precoce.
Educar a população, melhorar o acesso aos serviços e desmistificar o câncer são passos fundamentais para reduzir o impacto do medo e salvar vidas.
O câncer é uma vírgula na história de muitos pacientes, e não o ponto final.
Com informação, acolhimento e ciência, podemos transformar o medo em coragem e construir um futuro onde todos os capixabas tenham acesso ao cuidado que merecem.
REFERÊNCIAS
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